Depois do inferno, o Vitória de Setúbal está prestes a ganhar um troféu

O histórico Vitória Futebol Clube está perto de voltar a erguer um troféu, 17 anos após a sua última grande celebração. Os sadinos disputaram a II divisão da Associação de Futebol de Setúbal e estão muito próximos de se sagrarem campeões, bastando para isso um empate frente ao Cova da Piedade no próximo sábado, num Estádio do Bonfim que voltará a encher-se.

É preciso recuar até 22 de março de 2008 para encontrar a última conquista dos vitorianos. Frente ao Sporting, os sadinos conquistaram a Taça da Liga, num jogo decidido apenas nas grandes penalidades.

Na temporada transata, o Vitória FC ainda celebrou a subida à Liga 3. Porém, a festa durou pouco. O clube não obteve o licenciamento para competir naquele escalão, nem no Campeonato de Portugal, ambas da alçada da FPF. Era o inferno a chegar ao Bonfim: o clube acabou por cair na II Divisão da AF Setúbal, um cenário negro e inimaginável. Para uns, era o ponto final de uma história gloriosa; para outros, foi a oportunidade de iniciar novo capítulo.

Jogo após jogo, os fiéis adeptos voltaram a encher as bancadas do Bonfim, reavivando a mística. E, em campo, a resposta da equipa, orientada por Paulo Martins, foi inequívoca: futebol atrativo, vitórias consistentes e… muitos golos.

Mais: nesta época, o Vitória superou uma das marcas mais impressionantes da sua história, os 107 golos da época 1964/65. Nessa altura, orientados por Fernando Vaz, os sadinos somaram 61 golos no campeonato e 46 na Taça de Portugal — competição que acabariam por conquistar frente ao Benfica (3-1). Hoje, têm 114 golos só no campeonato, visto não terem participado na Taça da Associação de Setúbal. O melhor resultado foi impressionante: 10-0, com o Vinhense.

A verdade é que, após anos de turbulência — descidas, problemas financeiros e dificuldades fora das quatro linhas —, o emblema de Setúbal pode voltar a conquistar um troféu. Sim, vão longe os tempos de conquistas como a Taça de Portugal em 2005 ou a Taça da Liga em 2008, mas, mesmo assim, e embora o palco seja hoje bem mais modesto, o sentimento é idêntico: orgulho, emoção e esperança renovada.

É já no sábado (17 h) que o Estádio do Bonfim deverá voltar a encher-se para apoiar o Vitória na luta pelo título da II Divisão Distrital. Ver um histórico do futebol português a disputar e a tentar conquistar o sexto escalão pode soar estranho, mas representa o primeiro passo de um percurso que todos os adeptos esperam ver culminar no regresso aos grandes palcos. A ambição está viva em Setúbal e a paixão dos vitorianos mantém-se, mesmo nos momentos mais complicados da história do clube.

Sandro Mendes, antigo capitão e grande figura da história do clube, viveu intensamente algumas das páginas mais bonitas dos sadinos: como jogador, liderou as conquistas da Taça de Portugal (2004/05), frente ao Benfica (2-1) e a Taça da Liga (2007/08), frente ao Sporting, 0-0, (2-3, grandes penalidades).

Agora, como treinador (e campeão da Liga feminina Saudita ao serviço do Al Nassr), relembra os momentos de gloria com a camisola do Vitória: «As conquistas da Taça de Portugal em 2005 e da Taça da Liga em 2008 são memórias que guardo com muito orgulho.» E acrescenta: «Liderar o Vitória de Setúbal nesses momentos foi o ponto mais alto da minha carreira. Recordo especialmente o dia 29 de maio de 2005, no Estádio do Jamor — um dia inesquecível, que ainda hoje me arrepia sempre que vejo as imagens do jogo.»

Em relação à conquista mais especial, não hesita: «A Taça de Portugal. O ambiente, a emoção do jogo e termos vencido o Benfica tornaram esse momento absolutamente único. Mas ambas têm um lugar especial no meu coração.»

Quanto ao presente e futuro do Vitória, Sandro Mendes mostra-se confiante e otimista. «Como vitoriano de coração, nunca perdi a esperança de ver o nosso clube de volta aos campeonatos profissionais. Com trabalho, união e o apoio de todos os vitorianos, acredito que é possível devolver o Vitória FC ao lugar que merece no futebol português», atira, antes de destacar o papel essencial dos adeptos.

«O facto de o Estádio do Bonfim ter estado tantas vezes cheio é, sem dúvida, um sinal encorajador. Durante os anos em que fui capitão, senti de perto a força e a paixão dos nossos adeptos. Essa ligação única entre a cidade e o clube é o maior trunfo do Vitória», sublinha.

O Vitória Futebol Clube está perto de voltar aos títulos. Embora nas distritais, mais exatamente no sexto escalão do futebol português, no Estádio do Bonfim mora, com sete conquistas, o quinto clube com mais títulos em Portugal. E, em relação a presenças na primeira divisão, os sadinos têm 72 participações.

A verdade é uma: em Setúbal, há uma cidade inteira sedenta de voltar a ver os sadinos a escalar divisão após divisão até ao topo do futebol português. Entretanto, o primeiro degrau está ultrapassado, e com distinção. Segue-se a desafiante 1ª divisão distrital da AF Setúbal. O sonho continua…  

Meyong, Cláudio Pitbull e Edinho fizeram vibrar os sadinos no Bonfim e longe dele. Meyong, 10 épocas de verde e branco, fez 18 golos em 23 jogos na sua melhor época (2012/13), números que o levaram até Angola para representar o Kabuscorp.

Arnaldo Silva, mais conhecido por Edinho, destacou-se ali em 2017/18, com 10 golos. E, em 2010/11, a referência do ataque era Cláudio Pitbull. O brasileiro apontou 11 golos em 32 encontros, tornando-se também uma referência sadina.

Hoje, é Pedro Catarino o nome que faz levantar os adeptos das bancadas. E os números que o avançado de 25 anos ostenta esta temporada nsão impressionantes: 43 golos em 28 jogos, sendo o melhor marcador da II Divisão Distrital de Setúbal. Em destaque estão duas exibições memoráveis: cinco golos frente ao Barreirense B (8-0) e repetiu a dose perante o Vinhense (10-0), ambas no Estádio do Bonfim.