Opinião de Diogo Luís O sucesso de Cristiano Ronaldo
'Mercado de valores' é o espaço de opinião semanal de Diogo Luís
A minha geração pode ser considerada uma geração de sorte no que diz respeito ao desporto. Tive a oportunidade de ver grandes lutas entre enormes atletas em diferentes desportos. No Basquetebol, vi aquela fantástica equipa dos Chicago Bulls, onde pontificava o incrível Michael Jordan, que se batia contra outras grandes equipas. Na Fórmula 1, tive a oportunidade de ver os duelos de Ayrton Senna e Prost, além dos mais recentes Schumacher ou Lewis Hamilton. No ténis, vi Agassi, Pete Sampras e os incomparáveis Roger Federer, Nadal e Djokovic. No futebol, vi muitos craques e jogadores de outra galáxia. Maradona (já no final da carreira), Ronaldo fenómeno, Ronaldinho Gaúcho, Zidane, Maldini, Iniesta, Xavi, Pirlo, Roberto Carlos, entre tantos outros que nos trazem grandes recordações. Contudo, no futebol, a dimensão e consistência que Lionel Messi e Cristiano Ronaldo alcançaram ao longo do tempo é algo assinalável e que dificilmente iremos voltar a ver.
Da Madeira para o mundo
O caminho de Ronaldo não foi fácil. Exigiu muito dele a todos os níveis. É preciso ser muito forte psicologicamente para ter superado muitos dos obstáculos que teve pela frente. A começar, ainda muito novo, teve de sair da sua zona de conforto para ingressar no Sporting. Aqui teve de enfrentar vários desafios. O primeiro foi estar longe da família. O segundo, a adaptação a uma nova realidade. O terceiro foi a perceção de que os miúdos podem ser cruéis. Acredito que um menino vindo da Madeira, sem grande estrutura familiar, com um sotaque acentuado, deve ter passado por dificuldades adicionais.
A verdade é que Ronaldo consegui superá-las. A paixão pelo jogo foi o seu combustível. É verdade que apostou todas as fichas no futebol, mas teve a capacidade de se agarrar com unhas e dentes ao seu sonho e ao talento inato que tinha.
Trabalho vs. talento
Acho interessante quando dizem que Ronaldo é trabalho e Messi é talento. Quem diz isto não acompanhou a carreira de Cristiano. Os dois são únicos e ultra talentosos. A evolução das suas carreiras foi diferente: Messi manteve as suas caraterísticas, Ronaldo teve a capacidade de ir adaptando o seu jogo com foco no golo. Centrando-me em Cristiano Ronaldo, bastará verem vídeos dele mais novo no Sporting, Man. United ou mesmo Real Madrid para perceberem o talento óbvio que por ali existia.
Ao longo do tempo, Ronaldo foi percebendo que tinha de ser mais objetivo e isso fê-lo desenvolver uma forma de jogar mais focada na baliza. Apesar disto, é importante realçar que a técnica de remate, o cabeceamento ou a velocidade de execução também são talentos, caso contrário metíamos qualquer jogador a trabalhar muito e teríamos um Ronaldo? Lógico que não. Ronaldo nasceu com um talento e condições físicas incríveis, mas também as soube potenciar e desenvolver. Para alguém que veio de um meio social difícil é incrível a forma como nunca se deixou iludir e sempre se manteve muito focado na carreira e no trabalho.
Parte psicológica
A diferença entre um grande jogador e um jogador com potencial está na mente. No futebol utiliza-se com frequência uma frase: «O difícil não é chegar lá, o difícil é mantermo-nos no topo.» Esta frase embora simples demonstra aquilo que pretendo dizer. Muitos fazem um ou outro bom ano, ganham um ou outro título, o difícil é manterem a consistência, a regularidade, a paixão pelo jogo e o sacrifício que o desporto solicita a cada momento para continuarem a ser os melhores. Os grandes atletas têm de ter esta caraterística bem acentuada. Ronaldo sempre a teve. Acreditou sempre em si e isso é bem evidente. Soube gerir os momentos de maior pressão, onde muitas vezes foi desequilibrador. Assumiu a sua responsabilidade e estatuto e nunca se escondeu. Soube manter-se focado e determinado apesar de, desde cedo, ter garantido a sua independência financeira.
Durante muitos anos a sua média de golos foi praticamente um golo por jogo, num contexto competitivo de elevado grau de dificuldade. Os adversários, sabendo disto, criavam estratégias para o condicionar e anular. A realidade é que Ronaldo sempre se preparou para ultrapassar tudo o que lhe aparecia pela frente, sem nunca perder a motivação e o foco nos seus objetivos.
Marca Ronaldo
Cristiano Ronaldo hoje é uma marca. A última avaliação aponta para um valor à volta dos 850 milhões de euros. Vindo de uma estrutura familiar humilde, é incrível a forma como se manteve equilibrado ao longo da carreira. Na vertente desportiva há um antes e depois de Ronaldo. Digo isto no sentido do cuidado e da preparação que os atletas devem ter. Ronaldo apontou o caminho, alcançou o sucesso e hoje é um exemplo para os mais novos. O corpo é a ferramenta dos atletas e, nesse campo, Ronaldo deu cartas na forma como sempre se preparou e cuidou.
A acrescentar à sua dimensão e qualidade desportiva, Ronaldo percebeu aquilo que podia representar fora do relvado. Trabalhou a imagem e hoje é a pessoa com mais seguidores, nas redes sociais. É conhecido e admirado em todo o mundo. Muitos imitam a forma como festeja cada golo, num gesto criado pelo português. Aos 40 anos está próximo de encerrar a carreira. A sua marca no desporto já está criada e será sempre reconhecido como um dos maiores atletas de sempre, algo que só está ao alcance de muito poucos.
No lado de fora dos relvados já tem investimentos em vários setores. O pós-carreira já está a ser trabalhado e preparado. Resta saber se irá ter o mesmo sucesso que teve nos relvados. Para se ter sucesso em qualquer área é fundamental estar rodeado de pessoas competentes, com visão e de confiança à sua volta. Foi isto mesmo que David Beckham disse, recentemente, numa conversa com Rio Ferdinand. O astro inglês afirmou que o seu sucesso fora do relvado teve muito a ver com as pessoas com as quais trabalha e se soube rodear. Aos 40 anos, abre-se um novo mundo e uma nova etapa na vida de Ronaldo, que o fará sair, mais uma vez, da sua zona de conforto e lhe irá exigir outras competências e requisitos.
A valorizar: Hjulmand
Médio do Sporting personifica na perfeição o papel de capitão: seguro, tranquilo, presente e calmo. Tem sabido ajudar a equipa a ultrapassar momentos de maior turbulência. É uma das figuras da Liga.
A desvalorizar: Pepê
Extremo do FC Porto tem sido uma sombra do jogador que já demonstrou ser.