REPORTAGEM A BOLA Respira-se portismo do outro lado do Atlântico
A mais de 5300 quilómetros da Invicta, a mais recente Casa do FC Porto nos Estados Unidos ganha forma e tudo começou com a ideia de receber a equipa à chegada ao país. Adesão até surpreendeu fundadores...
NOVA JÉRSIA - Está a florescer na cidade de Elizabeth, Nova Jérsia, a renovada Casa do FC Porto New Jersey. Depois de a original ter encerrado atividade em 2006, altura em que ainda se situava em Newark, os milhares de portistas na região, que conta com forte presença lusa há várias decadas, sentiam falta de um espaço onde pudessem partilhar o sentimento de portismo.
Graças a um pequeno grupo de amigos, inicialmente com a ideia de organizarem apenas uma calorosa receção à equipa azul e branca na chegada a solo norte-americano, a propósito do Mundial de Clubes, esse sonho passou a realidade.
Ainda sem sede própria - por enquanto, está integrada no Portuguese Instructive Social (PISC), espaço da comunidade portuguesa em Elizabeth -, a Casa resume-se a pouco mais de uma sala de reuniões, mas há planos para expandir e obter sede própria. A BOLA foi recebida pelo presidente da direção da Casa, Jaime Lopes, emigrante nos Estados Unidos há mais de 50 anos, e prestou uma visita ao local que transporta quem lá for de volta a Portugal.
Paulo Silva, presidente da Assembleia Geral, explicou ao nosso jornal como surgiu a ideia de reavivar a Casa do FC Porto naquela zona. «Eu e o meu amigo Arménio Marta começámos com a ideia de ter a massa portista toda reunida para o Mundial de Clubes e haver uma receção digna da instituição FC Porto e depois nos jogos também. A casa em si não fazia parte da nossa ideia originalmente. A ideia era garantir uma presença forte dos portistas à chegada da equipa», começou por dizer.
«Tudo começou no dia 5 de janeiro deste ano. Eram reuniões/almoços. Como não temos casa própria, nós juntávamo-nos em certos restaurantes onde víamos os jogos do FC Porto. Ao intervalo dos jogos ou no final, começámos a organizar a receção à equipa. Só mais tarde, surgiu a ideia da casa. O pessoal começou a aderir cada vez mais, nas redes sociais também. Criámos um grupo no WhatsApp e já havia um no Facebook, o FC Porto New Jersey. Começámos a divulgar os nossos ajuntamentos e trocávamos ideias», lembra Paulo Silva, que destaca que «um dos grandes pedidos era o de reavivar» a Casa do FC Porto de Nova Jérsia, que «tem estado dormente», desde 2006, há 19 anos: «Notámos que, com o feedback que estávamos a ter, fazia sentido reativar a Casa.»
Jaime Lopes juntou-se logo a seguir e foi convidado para ser o presidente, algo que, inicialmente, não entrava nos seus planos. «Apresentaram-me a ideia, gostei e comecei a organizar-nos. Fizemos aqui uma festa e o Paulo perguntou-me se eu queria ser presidente. Eu disse ‘Para presidente vais tu!’ (risos). Fomos a votos e demos a oportunidade para as pessoas se candidatarem. Não apareceu mais nenhuma lista e nós avançámos», frisou o líder da direção da Casa.
Já Arménio Marta, luso-brasileiro, é o presidente do Conselho Fiscal e Disciplinar, e realçou que havia pouco tempo devido à aproximação do Mundial de Clubes. «Amigos chamavam amigos. Há muitos portistas aqui, conhecemos comunidades muito grandes nesta zona. Tinha de seguir, porque o tempo era curto. A ideia era um núcleo, uma fan base, uma coisa mais pequena, mas o pessoal estava muito entusiasmado. Éramos o único clube sem casa aqui. Há do Benfica e do Sporting, mas a nossa tinha desaparecido há muitos anos. Queríamos abrir para todos, por isso chamar-se FC Porto New Jersey.»
EXPANSÃO NO HORIZONTE
A solução da casa emprestada é temporária, garantem, até porque tem havido várias propostas e já se procuram espaços para acolher a Casa. «Já temos várias pessoas, sem pedirmos nada, a enviar fotos de armazéns para alugar. Um colega meu está interessado em juntar um grupo de empresários e comprar, por exemplo, um armazém, e juntar um campo de futebol indoor para tirar proveito do aluguer. Ainda é algo que não trouxemos para as reuniões, mas é para o futuro, talvez a curto prazo», salientou Paulo Silva.
Não são apenas os portistas do estado de Nova Jérsia que estão interessados em pertencer à Casa, revelou o presidente da Assembleia Geral: «Tenho pessoal a contactar-me dos estados vizinhos de Pensilvânia e de Nova Iorque que querem fazer-se sócios da Casa do FC Porto New Jersey. Vê-se que estão sedentos de ter uma presença não só de nome, mas também uma sede física própria. Existe também uma em Long Island, que está em funcionamento há muitos anos. Funciona como aqui, dentro da comunidade numa sala como esta.»
CONTACTO COM O CLUBE
A nova Casa FC Porto New Jersey, que herdou o número da filial anterior (4), já foi visitada pelo clube, em março, através do vice-presidente Francisco Araújo.
«Temos tido uma grande ajuda da parte da administração do FC Porto, nomeadamente através do departamento de Casas, que é liderado pelo vice-presidente Francisco Araújo. Visitou, em março, o nosso espaço. Quis visitar fisicamente todas as Casas do FC Porto e nós somos a número 4 segundo a base de dados. Volta e meia encontrava alguma surpresa, como casas que já não estavam em atividade, caso desta. Quando veio aqui, percebeu que já havia um grupo de pessoas que se tinha juntado para reavivar esta Casa. Chegou a ir também até Toronto, Boston... A nossa ideia é que se consiga reunir também um grande número de portistas para se abrir uma casa na Pensilvânia, como a nossa aqui», sublinhou Paulo Silva.
Para o próximo fim de semana, no dia 21 (sábado), está agendado um evento de angariação de fundos, onde estarão membros da Direção da SAD azul e branca, incluindo Villas-Boas. «Temos um jantar de convívio e angariação de fundos para a Casa FC Porto New Jersey e já está completamente esgotado. 400 pessoas. Estarão presentes membros da Direção do FC Porto, inclusivamente o presidente André Villas-Boas e algumas lendas do clube. Se tivéssemos 700 bilhetes, vendíamos à vontade. Há pessoas a dizer que querem comprar bilhete mesmo que custe 200 dólares. Custam 60, mas há muitas pessoas a oferecerem 200. Foi uma adesão espetacular, sem fazer publicidade. Esgotámos em cerca de duas semanas, todos os dias temos pessoas a pedir bilhetes», destacou Paulo.
Arménio confessa que não estava à espera de uma adesão tão forte, mas, como completou Paulo, é «um problema bom»: «Ficámos muito surpreendidos, mas ao mesmo tempo alegres. Queríamos fazer algo pequeno, mas bem feito, bem organizado. E num ano em que o FC Porto teve uma época mais fraca, conturbada e cheia de casos. Somos grandes, temos muita alegria e orgulho de ser do FC Porto. Sente-se ainda mais no estrangeiro, sofremos muito mais.»
Quanto à organização da Direção, o presidente do Conselho Fiscal e Disciplinar destacou que cada um tem o seu papel: «O Jaime é o organizador, a cabeça que trabalha para funcionarmos, o Paulo é a parte intelectual – se quiser saber alguma coisa acerca do FC Porto, ele sabe na ponta da língua -, e eu sou o agitador, o motivador. Cada um tem a sua função específica.»
«Até a nível da Direção, temos um designer gráfico fantástico, o Ricky, um dos vice-presidentes. Tem sido incansável e ajudado muito, agora no dia da parada no Portugal Day também. Temos também uma pessoa responsável por recolher as receitas dos bilhetes e organizar as mesas, tudo isso dá trabalho. Cada um tem o seu papel e desempenha-o com grande vontade», completou Paulo Silva.
No âmbito das celebrações do Portugal Day, evento anual que celebra as tradições lusas em Newark, e que este ano contou com a presença de três figuras icónicas da história do FC Porto (João Pinto, Rui Barros e Geraldão), foi feito um esforço da comunidade portista para construir um carro alegórico para a parada. «Foi impressionante a forma como juntaram logo duas equipas, uma de cada lado do carro. Pessoas que sabem o que estão a fazer e a trabalhar de boa vontade ali», destacou Paulo Silva, antes de Jaime Lopes rematar: «Temos muta sorte, há aí pessoas que nos vão ajudar bastante.»
Mais de uma centena à espera da comitiva
A receção à comitiva dos dragões, na noite de terça-feira, foi um momento muito especial para os portistas da região, sendo que a maioria viu de perto os jogadores pela primeira vez. Mais de cem adeptos aguardaram, alguns mais de duas horas, pela equipa azul e branca à entrada da unidade hoteleira em New Brunswick, desde crianças a idosos. «Havia pessoas mais velhas, crianças... A presença feminina muito forte também. Vamos ter certamente continuidade naquilo que estamos a construir. Isso é o que me deixa mais motivado para continuar», sublinhou Paulo Silva. «Os mais requisitados foram o Diogo Costa e o Rodrigo Mora, que foram os últimos a entrar. Não negaram o autógrafo ou fotografia a ninguém, sempre com um sorriso na casa. Queríamos transmitir a nossa energia e acho que os jogadores sentiram isso», frisou. «Foi uma energia muito positiva. O FC Porto é isto. Viram que somos lutadores. Queremos transmitir-lhes que para jogar no FC Porto tem de se ser guerreiro», destacou Arménio Marta.
Um século de tradição lusa
Nasceu há mais de 103 anos, em 1922, o Portuguese Instructive Social Club (PISC). Na altura, um grupo de portugueses residentes na cidade de Elizabeth lançou a idéia da fundação de um clube «que não só facilitasse a reunião e estreitasse a amizade dos portugueses então residentes na cidade, mas que também honrasse e dignificasse a colónia portuguesa nos Estados Unidos.»
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O espaço, que inclui até uma escola, reúne a comunidade lusa da cidade de Elizabeth, Nova Jérsia, onde vivem mais de 10 mil emigrantes portugueses, e é um ponto de encontro habitual nos dias de jogos dos três grandes, havendo também festas organizadas no salão principal.
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