Factos e exigências
David Neres, do Benfica, disputa a bola com Volnei Feltes, do Estoril. Foto: Sérgio Miguel Santos/ASF.

Factos e exigências

OPINIÃO13.10.202309:50

O rosto de Rui Costa no fim do jogo no Estoril foi revelador

Factos e constatações: no campeonato, 8 jornadas, 3 jogos em casa e 5 fora, 1 derrota inicial atípica e até injusta, 7 vitórias seguidas, uma das quais contra o rival FCP (mais a Supertaça). Na Champions, 2 derrotas e nenhum golo marcado. Um plantel que - dizem os mais entendidos - é, se globalmente considerado, o melhor de Portugal. O mesmo treinador, campeão na época passada, então com um estilo de jogo incisivo, competente e, não raro, demolidor.

Percepções e impressões: esta época, o Benfica está a jogar menos e a apresentar estranhas debilidades. O que mudou, afinal? Começando pelo plantel, há duas saídas que não estão a ser devidamente compensadas. Refiro-me a Grimaldo, sendo que, agora, qualquer semelhança com ele é pura coincidência (aliás, Schmidt acredita tão pouco nas novas opções que até escolhe um pronto-socorro adaptado). E, no entanto, o que se gastou e se comprometeu dava para assegurar Grimaldo e até sobrava. E refiro-me a Gonçalo Ramos, o último atacante e o primeiro defesa. Não será fácil conquistar títulos com apenas três medianos ou sofríveis pontas-de-lança. Dá dó ver um jogador que já custou 20 milhões ser a terceira opção, como vimos no Estoril. Por vezes, pergunto-me o que têm Cabral e Tengstedt que o dispensado Henrique Araújo não tem. Oxalá esteja enganado. Os jogos em Milão e na Amoreira preocupam sobremaneira qualquer benfiquista que pense pela própria cabeça. Buracos num meio-campo exíguo (apesar do notável João Neves), convidando o adversário em duas pernadas a chegar à área encarnada, desde logo porque há quem mais à frente não esteja disponível para defender. Se imaginarmos um drone a filmar por cima do relvado, é assustador constatar a desorganização entre linhas afastadas, descoordenadas e pouco solidárias. O regresso de Gonçalo Guedes é, neste contexto, uma esperançosa notícia. No ataque, cansa ver tanto jeito de tiki taka inoperante, ineficaz, lento e previsível, e - passe o exagero da caricatura - quase em jeito de futsal. Poucas vezes se vai centrar à linha do fundo e não se compreende um visível défice de jogo em profundidade. Escasseia também a insuficiência de remates a média distância, sabendo-se que só há golo quando se chuta. Misterioso de todo é o carácter dual ou bipolar de uma parte boa, outra para esquecer ou vice-versa.

Exigências e desafios: por certo, o técnico do Benfica não desaprendeu o que de interessante e decisivo já proporcionou. Antes criticado por não rodar a equipa, na Amoreira bateu o recorde com um pleno de alterações (sete de jogadores e três de posições, as de Otamendi, Rafa e Neres) em comparação com o jogo anterior em Milão! A frase dita por Schmidt no fim do jogo com o Estoril - «não interessa como, interessa é que ganhámos» - pode ser compreensível no contexto da partida, mas é infeliz. No Benfica somos mais exigentes e não nos satisfaz apenas ganhar. O Benfica tem sempre a obrigação de jogar mais e melhor. O rosto de Rui Costa no fim do jogo no Estoril foi revelador.

Nota: António Bagão Félix opta por escrever as suas crónicas na ortografia antiga

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