Se não fosse um caso sério, seria apenas para rir!
Miguel Nogueira, árbitro do FC Porto-Arouca

Opinião Se não fosse um caso sério, seria apenas para rir!

NACIONAL04.09.202322:25

Opinião - É o argumento que torna a situação bizarra!

Coberto ou não pelo sempre tão falado ‘protocolo do VAR’, o que sucedeu no jogo FC Porto-Arouca de domingo à tarde é tão bizarro que se não fosse um caso sério daria, certamente, apenas para rir.

A questão nem está no desfecho, até agora inédito na forma (mas não no conteúdo), de uma decisão do árbitro ter sido tomada (ou validada) no campo, sem recurso à revisão de qualquer imagem e apenas com base na informação, dada por telemóvel, pelo vídeo-árbitro. Esse é apenas o lado estranho, mas absolutamente coberto pelo ‘protocolo’ do VAR’, e, portanto, sem razão para o protesto levado a cabo pelos responsáveis do FC Porto.

Muito difícil é compreender como é possível atribuir a uma falha de energia a impossibilidade de um contacto normal entre árbitro do campo, respetivo monitor no Estádio do Dragão e vídeo árbitro na Cidade do Futebol. É o argumento que torna a situação bizarra!

Ainda no domingo à noite, num programa de comentário desportivo na RTP, o compositor e músico Nuno Gonçalves (da banda The Gift), um dos oradores residentes, fazia a comparação da situação vivida no estádio portista como os espetáculos de música, e lembrava o que toda a gente facilmente entende: num concerto também pode haver uma falha de energia; mas o que não falha é o concerto.

Tão simples como isto: falha o plano A, entra em ação o plano B. Seja por via analógica, fibra ótica, wireless, pombo correio ou sinais de fumo (para usar alguma ironia), ninguém está seguramente a imaginar o megaconcerto dos Coldplay, em Coimbra, por exemplo, poder ser perturbado por uma falha de energia. Pode ser afetado por muita coisa (saúde, condições do tempo, atos de violência ou atentados terroristas, como os que, infelizmente, já levaram à anulação de alguns eventos), mas nunca por falha de energia.

Não foi, assim, propriamente a decisão tomada sem recurso a qualquer imagem que tornou caricato o que sucedeu no Dragão; foi o que levou a isso.

Nos primeiros tempos da chegada do VAR ao futebol, todos nos recordamos de decisões tomadas pelos árbitros de campo apenas confiando nas indicações dos vídeo-árbitros.

Mas como se explica, no mundo tecnológico de hoje, que uma falha de energia afete um jogo de futebol de uma Liga profissional, num dos mais modernos estádios do País, certificado com cinco estrelas pela UEFA, naturalmente com todas as condições estruturais exigidas para qualquer competição de topo? 

Como podem não estar previstas, no plano operacional do VAR (com tudo o que isso envolve relativamente a comunicações) as diferentes possibilidades de ocorrências técnicas?

Será que algum de nós (e os responsáveis pela execução de todo o plano da nossa Liga profissional de futebol), como questionava Nuno Gonçalves na RTP, consegue imaginar Chris Martin, vocalista e líder da banda Coldplay, a pedir desculpa a 50 mil pessoas por não poder cantar, ou tocar, por qualquer falha de energia?

O que sucedeu no Estádio do Dragão só parece mentira. A verdade é profundamente desoladora!