Siderot: «Dedico esta vitória ao meu pai que faleceu há uns meses»
Fotografia Emanuele Di Feliciantonio

Siderot: «Dedico esta vitória ao meu pai que faleceu há uns meses»

JUDO08.03.202423:24

Judoca do Sporting volta ganhar bronze no Grand Prix da Áustria e depois de ter visto o resto da época em risco por causa de uma lesão no joelho e problemas pessoais. Agora está de novo na corrida aos Jogos de Paris-2024, sonho pelo qual não quer deixar de lutar

«Passei por meses difíceis por causa de muitas coisas que me aconteceram na vida pessoal e devido à lesão que sofri no Europeu [Montpellier, em novembro]. Foi um período complicado de gerir pois, devido ao joelho – já fui operada aos dois - houve até a possibilidade de não lutar mais neste ciclo. Mas, como costumo dizer, é preciso acreditar que tudo é possível. Quando temos um sonho há que lutar por ele. O meu é estar nos Jogos de Paris. Daí que essa medalha seja muito importante. Aproxima-me desse objetivo», declarou Maria Siderot (-52 kg) a A BOLA após a conquista do bronze no Grand Prix da Áustria.

Pódio garantido ao derrotar, no quinto combate e tendo ficado isenta da ronda inaugural, a francesa Alyssia Poulange com um wazari a 13s do fim e já tinha dois shidos. Momento em que a adversária, de apenas 18 anos e 241.ª do ranking mundial, tentava resolver a luta no chão e invertera o maior domínio inicial da judoca do Sporting.

 

Motivação extra

«Por isso estes pontos [350], são tão importantes para a classificação. Dão-me motivação extra, sei que posso estar nos Jogos», acrescentou Maria, de 27 anos, atual 29.ª do ranking, que já ultrapassou a portuguesa Joana Diogo (38.ª) também no de qualificação olímpica – são respetivamente 34.ª e 38.ª – e ameaça misturar-se entre os que podem ser qualificados por quotas continentais. O que promete baralhar as contas na Seleção em termos olímpicos.

CAMINHO PARA O BRONZE

Maria Siderot (-52 kg, 29.ª do 'ranking')

Isenta da 1.ª ronda
Paulina Martinez (Mex, 35.ª), vitória por ippon - 5.09m
Minaka Ito (Jpn, s/ ranking). vitória por ippon - 4.40m
Larissa Pimenta (Bra, 13.ª), derrota por ippon - 1.29m
Alyssia Poulange (Fra, 241.ª), vitória por wazari - 4.00m

Pódio
-52 kg: 1.ª, Larissa Pimenta (Bra); 2.ª, Binta Ndiaye (Sui); 3.ª, Maria Siderot (Por) e Naomi van Krevell (Pb).

Mas, para além da coincidência do último pódio no Circuito Mundial também ter sido de bronze e no grand prix austríaco, em maio passado, esta medalha tinha significado ainda mais profundo para Maria. «Queria dedica-la ao meu pai [Mauro], que faleceu há uns meses», diz com maior dificuldade em falar. «Por isso houve momentos que não foram muito bons. Tive de lidar com muita coisa e, por vezes, a cabeça pára. Podemos estar bem fisicamente, mas se a cabeça também não estiver fica mais complicado. A medalha é dedicada a ele, assim como a todas as mulheres. Sobretudo a mim, por ser uma corajosa obstinada, resiliente, determinada. Não havia melhor para celebrar este dia das mulheres. Revela aquilo que sou e, acima de tudo, a minha força», afirmou mais recuperada das emoções e contando que apenas a equipa do Sporting e da Seleção sabiam pelo que passava. 

Fotografia Emanuele Di Feliciantonio/IJF

«Optei por continuar e, após dois meses parada, retomei os treinos em janeiro. Mas consegui fazer muita preparação física que se tornou numa mais-valia quando regressei. Voltei a ter um objetivo e por isso todas as provas e combates são uma final», analisa quem começou a eliminar a mexicana Paulina Martinez (35.ª) aos 5.09m e a japonesa Minaka Ito (sem ranking) em outros 4.40m, ambas por castigos.

A única derrota aconteceu nos quartos de final com a brasileira Larissa Pimenta (13.ª) - ganhou a prova ao derrubar na final a suíça Binta Ndiaye (28.ª) - com um ippon aos 1.29m após Maria ter registado wazari aos 21s. Relegada para a repescagem, Siderot manteve-se na luta pelo 3.º lugar graças a um ippon frente à azeri Ayden Valiyeva (34.ª) a 55s do fim. ´

Agradecimentos especiais

«Foi um dia bastante longo. Houve combates que podia ter acabado mais cedo e não aconteceu por falta de ter sido eficaz e isso tornou as cinco lutas mais longas contra adversárias fortes. Foi pena com a brasileira porque estava a dominar, a ganhar e depois apanhou-me [chave de braço] no chão. Contra a francesa pesou o facto de eu estar a lutar para tentar chegar aos Jogos e ela só a aproveitar o momento, sem pressão», analisa.

«Mas, antes da luta pelo bronze, eu e o meu treinador [Pedro Soares], estabelecemos uma tática e treinámos a defesa no chão porque foi assim que ela tinha eliminado adversárias muto fortes e é muito boa. Não fui para lá desprevenida», garante. «No último ataque foi acreditar. Possuo ataque fortes  e aproveitei a experiência», afirma.

SELEÇÃO NACIONAL

Femininos
-48 kg: Raquel Brito, não classificada (1 v-1 d)
-52 kg: Maria Siderot, 3.ª classificada (4 v-1 d)
-70 kg: Joana Crisóstomo, hoje, E. Sook (Din)
-70 kg: Taís Pina, hoje, S. Gercsak (Hun)

Masculinos
-60 kg: Emerson Silva, não classificad0 (0 v-1 d)
-73 kg: Otari Kvantidze, hoje, K. Nakano (Phi)
-81 kg: João Fernando, hoje, D. Druzeta (Cro)
-100 kg: Jorge Fonseca, amanhã, I. Bozbayev (Kaz)
Selecionadores: Marco Morais e Pedro Soares

«Queria agradecer a todas as pessoas da federação, do Sporting, ao meu treinador… Foram incansáveis nesses meses difíceis que vivi. É uma medalha de superação e coragem. A medalha é bonita, mas é mais uma. Foi importante não apenas por causa do pontos mas sobretudo para mim, em relação a tudo», concluiu Maria Siderot.