Correr muitos kms para dar um simples passo: a crónica do E. Amadora-Sporting
Trincão esteve nos dois golos do Sporting. D. R.

Correr muitos kms para dar um simples passo: a crónica do E. Amadora-Sporting

FUTEBOL30.03.202400:25

Sporting não foi brilhante na exibição, mas nunca poupou no suor

Significativa a efusiva reação leonina quando o árbitro apitou para o final do jogo na Reboleira. O Sporting acabava de garantir a continuidade na liderança do campeonato, faltando-lhe ainda cumprir um jogo em atraso com o Famalicão, e líder será quando, na próxima jornada, receber o Benfica, em Alvalade. Rúben Amorim tinha alertado para a importância deste jogo e chegou a surpreender quando disse que era mais importante do que o dérbi.

O que o treinador do Sporting queria mesmo dizer aos seus jogadores é que estavam proibidos de pensar nos jogos com o Benfica para a Taça e para o campeonato, porque à medida que essa terra prometida do título nacional se vai aproximando, mais longe ela parece estar e por isso os jogadores estarão submetidos a uma pressão imensa que gera instabilidade emocional, perturba o espírito, gasta energias a dobrar.

E, como se viu, não foi nada fácil a vitória frente ao décimo terceiro classificado da Liga. Primeiro, porque o Estrela marcou primeiro; depois, porque o Estrela foi intenso e até atrevido nas ambições durante todo o jogo; e, finalmente, porque a equipa sentiu, de princípio ao fim, a responsabilidade de não poder perder pontos.

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Uma certa classe operária

Não foi brilhante a exibição do Sporting, mas, digamos, que teve uma certa classe operária, que lhe permitiu virar o resultado e controlar o jogo com o menor risco possível. Foi, de facto, preciso correr muitos quilómetros para este Sporting dar mais um pequeno passo na concretização de um sonho que, nas atuais condições, seria trágico não concretizar.

Percebe-se, em cada jogador, que as botas pesam mais e a bola queima. As coisas já não estão a sair com a mesma fluidez, Gyokeres continua a ser importante, mas não tanto demolidor; a organização continua sólida, mas a equipa sente cada vez mais a necessidade de ter bola, de a proteger do adversário, porque a convicção no golo não é a mesma.

E, no entanto, assinale-se, a equipa continua a mostrar-se segura e confortável no seu sistema habitual, colocando Geny Catamo e Nuno Santos nas alas, dando largura ao ataque e espaço à movimentação de Gyokeres e de Paulinho, ontem, beneficiados pela esplêndida exibição de Trincão e pela competentíssima exibição de Bragança.

Vai ser sempre a subir

É verdade que o Sporting deveria viver uma liderança feliz. Tem um avanço pontual que ainda lhe permite uma tarde ou uma noite menos conseguida. No entanto, é impossível pensar-se que esta equipa não vai ter cada vez maior angústia no caminho para o título. Um caminho que vai ser sempre a subir e por isso exigirá mais esforço, mais concentração, mais sofrimento, mais paixão.

Não me parece que algum destes fatores esteja em risco. O Sporting joga como uma equipa solidária, uma equipa personalizada, uma equipa de elevada competência profissional. Provou-o nas diversas fases do jogo. No início, quando enfrentou um Estrela de grande dignidade e capacidade de pressão; depois, quando teve de fazer pela vida para virar o resultado: por fim, quando sentiu a necessidade de controlar o jogo, numa altura em que o seu adversário mudou o sistema e se mostrou sério na ambição de evitar a derrota. Em todas estas fases, um denominador comum, essencial ao sucesso: a capacidade da equipa reter a bola e fazê-la circular com rigor e diversidade. É, aliás, nesse rigor que se disfarçam todas as angústias.

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