A última época em que o Sporting venceu por 8-0… fê-lo por duas vezes
Vítor Damas, guarda redes do Sporting, recebe a Taça de Portugal de 1974 (ASF/PRESS PHOTO AGENCY)

A última época em que o Sporting venceu por 8-0… fê-lo por duas vezes

NACIONAL30.01.202408:00

Em 1973/74, o país foi pintado de verde e branco, dado o domínio dos leões em território nacional, assim como de vermelho, pelos cravos que marcaram o fim do Estado Novo, acontecimento histórico que o clube de Alvalade viveu no estrangeiro

Fará no próximo dia 17 de fevereiro 50 anos desde a (agora) penúltima vez que o Sporting venceu por 8-0 na Liga. Aconteceu também em casa, no Estádio José Alvalade, frente ao rival lisboeta Oriental. No entanto, as semelhanças desta partida com a de 2024 frente ao Casa Pia terminam com o resultado. 

Frente aos gansos, houve três jogadores a bisar – Coates, Trincão e Gyokeres –, mas, contra os de Marvila, houve um jogador que brilhou mais do que todos: Héctor Yazalde, que marcou por cinco vezes. Vítor Baltasar, com um bis, e Nélson Fernandes ajudaram a avolumar o resultado. 

Curiosamente, nem três meses antes, o Sporting fizera uma goleada exatamente pelos mesmos números, também a jogar em casa, desta feita frente ao já extinto Montijo. E Yazalde foi de novo a figura do encontro, só que neste logrou fazer seis golos - ou seja, só nestas duas partidas, o argentino abanou as redes adversárias por 11 vezes. Chico Faria e Samuel Fraguito foram os outros marcadores do encontro.

Héctor Yazalde (ASF/PRESS PHOTO AGENCY)

Uma época histórica

Estas duas goleadas fizeram parte de uma época de domínio do Sporting no futebol português. Mário Lino chegara ao comando técnico da equipa no final da temporada anterior, quando o Sporting terminou em 5.º, a 21 pontos do campeão Benfica (numa altura em que a vitória ainda valia dois pontos). Mas a equipa ganhou a Taça de Portugal, qualificando-se assim para a Taça das Taças (competição europeia que reunia os vencedores das taças nacionais europeias). 

Em 1973/74, O Sporting até perdeu na 1.ª jornada com o Vitória de Setúbal, mas venceria as sete seguintes, culminando nesse jogo com o Montijo. Só quase a meio do campeonato é que passaria para o 1.º lugar – ultrapassando esse mesmo Vitória – lugar que nunca mais largaria até conquistar o título de campeão, terminando com o impressionante registo de 96 golos marcados em 30 jornadas. 

Na Taça, o sucesso também foi alcançado, com uma vitória sobre o Benfica na final, após prolongamento (2-1), com golos de Chico Faria e Marinho. 

Panorâmica do campo para o jogo Sporting - Benfica, a contar para a final da Taça de Portugal 1973/74, no Estádio Nacional, em Oeiras (ASF/PRESS PHOTO AGENCY)

O grande destaque individual desta equipa era invariavelmente Héctor Yazalde. O argentino deixou uma marca indelével no Sporting nos anos 70, apontando 126 golos em 131 partidas. E 1973/74 foi a sua melhor época, ao apontar 50 golos em 35 partidas. 

Héctor Yazalde no Sporting (ASF/PRESS PHOTO AGENCY)

Ligação com a Revolução

O Sporting não esteve longe de, nesta época, repetir o sucesso de 1964 na Taça das Taças, já que chegou até às meias-finais da prova, onde perderia com o futuro vencedor, Magdeburgo, que representava a República Democrática Alemã e derrotaria o Milan na final por 2-0.

Após o empate a uma bola em Lisboa, o Sporting disputou o jogo decisivo da eliminatória na Alemanha do Leste a 24 de abril de 1974, horas antes de os Emissores Associados de Lisboa colocarem no ar a música E Depois do Adeus, interpretada por Paulo de Carvalho, e de Salgueiro Maia e os restantes capitães de abril operarem a Revolução que derrubaria o Estado Novo.

Depois de o Sporting, que não pôde contar com Yazalde, perder por 1-2, a comitiva preparava-se para regressar a Lisboa quando soube das notícias revolucionárias, que fecharam o Aeroporto da Portela. A viagem de regresso durou 50 horas e teve o seguinte itinerário: de Magdeburgo para Frankfurt, depois para Madrid e da capital espanhola para Elvas, de autocarro. 

A época de 1973/74 ficou também marcada pelas duas vitórias por 8-0, algo que só voltaria a acontecer com o Casa Pia, praticamente 50 anos depois.