Tudo o que o treinador do Benfica disse antes do jogo com o Arouca
Bruno Lage falou de forma abrangente sobre Di María, mas também de Arthur Cabral, Beste, mercado e recuperação na tabela da Liga
— De que forma a reviravolta no Mónaco teve impacto na equipa do Benfica e como poderá refletir-se em Arouca?
— Não é só o sentimento do último jogo, é dos últimos três meses. Tivemos oportunidade de evoluir e crescer, fizemos mais uma reviravolta, foram três preciosos pontos, deu-nos felicidade momentânea vencer esse jogo. Mas olhando para trás, foram três meses de muito trabalho. Tivemos 58 treinos, desses 58, tivemos 23 com o plantel completo, desses 23, tivemos 9 treinos para trabalhar dinâmicas, entre treinos antes e a seguir a jogos. Temos de olhar para o que de bom fizemos no Mónaco, mas sobretudo para o que fizemos nestes três meses, dá-nos confiança para prolongar este bom momento.
— Tem sido notório o melhor rendimento de Di María, face à gestão que tem feito do jogador. Pergunto-lhe se é a peça-chave do plantel e se é o jogador que mais precisa de gestão.
— O que há a realçar é o rendimento da equipa, estamos muito satisfeitos com toda a gente. Em relação ao Di María, estamos muito satisfeitos com ele, porque é um grande jogador, tenho agora o prazer de trabalhar com ele e perceber que é um grande homem e exemplo disso é vê-lo nos últimos minutos sentado no banco e a sofrer tanto como se fosse quase a final do Campeonato do Mundo. Primeiro pela forma como sofreu, depois a comemorar a vitória com os colegas. A gestão é olharmos para cada um de forma individual e perceber qual é a melhor maneira de tirar rendimento deles. [Di María] Não tem tratamento especial, temos de olhar para cada um deles, a forma como recuperam e depois tomar as melhores decisões. Há uns que recuperam melhor do que os outros e temos de tomar as decisões em função disso.
— Otamendi faz muitas viagens, joga pela seleção argentina, joga pelo Benfica, sente que pode haver necessidade de rotação?
— O Nico tem sido um campeão, até está nomeado para o melhor onze da FIFA e é um privilégio ter jogadores desse calibre no plantel. Regressou da seleção com um pequeno toque, se calhar vinha com a ideia de recuperar bem para o Mónaco, mas quando percebeu que o Tomás Araújo não estava disponível, deu dois passos em frente para jogar com o Estrela. É questão de mentalidade, Nico tem tido bom rendimento, dei os parabéns aos jogadores, a linha defensiva, os quatro, tem estado muito bem. Toda a gente tem trabalhado bem, tanto os que têm jogado mais como os que têm jogado menos. Só uma linha defensiva coesa como a nossa poderia travar ataques verticais do Mónaco. Há sempre risco de lesão a jogar de três em três ou quatro em quatro dias. Há sempre jogadores que recuperam melhor do que os outros. O Nico e Fredrik [Aursnes] recuperam bem, tem muito a ver pela forma como se cuidam fora de campo.
— O que significou aquela roda no Mónaco, foi uma mensagem para dentro ou para fora?
— Não foi mensagem nem para dentro nem para fora. Aquilo que se passou, simplesmente, foi um ato de liderança. Terminou o jogo, cumprimento o quarto árbitro, vou na direção do meio-campo para cumprimentar o árbitro, e senti uma grande alegria, um grande sentimento de dever cumprido. O que fiz foi elogiar pelo esforço da vitória, transmitir crença no processo, no trabalho e no treino, e visão. Felizes pela vitória, mas há um futuro pela frente de sete ou oito jogos até final do ano, que são muito importantes. Mais do que comunicar, foi um ato de liderança que senti que deveria ter feito naquele momento. A nossa natureza tem de ser essa, ficámos felizes pela vitória no Mónaco, mas não podemos estar satisfeitos com isso, a nossa visão tem de ser mais, o nosso objetivo em termos de campeonato até final do ano é chegar ao segundo lugar e reduzir distâncias para o primeiro. Mas temos de ter os olhos na bola e os olhos na bola é o jogo em Arouca. Não temos margem de erro nas competições em que estamos e vamos jogar com adversário competente, que gosta de ter bola. Vasco [Seabra] já provou que é treinador muito competente e pode vencer equipas grandes. E ainda sobre a gestão, o único jogador que não jogou nestes três meses connosco é o Tiago Gouveia, por lesão.
— Arthur Cabral foi fundamental nos últimos dois jogos [3 golos], pode ser ameaça à titularidade de Pavlidis?
Não há lugares garantidos, tem de ser em função do rendimento. Arthur [Cabral] não ameaça ninguém, tal como Zeki [Amdouni] e Pavlidis trabalha para a equipa. Falava-se da crise [de golos] dos avançados e nos últimos jogos cada um deles fez os seus golos, com movimentos de ponta de lança muito interessantes, os pontas de lança estão a aprimorar movimentos na área que gosto que eles façam. E os golos de cabeça não surgem por acaso, eles têm trabalho muito esse aspeto. Deixa-me satisfeito, Pavlidis com seis golos, Arthur e Zeki com quatro golos cada.
— Tendo em conta interesse de outros clubes em centrais do Benfica, há um plano B? Pensa ir buscar um central na janela de mercado de janeiro?
— É assunto fechado, estamos muito satisfeitos, temos o Nico, da seleção argentina e campeão do Mundo, temos dois centrais jovens formados na casa, que representam a Seleção Nacional, e temos o Adrian [Bajrami], um miúdo, a aprender com estes três. Esta é a nossa política, gente competente de fora, gente competente a ser formada em casa e gente nova a aprender. Não há plano B, pelo menos de fora. Plano são os miúdos que chamamos constantemente para treinar connosco nas variadíssimas posições.
— Já falou com Di María ou com Rui Costa, presidente do Benfica, sobre a renovação de contrato do jogador? E pergunto-lhe se gostava de o ter ao seu lado como adjunto?
— É tão gratificante ver o que Di María está a fazer, não vale a pena projetar o futuro quando ainda faltam sete meses para acabar a época. E a exigência para ele é igual. Tirar o melhor partido dele. Perguntaram-me recentemente se o golo [de bicicleta] dele era o melhor que tinha visto ao vivo, creio que iremos guardar para sempre o golo de bicicleta do Di María. Mas Prestianni também marcou de bicicleta no treino de hoje. E ele é tão pequenino que o Nico já estava a dizer que era um golo de triciclo. Vamos viver o momento. E se temos o Ricardo Rocha, poderemos ter um dia também o Di María no banco. Mas Rocha tem tido papel determinante no nosso trabalho com a linha defensiva. É a experiência de jogador, ajuda-nos a ter equipa técnica mais forte. Vamos aproveitar o momento e Deus queira que continue a jogar por muitos mais anos. Se forem ver o salto que deu para dentro das quatro linhas quando o jogo terminou, é alguém que está a gozar o momento.
— Tem sublinhado que quer recuperar pontos ao Sporting e chegar ao segundo lugar, que é do FC Porto, até final do ano. É apenas fé ou sente que os rivais poderão ter quebra acentuada?
— É questão de crença no nosso trabalho e foi isso que passei no final do jogo com o Mónaco, pois se conseguirmos vencer os nossos jogos vamos conquistar o segundo lugar e reduzir a diferença para o primeiro classificado. É crença no nosso trabalho!