Fonseca revela a A BOLA: «A cãibra deixou-me frustrado. Senti fortes dores»
Fotografia Emanuele Di Feliciantonio/IJF

Fonseca revela a A BOLA: «A cãibra deixou-me frustrado. Senti fortes dores»

JUDO10.03.202422:53

Prata no Grand Prix da Áustria, Jorge (-100 kg) junta a medalha aos bronzes de Maria Siderot (-52 kg) e João Fernando (-81 kg). Final afetada por limitações físicas com fortes dores nos braços

«A preparação que fizemos para esta prova foi cumprido e quanto a isso estou feliz. Treinamos imenso, efetuámos muito trabalho de casa, organizei as coisas com o meu treinador [Pedro Soares], preparei-me fisicamente, sobretudo cardio por causa do tempo que estive parado e para não ser surpreendido… Aí correu tudo lindamente. Não soube foi lutar contra a cãibra. Foi o que me mandou a baixo na final. Não entendo porque aconteceu. É a pergunta que tenho feito repetidamente: porquê?!», afirmou Jorge Fonseca (-100 kg) a A BOLA após garantir a prata na final no Grand Prix da Áustria, na Tipz Arena, em Linz.

Quinta etapa do Circuito Mundial em que só perdeu na luta pelo ouro frente ao brasileiro Leonardo Gonçalves (16.º do ranking) ao sofrer wazari aos 17s do golden score. Depois de um dia quase imaculado em que nunca cedera wazari, pouco depois do início da final, Jorge (18.º) não conseguiu aplicar a explosividade das suas temidas projeções relâmpago e foi levando que a luta se tornasse essencialmente tática.

Fotografia Emanuele Di Feliciantonio/IJF

No entanto, à medida que o tempo passava, eram notórias algumas limitações físicas do português, que em várias ocasiões sentiu dificuldade em esticar os braços e fechar as mãos para agarrar o judogi do adversário e impor as pegas. Bem se esticava, fletindo o tronco para a frente e tentando alongar os braços a cada paragem - até mesmo com o combate a decorrer -, mas nada resultava.

O bronze olímpico, que somou 490 pts para o ranking de apuramento para Paris-2024, contou o que se passou. «Antes da final bebi água, comi cinco bananas, tomei magnésio. Comi tanta porcaria… Não consigo ter justificação para isto. Esta cãibra dá cabo de mim», vai referindo sobre o que fizera após a meia-final - ganha ao dinamarquês Mathias Madsen, com um segundo wazari a 26s do fim - e a final.

Fotografia Emanuele Di Feliciantonio/IJF

Mas só as sentiu na final? «Quando aquecia para a final já estava a ficar cheio de cãibras. Tomei magnésio, fiz massagem para ajudar, e a dor passou. Depois, durante a luta voltou a piorar. A dor era tal que nem conseguia esticar os braços. Não sei explicar como estavam. Ainda ia fazendo as pegas com um, mas quando tinha de o dobrar… Esqueça!», exclama. «Já me havia acontecido nos Jogos [meia-final de Tóquio-2020]. Agora repetiu-se. É uma grande frustração», lamenta.

CAMINHO PARA A PRATA

Jorge Fonseca (-100 kg, 18.º do ranking)

Isento da 1.ª ronda
Islam Bozbayev (Kaz, 38.º), vitória por wazari - 4.00m
Soso Ebilashvili (Geo, s/ ranking), vitória por wazari - 4.00m
Bojan Dosen (Srv, 22.º), vitória por wazari - 4.00m
Mathias Madsen (Din, 30.º), vitória por ippon - 3.35m
Leonardo Gonçalves (Bra, 16.º), derrota por wazari - 4.17m

Pódio
-100 kg: 1.º, Leonardo Gonçalves (Bra); 2.º, Jorge Fonseca (Por); 3.º, Rafael Buzacarini (Bra) e Laurin Boehler (Aut).

Minutos mais tarde, no pódio, antes e depois de ter recebido a medalha, ainda tentava esticar as mãos. «É verdade, mesmo no pódio ainda sentia uma cãibra insuportável. Estava com muitas dores», revela.

Fotografia Emanuele Di Feliciantonio/IJF

Ainda assim, para o ex-bicampeão Mundial tratou-se de um regresso às medalhas desde o Grand Prix de Zagreb, em agosto, onde também foi 2.º. A última vez que lutara pelo pódio havia sido, em setembro, no Grand Slam de Baku, tendo perdido o confronto para o bronze. Seguiu-se o Europeu de Montpellier, em novembro, e uma lesão que o afastou da ação quatro meses. O GP da Áustria foi apenas a segunda prova em 2024, depois do regresso no Grand Slam de Tashkent há uma semana.

SELEÇÃO NACIONAL

Femininos
-48 kg: Raquel Brito, não classificada (1 v-1 d)
-52 kg: Maria Siderot, 3.ª classificada (4 v-1 d)
-70 kg: Joana Crisóstomo, 9.ª classificada (2 v-1 d)
-70 kg: Taís Pina, 9.ª classificada (1 v-1 d)

Masculinos
-60 kg: Emerson Silva, não classificado (0 v-1 d)
-73 kg: Otari Kvantidze, não classificado (1 v-1 d)
-81 kg: João Fernando, 3.º classificado (5 v-1 d)
-100 kg: Jorge Fonseca, 2.º classificado (4 v-1 d)

Selecionadores: Marco Morais e Pedro Soares

«Fiquei sem competir quatro meses porque sofri uma lesão no joelho. Tashkent havia sido mais para regressar e agora queria ganhar uma medalha e levantar o ego. Só que a cãibra deu cabo de mim. Não consegui lidar com isso psicologicamente. Não me permitiu aplicar a tática que tinha planeado com o Pedro e deixou-me bastante frustrado. Afetou-me mais a cãibra do que o combate em si», conta.

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Limitações físicas ao nível nas mãos para conseguir fazer as pegas e projeções limitaram a ambição do português durante a final. Portugal termina a prova com três pódios.

«Chegou a um ponto que só pensava: ‘O que é que fiz tanto de errado para ter essa cãibra no momento mais importante da competição?’ Preferia que tivesse sido no primeiro ou segundo combate. Agora na final… Até porque a luta com o brasileiro não é muito difícil, é mais de paciência», considera.

Jorge tem planeada a presença no Grand Slam de Antalya (29-31 março), mas ainda não sabe se vai «porque acho que sofri um toque nas costelas». «O plano é ir à Turquia. Logo verei após uma avaliação médica. O que desejo é ganhar ritmo competitivo e confiança. Somando todo o tempo que estive de baixa, foi quase um ano. Tive muitas lesões, duas no joelho: primeiro seis meses e depois mais quatro. Apesar do objetivo ser os Jogos [somou 490 pts para o ranking], tenho de voltar ao Jorge de antigamente e conquistar mais pontos de qualificação. Quero chegar a Paris como cabeça de série. Esse é o objetivo», afiançou.

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