Roberto Martínez, Sr. Aurélio Pereira e o regresso da competição
Miguel Nunes/ASF

OPINIÃO Roberto Martínez, Sr. Aurélio Pereira e o regresso da competição

OPINIÃO26.11.202311:54

Roberto Martínez teve dificuldade em explicar determinadas opções, mas melhorou

A última semana ficou marcada pela forma como conseguimos carimbar a qualificação para o Europeu, só com vitórias. É um feito que devemos valorizar, sem deixarmos de ter os pés assentes no chão. A homenagem da FPF ao Sr. Aurélio Pereira foi outro marco importante, porque o desporto deve saber valorizar e reconhecer o esforço e dedicação daqueles que contribuem genuinamente para o seu crescimento.

Roberto Martínez

O selecionador espanhol conseguiu o pleno de vitórias, algo que nunca tínhamos alcançado. Fomos competentes, concentrados, sérios e focados no objetivo. Podemos referir que o grupo era fácil e que não fizemos mais que a nossa obrigação. Em função do leque de jogadores que temos à disposição, este raciocínio é lógico, mas não deve ser utilizado para diminuir o feito alcançado. Se olharmos para os outros grupos, percebemos que a diferença entre as equipas é semelhante à do nosso. Para aqueles que utilizam o argumento do grupo fácil, coloco esta questão: por que motivo é que mais nenhuma seleção conseguiu o pleno de vitórias? Esta pergunta, por si só, reforça a forma como deixámos, definitivamente, a máquina de calcular para trás e nos afirmámos como favoritos ao Euro. Garantido o apuramento e o pote 1, agora devemos preparar-nos para testes mais duros. Todos os selecionadores têm as suas estratégias. Roberto Martínez foi bem explícito na sua abordagem, que passa por construir uma base de jogadores que seja estável, de forma a criar rotinas, dinâmicas de grupo e interações que nos momentos mais complicados poderão fazer a diferença. No campo, optou por fazer algumas experiências. É adepto de uma flexibilidade tática, embora me pareça que, para ter sucesso frente a adversários de maior dimensão, esta vertente deverá estar mais bem rotinada. O ideal será definir um sistema tático (com variantes associadas), de modo a que, dentro do relvado, os jogadores se sintam confortáveis e que lhes permita demonstrar as suas melhores qualidades. Ao longo do apuramento, deixo apenas uma crítica ao selecionador nacional, que foi a forma como teve dificuldade em explicar determinadas opções. Devo reconhecer que melhorou substancialmente neste capítulo. Sendo uma pessoa organizada e metódica, a melhor justificação que pode dar para a ausência de determinados jogadores (Pote à cabeça) é a quantidade e qualidade de opções que tem e o perfil que pretende em cada uma das posições. Bem ou mal, as escolhas serão sempre suas, mas parece-me muito razoável que as escolhas que faz priorizem determinadas caraterísticas de alguns jogadores e a forma como essas mesmas características podem encaixar na sua ideia de jogo. Por fim, existem pormenores que fazem a diferença. Ao expressar-se na nossa língua, está a demonstrar um enorme compromisso com a sua função. Em todas as conferências as perguntas e as respostas são em português. A evolução na forma como comunica na nossa língua tem sido bem notada. Trata-se apenas de um pormenor, mas que pode dizer muito da pessoa e da sua forma de estar: metódico, dedicado, comprometido e integrado na sua nova realidade.

O Sr. Aurélio Pereira

O desporto, mais especificamente o futebol, é muito atrativo pelo mediatismo que gera. Esta atratividade acaba por atrair todo o tipo de pessoas. Umas que pretendem protagonismo, outras que querem apenas aparecer e estar presentes, outras que se querem aproveitar do fenómeno para progredirem socialmente, outras que se querem servir do futebol e, por fim, aquelas que servem o futebol de corpo e alma e que não querem estar sob os holofotes, preferem antes ficar na sombra. Para este último tipo de perfil, o sucesso dos outros é o seu sucesso. A sua missão divide-se em duas componentes: micro e macro. Micro, quando criam condições para que a sua entidade patronal possa atingir os seus objetivos. A macro tem a ver com a maneira como, pela sua forma de estar, conseguem em simultâneo contribuir positivamente para todo o contexto competitivo que os envolve. Não há dúvidas acerca do perfil do Sr. Aurélio Pereira. Na justa homenagem que a FPF lhe fez, destaco aqui dois apontamentos importantes. Vários grandes jogadores e ex-jogadores deixaram uma mensagem com o seu testemunho. Todos (com uma exceção) trataram Aurélio Pereira como o Sr. Aurélio. Esta forma de tratar quem foi importante no início das suas carreiras demonstra respeito, carinho e reconhecimento por alguém que apenas fez a sua função, sem nunca querer ficar, publicamente, com louros. Ao referirem Sr. Aurélio estão a distingui-lo de tantos outros e a demonstrar a importância que teve no crescimento de todos eles. O segundo apontamento que retiro foi o discurso do Sr. Aurélio Pereira. Mais uma vez, aproveitou a homenagem para dividir os méritos com todos aqueles que trabalharam com ele. Mesmo na hora do reconhecimento, demonstrou que o sucesso só se adquire com trabalho em equipa, agradecendo a homenagem e partilhando-a com todos com quem teve oportunidade de interagir. Foi uma bonita e justa homenagem a um Senhor do futebol que serviu o futebol e nunca se serviu do desporto de que tanto gostamos. Estas são as pessoas que mais falta fazem. Espero que, no futuro, possamos homenagear mais pessoas como o Sr. Aurélio. 

O regresso da competição

Depois de duas semanas de paragem para os jogos das seleções, as competições de clubes estão de volta. Escrevo sem saber o resultado do jogo Benfica-Famalicão, que pode confirmar a retoma, ou não, do Benfica no pós-jogo com Sporting. Até ao final do ano, a densidade competitiva vai ser enorme e vai voltar a colocar à prova os candidatos ao título. De hoje até 17 de dezembro, Benfica e Braga irão realizar cinco jogos e Sporting (joga hoje) e Porto terão seis encontros. No contexto europeu, estará em causa o caminho que os nossos representantes irão ter nas competições europeias. Internamente, a liga portuguesa irá animar as próximas semanas. Os quatro primeiros estão separados por cinco pontos e ninguém quererá perder margem até ao fim de semana de 17 de dezembro, altura em que se jogam, em simultâneo, um Braga-Benfica e um Sporting-Porto. Os quatro têm noção da importância dos próximos encontros até à paragem do Natal. Os objetivos deverão passar por três pontos fundamentais: vencer os seus jogos, ganhar momentum e tentar complementar os êxitos com exibições bem conseguidas, de forma a gerar maior confiança nos jogadores, equipas técnicas e adeptos. O trajeto das competições europeias e a performance nas competições nacionais definirão a forma como estas quatro equipas irão abordar o mercado de janeiro.

A valorizar: Mbappé

Miguel Nunes/ASF

Chegou à marca dos 300 golos aos 24 anos. É um enorme feito de um craque que já joga há muitos anos ao mais alto nível e que continua a demonstrar uma enorme ambição e motivação. Neste momento é, sem dúvida, um dos melhores do mundo.

A desvalorizar: Pinto da Costa

Miguel Nunes/ASF

O presidente do FC Porto deu uma entrevista esta semana onde demonstrou que o clube e a SAD precisam de um novo rumo. Realço as declarações do falecido José Maria Pedroto, que a sua mulher, Cecília Pedroto, nos recordou num momento tão oportuno: «As vitórias de um clube dependem, sobretudo, da sua capacidade de construir uma estrutura ganhadora. Vou mais longe: da capacidade e competência em construir e a manter e, se existir necessidade disso, não ter receio em reconstruir ou deixar que outros, possuidores de uma visão de futuro, assumam esse papel. A história não é benevolente com quem não reconhece a sua evolução e se mantem refém do passado».