Exclusivo A BOLA: «Disseram coisas estúpidas de Di María, foi uma vergonha»

Benfica Exclusivo A BOLA: «Disseram coisas estúpidas de Di María, foi uma vergonha»

NACIONAL08.07.202322:17

César Luis Menotti,84 anos, treinador que conduziu a Argentina à vitória do Campeonato do Mundo de 1978, não deixou indiferente quem gosta de futebol quando, há pouco menos de uma semana, em declarações à Super Deportivo Radio, elevou Ángel Di María ao mais alto dos altares, afirmando que o já confirmado reforço do Benfica, ao qual regressou após 13 anos, «está à altura de Kempes, Maradona e Messi» e que «merece o reconhecimento dos grandes futebolistas».


Agora, em exclusivo a A BOLA, volta ao assunto, para justificar o que disse.


Já passava da 1 da madrugada de sábado quando César Luis Menotti atendeu, finalmente, a chamada telefónica de A BOLA, depois de várias tentativas, sem sucesso, durante a sexta-feira. Simpaticíssimo, disponibilizou-se imediatamente para falar. Diz o que pensa com o lastro de uma vida ligada ao futebol, de quem já viu e viveu tudo num relvado e fora dele, com a sabedoria de quem criou um estilo ou uma filosofia, o menottismo, de um futebol elegante e belo, de posse de bola e trocas de bola, ofensivo, construído a partir do guarda-redes, de quem treinou os melhores do mundo, como Diego Maradona, de quem nada deve a alguém e pouco se importa do que pensam os outros. Fala com calma, lucidez, mas também se entusiasma quando revive memórias ou dispara frases que podem provocar polémica. Quando a chamada acaba, fica a sensação de que se poderia estar a falar com ele horas e horas sem sinal de desinteresse.

SEM RECONHECIMENTO DEVIDO

Não evitámos começar com uma ligeira provocação. Talvez aquelas declarações sobre Di María tenham sido dominadas por simpatia, por haver, provavelmente, uma ligação sentimental, afinal tanto Di María como Menotti cresceram no Rosario Central.

«Não, não, não. Quis dizer o que disse porque é mesmo assim. Di María nunca teve o reconhecimento que merecia. Em todos os lugares onde esteve representou a Argentina como muito poucos. Agora, depois da vitória no Campeonato do Mundo, já não é assim. Mas Di María sempre foi um futebolista comprometido com o futebol, generoso, esforçado, com uma técnica superior. Durante 15 anos ou mais foi reconhecido em todo o Mundo, com exceção da Argentina. Foi muito questionado. Foi tão maltratado, vítima de críticas medíocres e desnecessárias», começou por justificar César Luis Menotti.

O treinador de 84 anos, agora diretor das seleções nacionais, cargo mais simbólico do que executivo, recua ao primeiros tempos de Di María, no Rosario Central, para valorizar o percurso do benfiquista: «Começou por destacar-se, desde muito jovem, numa cidade [Rosario] onde é muito difícil alguém ascender à condição de figura importante. Chegou às melhores equipas do Mundo, manteve-se ao mais alto nível durante muitos anos. E o que disseram dele incomodou-me muito, foi uma vergonha. Não foi toda a gente, mas muitos trataram-no mal, disseram coisas estúpidas. Mas Di María tudo superou, com generosidade e com as condições que todos sabemos que tem.»


MELHOR DO QUE NUNCA

A idade de Di María, 35 anos, não preocupa Menotti. «Antes, com 30 anos, metiam o carimbo de velhos aos jogadores», justifica, para acrescentar que o avançado «está impecável e corre como nunca». Para Menotti «Di María está no melhor momento da carreira!»

Quando falou com A BOLA, o treinador desconhecia que Di María tinha sido apresentado com cerca de 2500 adeptos do Benfica a saudá-lo no Estádio da Luz. «Talvez ainda passe aqui na televisão», deixou escapar, para fazer uma revelação. «O que sei é que está muito feliz. Isso sei. Essa receção é, para mim, normal. Enquanto aqui o criticavam, nos restantes lugares sempre teve grande reconhecimento. Ele é humilde. E também sempre teve um montão de reconhecimento dos companheiros. Hoje, também aqui na Argentina, é o Maradona», remata, com ironia disparada contra quem duvidou de Di María.