«Uma chuva de golos e uma equipa solar»: a crónica do FC Porto-Shakhtar

«Uma chuva de golos e uma equipa solar»: a crónica do FC Porto-Shakhtar

NACIONAL14.12.202300:18

Sérgio Conceição começou a ganhar o jogo pela forma rigorosa como estudou o adversário; Momentos altos de maturidade competitiva

Se há característica que melhor define o treinador português é o de ser rigoroso na forma como prepara o jogo e estuda o adversário. Sérgio Conceição é um dos melhores exemplos disso mesmo, um treinador que não se realiza pela imagem, mas pela paixão pelo jogo e pela total entrega da sua competência à equipa que dirige. Foi, pois, por essa mesma competência que o FC Porto entendeu, desde o primeiro minuto, como tinha de ganhar o jogo. Uma pressão avassaladora sobre uma equipa que tem um padrão de jogo do qual não consegue sair. 

Os ucranianos jogam, desde a sua área, com a bola no pé, chamando o adversário e procurando saídas rápidas no espaço livre. Ora, o FC Porto chegou a pressionar com cinco homens junto à pequena área adversária, causando um pânico geral e provocando uma fatal desorientação coletiva. Conseguiu, assim, tornar fácil a tal final de que falava o seu treinador. Uma final que, para já, proporciona aos portistas o honroso título de ser a única equipa portuguesa a qualificar-se para os oitavos de final da Champions.

SOLIDÁRIOS COM A UCRÂNIA

Sem nunca ter passado por uma verdadeira sensação de sobressalto, o FC Porto ainda teve margem para complicar as coisas simples. Sofreu três golos. O primeiro, numa situação caricata, depois de meia equipa ter parado ao sinal despropositado e enganador do árbitro auxiliar; o segundo, num fortuito autogolo de Eustáquio; o terceiro, após uma disparatada perda de bola de Gruijc. 

Talvez tivesse sido uma maneira peculiar e estranha dos portistas manifestarem a sua solidariedade ao povo ucraniano, mas para quem conhece Sérgio Conceição sabe que terá fervido de raiva com todos esses momentos de erro num jogo ao mais alto nível e da maior responsabilidade. Noutras circunstâncias, importa dizê-lo, poderia ter sido um desastre. Não neste jogo, onde o FC Porto soube tão bem ser uma equipa solar, com períodos notáveis de maturidade competitiva, sabendo guardar vantagem e controlar o jogo, alternando a segurança pela posse de bola no meio campo adversário, com momentos de ataque explosivo, muito assente na velocidade e na criatividade de Galeno e na excelente articulação dos dois homens mais adiantados, Evanilson e Taremi, este agora regressado aos grandes golos. 

PERSONALIDADE DE CHAMPIONS

Marcar cinco golos na prova maior do futebol europeu é sempre um feito assinalável. Mais impressiona, ainda, o facto de se ter percebido que se fosse preciso marcar mais golos, o FC Porto teria marcado. No saldo final, além do resultado, a manifestação de total superioridade, que ainda deu para levantar o pé do acelerador e ir pensando no próximo jogo do campeonato, com o Sporting, em Alvalade. Uma indicação clara de que a equipa goza de boa saúde física e psicológica e que continua a ser, no futebol europeu, o representante português mais fiável. Não se trata, apenas, de uma questão de classe individual dos seus jogadores, mas também de uma exigência competitiva assente numa forte personalidade e numa constante fome de vitórias, que se afirma independentemente do nível do adversário. 

É verdade que o FC Porto não tem, hoje, uma equipa de grande classe internacional como já teve. Por isso, há jogos e adversários perante os quais não é possível disfarçar algumas evidências. Porém, dentro dos seus defeitos e das suas virtudes, esta equipa mantém um estatuto de confiança na qualidade da marca. Justo que, mais uma vez, esteja, com mérito e de pleno direito, entre as 16 melhores equipas da Europa. Muitos dirão que essa qualificação era expectável. O FC Porto tinha de ser melhor que o Antuérpia e que um Shakhtar que não pode deixar de sofrer com o facto de ser representante de um país em dramática guerra. Mas a verdade é que a equipa cumpriu os seus objetivos e chega ao final da fase de grupos com os mesmos pontos do Barcelona. Não é coisa pouca.