Se eu me chamasse Rui Borges...
Aquilo que se vem passando no Sporting nos últimos três meses tem de ser mau-olhado. Aqui ficam alguns conselhos, não técnicos, claro, para o treinador do Sporting colocar em prática.
Se me chamasse Rui Borges, comprava alhos. Espalhava-os no interior do balneário e em redor do relvado do Estádio Alvalade e em todos os do Centro de Estágio de Alcochete. Pedia para que fossem feitas infusões de alho (talvez também de cúrcuma e gengibre) e distribuía-as pelos jogadores da equipa principal.
Se me chamasse Rui Borges, comprava sal grosso (dez quilos, de preferência) e alguns galhos de alecrim. Colocava-os num copo com água e, antes de sair de casa, rezava um Pai-Nosso e uma Ave-Maria. Mais tarde, quando regressasse, deitava a água na sanita e o alecrim no lixo. Por fim, lavava muito bem o copo e tentava dormir.
Ia uma loja de ferragens, se me chamasse Rui Borges, e comprava chaves de ferro. Levaria uma sempre num bolso das calças, outra penduraria atrás da porta de casa e uma terceira junto aos balneário de Alcochete e de Alvalade. E todos os dias, antes do treino, pediria a um padre para benzer as chaves. E, já agora, também os alhos, alecrim, gengibre, cúrcuma e sal grosso.
Todas as segundas-feiras, se me chamasse Rui Borges, abriria os braços e exclamaria: «Forças da natureza, espíritos companheiros, levai para longe toda a energia negativa que circunda a minha casa e ameaça o meu bem-estar. Formai uma redoma protetora sobre mim e meu lar e afastai todo o mal». Adquiria ainda um incenso e acendia um a cada três dias. Chamando-me eu Rui Borges, compraria também um elefante. De qualquer tamanho. É poderoso amuleto contra o mau-olhado e colocava-o junto a todos os balneários para onde eu fosse. Para já, os de Dortmund e da Vila das Aves. Não esquecendo que a tromba tem de estar sempre virada para a porta.
Por fim, se me chamasse Rui Borges, viajava até Manchester. Por lá, comprava uma planta comigo-ninguém-pode (presumo que, em Inglaterra, se chame with me-no one-can) e enfiava dois pregos na terra, um de cada lado, sem machucar a planta. Depois, ia para a bancada de Old Trafford e gritaria por três vezes na direção do banco da equipa visitada: «Na minha casa ninguém coloca maus-olhados, ok?». Rezaria mais três Pais-Nossos e mais três Ave-Marias e lavaria muito bem as mãos. Antes de regressar a Alvalade, comprava um fato de treino do Manchester United, embrulhava nele dois dentes de alho, um raminho de alecrim, pedaços de cúrcuma e gengibre, um quilo de sal grosso, uma chave de ferro, alfazema, benjoim, cravo (só a flor), mirra, verbena, arruda, cânfora e o elefante, claro. Queimava tudo muito bem queimadinho e deitava as cinzas no londrino Tamisa. Era o que faria se me chamasse Rui Borges. Mas, atenção, o fato de treino do Man. United tem de ter duas iniciais bordadas junto ao coração: RA.