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Máfias italianas unem-se para atingir Jogos Olímpicos do próximo ano
Segundo um relatório da Direção Investigativa Anti-Máfia de Itália (DIA), os Jogos Olímpicos de Inverno de 2026, que serão organizados em Milão e Cortina, estão na mira de vários grupos mafiosos. Estes propõem enterrar o machado de guerra e colaborarem em conjunto para defraudar o Estado italiano.
Michael Carbone, diretor da DIA, apresentou um relatório no Parlamento italiano sobre a atividade das organizações criminosas, a sua estratégia e a forma como as suas operações afetam os grandes projetos do país, tentando dominar áreas como os serviços ou a construção civil, tendo deixado de lado as guerras territoriais.
Segundo o documento, a Cosa Nostra, da Sicília, a Camorra, de Nápoles, e a ’Ndrangheta, da Calábria, estão a formar alianças: abandonaram as rivalidades históricas e começaram a colaborar para expandir a sua influência não apenas no sul de Itália, mas também no norte e centro do país.
O relatório da DIA mostra que estas famílias «demonstraram um interesse crescente em controlar as obras públicas e em gerir os recursos económicos das autoridades locais, nomeadamente no caso dos hospitais e dos serviços de saúde».
O procurador de Milão está a investigar uma rede criminosa que atua como hidra de várias cabeças e, segundo o L'Espresso, «catalisa e gere os recursos financeiros, relacionais e operacionais dos grupos Camorra, 'Ndrangheta e Cosa Nostra, através de uma ligação estável de associação».
Além das comunidades locais, Michael Carbone afirma que as organizações mafiosas também voltaram a sua atenção para as grandes obras, apoiadas pela União Europeia através do Fundo de Recuperação pós-COVID de Itália (PRR).
Os projetos visados, nos quais a máfia pretende infiltrar-se, são o da enorme ponte que ligará a Sicília ao continente e as construções planeadas para os Jogos Olímpicos de Inverno de 2026.
Jogos Olímpicos de Inverno em risco: qual é o modus operandi da máfia?
Concretamente, no caso do grande evento desportivo que está programado para se realizar em Milão e Cortina, entre 6 e 22 de fevereiro, a DIA identificou um interesse crescente da máfia em envolver-se nas obras de construção, sejam parques de estacionamento subterrâneos ou outros projetos.
«A infiltração da máfia pode estender-se para além da fase de adjudicação dos contratos. Na verdade, as empresas vencedoras são forçadas a subcontratar atividades a empresas afiliadas à atividade criminosa, como o aluguer de veículos, o fornecimento de materiais de construção, o trabalho de campo, a vigilância das zonas de construção e o transporte de resíduos», refere o relatório da DIA.
«Não raramente, o aumento da vocação económica é combinado, especialmente nas regiões onde existe uma maior presença empresarial e mais trocas financeiras, com a determinação de alguns empresários em fugir aos impostos. Estes tendem a enganar as regras da livre concorrência e a ignorar os comportamentos fiscais corretos. Assim, as multas resultantes do abuso de poder destes são cobertas por faturas fictícias...», diz-se ainda.
A DIA alerta também para o salto tecnológico que estas organizações deram, passando a utilizar dispositivos encriptados e procedimentos digitais sofisticados para lavar dinheiro. Além disso, estão em constante comunicação com membros da organização que estão presos e que «dão diretivas ou planeiam atividades ilegais ou tráfico de droga dentro das prisões».