Paulinho a mostrar os dentes na sombra
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OPINIÃO Paulinho a mostrar os dentes na sombra

OPINIÃO31.03.202412:00

Na época em que viu chegar Gyokeres, Paulinho faz a melhor campanha nos leões

Não deixa de ser curioso que a estimativa indique que apenas 10 por cento da população mundial seja canhota, mas no Sporting os esquerdinos correspondem a metade do plantel. Ainda agora, na Amadora, jogaram seis de início, e três merecem particular destaque.

Autor do golo da vitória, Nuno Santos passou a somar 18 participações diretas em golos — 6 assistências e 12 tentos —, igualando o melhor registo pessoal, alcançado na temporada do título 2020/21 — 8 golos e 10 assistências. Estranhamente, este rendimento consistente continua curto para uma oportunidade na Seleção Nacional, mesmo quando a concorrência é esbatida numa convocatória com mais de 30 nomes…

Francisco Trincão ainda foi convocado por Roberto Martínez, mas a posterior dispensa, por motivos físicos, terá ditado o adeus ao Europeu. O traumatismo no pé revelou-se recuperável para a visita do Sporting à Amadora, e o ex-Barcelona até esteve associado aos dois golos da equipa de Rúben Amorim, mas é altamente improvável que tenha lugar na comitiva nacional que estará na Alemanha, ainda para mais depois de Francisco Conceição ter aproveitado a semana de ensaios para subir posições numa lista de espera que não terá muitas vagas para preencher.

Paulinho perdeu a disputa minhota e viu Trincão levar o prémio de melhor em campo, mas convive bem com o papel secundário, e isso não deixa de ser digno de um elogio ao avançado de 31 anos, pouco dado a jogadas em bicos dos pés.

No ano em que viu chegar outra referência para o ataque do Sporting — e com um impacto tremendo na equipa, como aquele que Viktor Gyokeres conseguiu —, Paulinho faz a melhor campanha de leão ao peito. Nunca tinha marcado 17 golos, aos quais ainda soma cinco assistências. Está à beira do 50.º tento de leão ao peito — falta um —, em 135 encontros.

Embora tenha sido também uma contratação dispendiosa, Paulinho não precisou de entrevistas para reclamar outro estatuto. Se agora pode dizer-se que tem mais liberdade em campo, foi por ter percebido que podia ajudar a equipa em vários papéis. Não se conformou com o estatuto de suplente de Gyokeres, mesmo correspondendo sempre que o sueco não esteve, e para provar que não existia incompatibilidade até a sombra de Pedro Gonçalves aproveitou.

Paulinho não foi formado nas principais academias do futebol português. Deve o seu crescimento ao Santa Maria, emblema que representou na terceira divisão. O percurso até ao Sporting foi moroso, mas feito pelo próprio pé, com esforço, dedicação e devoção. Mesmo depois de lá chegar, à glória do título, ou da estreia na Seleção, não se deixou levar. Não perdeu a cabeça, e é para lá que aponta sempre que faz um golo.

Paulinho não mostra os dentes só para a fotografia, e mesmo na sombra sabe qual é o seu melhor lado.

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