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Mundial: «Há um novo Diogo, mais consistente, com mais treino e mais cabeça»
Até onde conseguirá chegar Diogo Ribeiro no Mundial de Singapura-2025? Em que condições se apresentará depois de, no Nacional Open de Portugal, disputado em abril, e mesmo tendo estado um mês sem poder treinar com os braços — correndo o risco de ter de ser operado —, ter-se mostrado veloz. Nível que veio a confirmar no final do mês passado ao sagrar-se campeão Europeu sub-23 em Samorin (Eslováquia) de 50 livres e 50 mariposa e prata nos 100 mariposa sem estar no máximo de forma.
No 22.º Mundial de Singapura, terceiro no currículo do olímpico do Benfica, tentará defender os títulos de 50 e 100 mariposa conquistados há ano e meio em Doha-2021 que espantaram o País.
Mas, pelo meio terá vivido, provavelmente, a maior frustração da carreira nos Jogos de Paris-2024. Diogo, de 20 anos, diz ter aprendido com o momento e sente-se hoje psicológica e fisicamente, está mais pesado do que nunca devido à massa muscular que entretanto adquiriu, mais forte e para enfrentar os desafios… e as desilusões.
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Foi sobre expectivas e transições que conversou com A BOLA à partida para Macau, onde, juntamente com Diana Durães (800 e 1500 livres), também do Benfica, efetuará uma semana de estágio de adaptação ao fuso horário e aclimatação juntamente o treinador de ambos no CAR Jamor Samie Elias, com o DTN Ricardo Antunes, o fisiologista e preparador físico Igor Silveira e o fisioterapeuta Daniel Moedas. Até que todos se reúnem, em Singapura, com Camila Rebelo (Louzan, 100 e 200 costas) e Francisca Martins (Foca, 200 e 400 livres), que estão nas Universíadas Rhine-Ruhr-2025, na Alemanha, para as provas que decorrem entre o próximo dia 27 e 3 de agosto.
— Quando, há ano e meio, partiu para Doha-2024, assumiu que iria lutar pelas medalhas do Mundial. Foi até a primeira vez que o disse abertamente. Está com capacidade de fazer o mesmo agora para Singapura-2025?
— Não estou a pensar em medalhas, nem estou a pensar em finais. Só quero melhorar os meus tempos, acima de qualquer outra coisa. Sei que se melhorar os meus tempos vou estar a lutar por outras coisas.
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— Para apostar nas quatro provas [50 e 100 livres, 50 e 100 mariposa] em que está qualificado e dentro dessas quais é que acha que são aquelas onde pode ter maiores aspirações?
—Gostava de nadar as quatro, mas não sendo possível para passar a finais, as que tenho mais na cabeça para melhores resultados são os 50 livres e os 50 mariposa.
— Qual é a diferença do Diogo antes de Doha-2024 e o Diogo antes de Singapura-2025?
— Acho que estou com a mesma confiança, pronto para lutar pelo que quero — não vou dizer aqui o que é que quero. Penso que, a este nível, já se sabe o que é que os atletas deste patamar queremos, é isso. Desejo melhorar os meus tempos e considero que não estava a treinar tão bem no ano passado como estou a treinar este ano. Tenho de estar ciente do trabalho que fiz, confiante e feliz porque fiz tudo o que podia. E quando é assim não há como dizer que o trabalho foi mal feito ou que falhei alguma coisa.
— Quando diz que não estava a treinar tão bem, quais são as diferenças do ano passado para este?
— Os treinos. Havia treinos em que falhava muito, era um bocado inconsistente e também era mais novo. Agora, com a idade, consigo igualmente estar mais consistente no treino, já consigo fazer alguns tempos de prova, como ontem ao fazer 21,81s [50 crawl] em análise, ou seja, não foi no cronómetro, foi mesmo em análise. Já é um tempo de provas, melhor do que o meu recorde pessoal antes de ter ido para o Europeu sub-23 [21,87]. Por isso, é esse o novo Diogo, um Diogo mais consistente, com mais treino e com mais cabeça do que é capaz e do que não é capaz e do que é possível e do que não é possível.
— Aquelas duas medalhas de ouro em Doha-2024 também lhe trouxeram maior responsabilidade, sento isso? Há mais expectativa em relação ao que vai fazer?
— Claro, principalmente do exterior. Agora sou campeão em título e sou eu que eles querem abater e tenho a certeza que se formos às finais os adversários vão estar a olhar para mim antes de qualquer outro atleta, tenho a certeza.
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— E preocupações, agora em Macau e depois em Singapura, quais são as suas maiores preocupações?
— Sinceramente, estou numa fase em que, após uns Jogos Olímpicos, é um ano mais calmo e tranquilo na nossa cabeça de atleta. Quero ir para lá fazer o melhor que puder, mas sinto que, desde que dê o meu máximo, que sinta que as coisas correram bem, não posso dizer que não correram. Trabalhei, vou dar o máximo de certeza, por isso, nesta fase já não é porque falhei alguma coisa. Não correu como esperávamos, mas é seguir em frente. Não é uma catástrofe, a vida segue. Há coisas bem piores do que não passar fases e tenho uma carreira pela frente. Sou bastante novo, só chegar a estes palcos e poder lutar com eles, para mim já é uma grande oportunidade na vida, de atleta e pessoal, estar no lugar em que estou hoje, poder dizer que olham para mim como já olhavam para o [Michael] Phelps nas finais, como já olhavam para o [Léon] Marchand. São as minhas provas, acredito que tudo isso vem com o passar dos anos e que a pressão é uma coisa que se controla. Por vezes, quando é a mais, também não há muito a fazer, mas acho que o atleta tem esse poder e sente a pressão que ele sente e que deixa-se sentir.
— Pessoalmente é essa a sua grande transformação, aceitar que pode falhar?
— Sim, acho que sempre fiquei muito chateado...
— Se bem que saiba que é altamente competitivo.
— Sim, exacto. Mas lá está, tenho muitos anos pela frente. Se falhar agora, vou voltar no Mundial a seguir, porque vou voltar mais forte, tenho a certeza. Sempre que falho em alguma coisa foco-me mais, por isso se for preciso falhar para me focar mais para voltar, é isso que vou fazer. Até porque falhei nos Jogos Olímpicos, e o que é que fiz? Treinei este ano bem, não tive nenhuma falha nos treinos, preparei-me muito melhor e pronto. Nos 50 livres já se viu uma melhoria [bateu o seu recorde no Euro sub-23, 21.67] e tenho a certeza que nos próximos anos vou continuar a melhorar os meus tempos e que se o conseguir pode dar finais, medalhas e meias-finais. É isso que queremos: passar fases e levar o nome de Portugal e do meu clube, o Benfica, ao topo do mundo.
— Estes dez dias entre ter vindo do estágio em Tenerife que realizou depois do Europeu de sub-23, estar em Lisboa deu para fazer o quê?
— Foi uma semana, soube a pouco, mas deu para ir visitar a família, o meu treinador [Samie Elias] também deixou-me treinar os primeiros dois dias desta semana em casa, em Coimbra, estive com a minha namorada… Consegui fazer tudo o que queria fazer, isso é bom também para a nossa cabeça, para não estarmos sempre só natação, só natação… Precisava disso e foi bom vir a casa e agora estamos super motivados para ir para o Mundial.
— Há algo que acontece com os seus títulos e êxitos, a sua família costuma lá estar: a sua mãe, tia, irmã… Desta vez também vão a Singapura?
— Vai a minha namorada, os meus tios e os meus pais [a mãe, o pai faleceu quando tinha 4 anos].
— É um conforto vê-los na bancada?
— É uma motivação extra. Não me posso desiludir só a mim e também a eles, aos meus treinadores, a toda a gente que esteve comigo, sabe o trabalho feito. É um conjunto. Não é uma modalidade coletiva mas no final das contas é coletivo o trabalho.