Pinto da Costa celebra 87 anos longe (e perto) da sua paixão
Pinto da Costa celebra este sábado 87 anos. Se marcar presença no Estádio do Dragão, no dérbi frente ao Boavista, será seguramente saudado por milhares de portistas. É o primeiro aniversário fora da presidência do FC Porto, ao cabo de 42 anos de liderança em que conquistou 69 títulos no futebol.
Um ciclo de triunfos ao serviço dos azuis e brancos que o tornaram, mesmo aos olhos de quem nele não votou nas eleições em abril e ao olhos do seu sucessor, André Villas-Boas, o «presidente dos presidentes.» O antigo dirigente máximo do FC Porto luta conta um cancro terminal na próstata e foi recentemente submetido a uma intervenção cirúrgica a uma fratura no fémur. Resiliente, aquele que é presidente honorário do FC Porto e sócio 587, voltou ao estádio para ver os jogos da equipa, mas não na tribuna presidencial. O choque com o elenco de Villas-Boas – que assume aspetos de extraordinária bipolaridade, atendendo que o atual presidente o visitou no hospital e até o desafiou a aceitar uma homenagem em vida – fê-lo trocar a tribuna pelo camarote do seu apoiante João Rafael Kohler.
Para todos os efeitos, 2024 foi um ano que marcou a vida de Pinto da Costa e do FC Porto. O ano da absoluta viragem, depois de uma derrota esmagadora nas urnas no ato eleitoral para os Órgãos Sociais do FC Porto, a 27 de abril. O sufrágio mais concorrido da história dos azuis e brancos culminou com o triunfo do projeto de André Villas-Boas, que recolheu 21.489 votos, representativos de 80,3 por cento do universo de eleitores, contra apenas 5.224 votos de Pinto da Costa.
Quarto de seis filhos de José Alexandrino Teixeira da Costa e de Maria Elisa Pinto, Pinto da Costa nasceu na freguesia de Cedofeita a 28 de dezembro de 1937 e foi eleito presidente do FC Porto a 17 de abril de 1982, com 95 por cento dos votos. Com Pinto da Costa no poder, o FC Porto tornou-se não só uma potência nacional, mas também o clube português mais bem-sucedido fora de fronteiras, com duas Taças dos Campeões Europeus/Champions, duas Intercontinentais, duas Taças UEFA/Liga Europa e uma Supertaça europeia. No plano nacional, ganhou 23 campeonatos, 22 Supertaças, 16 Taças de Portugal e uma Taça da Liga. A 20.ª Taça de Portugal ganha pelo FC Porto, em 2023/24, foi o 69.º e derradeiro troféu de Pinto da Costa… Com Villas-Boas a também levantar a Taça. No seu livro «Azul Até ao Fim», lançado em outubro, Pinto da Costa relatou com amargura esse episódio da final da Taça, no Jamor: «Fiquei surpreendido que o ainda não eleito presidente da SAD fosse para o relvado com a sua mulher, os filhos e os futuros diretores, como se o êxito a eles se devesse. Dir-se-ia que são formas de estar! De facto, não gostei.»
A passagem de testemunho ficou completa a 28 de maio, com André Villas-Boas a assumir a liderança da SAD. Pinto da Costa despediu-se da vida ativa do clube com a promessa de continuar a apoiar as equipas em todas as modalidades, embora a sua saúde limite as deslocações mais longas. Ainda assim, a sua presença no Dragão e no Dragão Arena continua a ser recebida com aplausos calorosos e carinho.
Antes de se tornar presidente, Pinto da Costa já era uma figura ativa no clube, tendo passado por várias secções, incluindo o hóquei em patins, hóquei em campo e boxe, até assumir o departamento de futebol, em 1976. Após ser desafiado por sócios em 1982, iniciou um percurso que culminaria em 15 mandatos consecutivos, marcados por conquistas históricas.
O desafio de AVB: tem a palavra Pinto da Costa
É um segredo bem guardado entre Pinto da Costa e André Villas-Boas. Durante a cerimónia dos Dragões de Ouro, o presidente do FC Porto revelou ter visitado o seu antecessor no Hospital da CUF, onde lhe lançou um desafio especial: aceitar uma homenagem em vida enquanto desfruta de saúde. «A alegria contagiante do que significa o FC Porto para ele e para nós, e na certeza de que a sua obra deve ser dignificada, lancei-lhe um desafio que espero sinceramente que ele aceite e os portistas também», afirmou Villas-Boas, num discurso profundamente emotivo que tocou todos os presentes.
Especulou-se que esta homenagem pudesse, inicialmente, coincidir com o 87.º aniversário de Pinto da Costa, dada a relevância simbólica da data. No entanto, ainda não são claros os detalhes sobre a iniciativa que Villas-Boas tem em mente para eternizar o legado do antigo líder portista. Certo é que o ex-presidente, conhecido pela sua aversão à ideia de renomear o Estádio do Dragão – projeto que ele próprio idealizou –, poderá ser associado a outra das suas grandes obras: o museu do clube.
Pinto da Costa, já recuperado da cirurgia ao fémur, regressou ao Estádio do Dragão, mas ainda não se verificou uma aproximação tácita entre as partes. A ver o que acontece hoje, porque a data será celebrada em noite de dérbi. O profundo respeito de Villas-Boas pelo legado do dirigente mais titulado do mundo mantém viva a sua determinação em concretizar esta homenagem.