Pavlidis em luta com Diomande no Benfica-Sporting (Grafislab)

Só alma não chega para virar este firme leão (crónica)

Sporting foi campeão durante uma hora, Pavlidis teve a viragem da liderança nos pés, mas esta liga vai mesmo até ao fim, com o leão como vinha até aqui: na frente, mas com uma das mãos no troféu

Era para ser eterno, era para ser decisivo, mas deixou tudo na mesma. O dérbi foi espelho exato do que tem sido o campeonato. O Sporting na frente, o Benfica a soprar-lhe no pescoço. Foi assim que aqui chegámos, é assim que daqui saímos. Não há campeão ainda e a vantagem é verde e branca, numa liga que teima em ser disputada até ao fim e que é definida por uma velha ideia futebolística: a fortuna está entre a bola que vai ao poste e entra e a que vai ao poste e sai.

O Sporting foi campeão durante uma hora. Trincão tratou logo de colocar as coisas no lugar. Um 0-0 é uma raridade nos duelos de águias e leões e como o dérbi é para ter golos, essa foi coisa que ficou resolvida aos quatro minutos. O país inteiro tinha os olhos em Gyokeres, mas foi Trincão quem correu para o golo, vindo não se sabe de onde, sozinho no latifúndio que foi aquele terreno do relvado da Luz.

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Não foi, porém, ali que se percebeu logo que o Benfica não seria campeão nesta tarde. Enquanto o rival estava nessa posição e a ter um aliado de peso no relógio, as águias eram vítimas de falhas técnicas, perdas de bola, decisões erradas.

O Sporting marcou e deixou-se estar, disposto a sofrer o que o rival lhe lançaria. Havia um Angel em campo que mostrara inúmeras vezes aqui que tinha o diabo no corpo. O que não teve foi golo e os remates de Di María (6’ e 28’) foram as duas ocasiões que os encarnados tiveram numa primeira parte que, obviamente, teve decisões de arbitragem reclamadas por uns e outros, ou isto não fosse um dérbi apaixonante.

O Sporting soube suster bem o ataque encarnado. Di María ia muitas vezes para o meio, quase formando um losango, com Florentino atrás, Aursnes a descair na direita e Kokçu na esquerda. Não foi sempre assim, mas foi também desta forma que o Benfica se mostrou perante o habitual sistema leonino.

Mas estes jogos precisam de jogadores que os saibam jogar. E em campo, do lado leonino, Hjulmand foi o capitão que os verdes e brancos necessitavam, bloqueando jogadas contrárias – aproveitando erros alheios também - e irritando adversários e bancada. Lá atrás, Diomande parecia uma parede, enquanto o Benfica aprendia a lidar com Gyokeres que, diga-se, depois do golo apareceu mesmo de forma perigosa em mais dois momentos, um deles que culminaria com um golo anulado ao Sporting.

O Sporting entrou no 2.º tempo perto do Marquês, o Benfica a lutar pela vida e Lage, bem, tirou Di María. A ofensiva encarnada não foi em forma de avalanche, mas foi em crescendo até à erupção da Luz. Pavlidis encarnou um Bola de Ouro qualquer, fez uma dessas jogadas para a História e Akturkoglu empatou. Havia 63 minutos, mas como se sabe desde a compensação do Benfica-Arouca era o Sporting quem podia jogar com dois resultados. 

Quando Pavlidis atirou ao poste, a fortuna do campeão 2024/25 poder-se-á ter decidido. Porque a partir daí, os nervos foram muitos, a incerteza total, o Benfica foi só alma e o Sporting foi além disso. Sai com mão no troféu, e os benfiquistas apenas agarrados à esperança...