Voz de um campeão da Europa por Portugal: «Que os mais novos vejam a minha carreira como exemplo»
- Decidiu terminar recentemente a sua carreira. Como estão a ser estes primeiros tempos de um ex-jogador de futsal?
- Estão a ser tranquilos, por acaso. Já desde novembro que tinha preparado isto com a minha família. Desde criança, e quando comecei a jogar e a competir, sentia-me bem e era assim que queria acabar. Foi o que aconteceu. Em conjunto com a minha família decidimos que estava na hora.
- Destaca bastante a importância familiar.
- Sim, sem dúvida. É extremamente importante para mim. Ser pai é a melhor profissão que tenho na vida. Tenho três filhos, claro que cada um deles dá dores de cabeça, mas ainda bem que as tenho. Quando chegamos a casa, para eles não importa se ganhámos ou perdemos, vão-nos abraçar da mesma forma. Quando era miúdo tinha um mau perder incrível e lembro-me, por exemplo, de que detestava perder nos jogos de consola com o meu irmão, ao ponto de mandar o comando contra a parede. Com a vida fui aprendendo que a derrota faz parte do processo. É mais um dos fatores de crescimento. Fui-me protegendo que isso fazia parte e sentia-me pior se não fizesse de tudo para ganhar o jogo. Depois, o resultado final já não depende só de nós.
- Tem também uma tia que lhe é muito próxima e que dá ainda mais corpo a essas ligações de sangue.
- A minha tia Edite… É uma segunda mãe. Houve uma altura da vida em que ela viveu lá em casa connosco e com os meus primos, o Mário e o Nuno, e protegia-me bastante. Apaparicava-me muito, protegia-me dos castigos da minha mãe… Eu era terrível e ela protegia-me muito. Agora estou a passar isso com o Diego [filho] e a minha mãe, quando eu lhe conto coisas do Diego, diz-me que é a minha vez de passar por isso porque também lhe fiz a ela. Faz parte [risos].
- Teve um percurso que contemplou passagem por vários clubes. Odivelas, Castelo, AMSAC, Ereira e Benfica, Torpedos, Ismailitas, Sacavenense, Olivais, Leões Porto Salvo, Fundão, Belenenses, Burinhosa, Torreense e UPVN. Que sentimento guardou de cada um?
- Falta apenas a Academia Musical, que foi na formação. Foi um processo de transição do futebol para o futsal. Era um clube no Lumiar onde estavam muitos amigos meus e eu, mesmo sem bases nenhumas de futsal, fui para lá. Depois o Odivelas contratou-me depois de um torneio e quando fui para lá não tinha bases nenhumas de futsal.
- Como foi essa adaptação?
- Estive sempre aberto a tudo. Há sempre algo que podemos acrescentar ao nosso conhecimento. Apanhei, nessa altura, um treinador muito bom e de que gostei imenso, que era o senhor David Sousa, e tinha lá jogadores da formação do Sporting que tinham a base de futsal. Eu não sabia posicionar-me em campo, não tinha essas noções. Aprendi aí essas bases. Ouvia muito o treinador, mas só jogava. Era livre. Não pensava nas posições, nos timings, isso fui aprendendo mais para a frente. Acho que agora, por exemplo, está a faltar muito o futsal de rua. E eu tinha isso. Sempre fui uma criança pequena, só depois é que dei um salto. O facto de ter passado por muitos clubes ao longo do meu percurso esteve relacionado com os tipos de contrato, uma vez que os vínculos eram curtos.
- Chega ao patamar profissional quando entra no Olivais, clube onde joga durante quatro épocas, para escrever ainda mais história a partir daí. Mesmo sem ter representado um dos designados grandes, sente-se orgulhoso da carreira que teve?
- Sim, sem dúvida alguma. Todos devemos orgulhar-nos do nosso trajeto e eu tenho muito orgulho no que fiz. Quero que os mais novos vejam a minha carreira como exemplo, pensando sempre na aprendizagem e nunca desistindo do que querem. O que traça a nossa dedicação é o nosso compromisso. Quando saio da I Divisão para a II ainda não tinha isso planeado, mas nessa altura eu disse que o meu compromisso, estivesse onde estivesse, não seria baseado no clube onde estava, mas em mim, enquanto jogador e pessoa. No Olivais apanhei jogadores incríveis, que tinham sido campeões nacionais, como o João Marçal, Zezito, Zé Carlos, Estrela, entre outros, e dei um salto do ponto de vista qualitativo. Foi no Olivais que tive o clique. O Zezito, por exemplo, dizia-me que tinha de melhorar o passe, algo que nunca ninguém me tinha dito. Nesses quatro anos cresci bastante.
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