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Eleições no Benfica: querer não é poder
O lugar é apetecível, em face da dimensão nacional e internacional do emblema, do legado desportivo de largas décadas, da elevada implantação humana, com base de apoio pelas quatro partidas do Mundo, pela influência produzida junto de instâncias decisoras do futebol, em particular, e do desporto português, em geral, pela indesmentível projeção da cobertura mediática permanente e, como é lógico, pela condição de mega-empresa que o nome do Sport Lisboa e Benfica encerra, na sua gestão do dia-a-dia e nas suas valências mais salientes, como o futebol profissional.
Só neste longo parágrafo terei sublinhado a maioria dos aspetos que tornam a presidência do grande clube da Luz um alvo extraordinário e um objetivo de carreira para muitos adeptos que tenham, também, as devidas competências de gestão. Que, atenção, estão longe de ser as únicas requeridas para ocupar o lugar. Conhecimento do fenómeno desportivo, dos seus bastidores, capacidade de lobbying, noção integrada dos modelos a seguir e dos meios necessários para tornar uma empresa de dimensão muito apreciável numa máquina exemplar para todos os seus adeptos.
E não estou, evidentemente, a ater-me ao aspecto puramente resultadista, da mera soma de títulos ou troféus. Um clube com esta dimensão terá, fatalmente, de ser e de motivar muito mais do que isso. Terá de falar para dentro e para fora. A comunicação, hoje democratizada pelo fácil acesso e interação, e transversalizada pela rápida propagação e imediato conhecimento dos factos, com muitos mais fontes (é verdade de algumas menos fiáveis, mas compete a cada um, e em cada momento, separar o trigo do joio…), e com muito mais horizontes, obrigará sempre o titular do cargo mais alto da hierarquia encarnada a um cuidado redobrado e ao exercício de competências muito bem trabalhadas, em cada minuto e para cada decisão.
Rui Costa foi — já nesta página o escrevi — um jogador de eleição, o que não quer dizer que seja um presidente ou um candidato para eleição. O que foi como futebolista profissional confere-lhe ferramentas muito importantes (até porque andou pelo estrangeiro e tem obrigação de valorizar uma visão mais ampla, mais global e integrada do fenómeno futebolístico), mas o universo benfiquista veste-se de particularidades que Costa, tendo percebido enquanto atleta, não conseguiu, até agora, contornar em pleno enquanto líder.
Porém, reconheça-se ao atual número um da estrutura da Luz e do Seixal um atributo essencial: inultrapassável dedicação e benfiquismo, essa aura de que tanto se fala mas que, muito mais importante do que se explicar o que é, se deve demonstrar em cada ato, para que o adepto nele se reveja. E isto, obviamente, é válido para qualquer clube da dimensão do SLB, portanto, para qualquer emblema grande, português ou estrangeiro.
A ligação entre líder e adepto sente-se, por exemplo, no Real Madrid, com Florentino Perez a ultrapassar sucessivas dificuldades, falta de êxitos desportivos, problemas de tesouraria, algumas contratações falhadas, com uma excecional ligação aos adeptos, quase umbilical, o que o salva de convulsões internas à velocidade da luz. Nos clubes latinos, de resto, esta dependência é muito mais notória do que em emblemas de outras paragens europeias, como os blocos anglo-saxónico ou escandinavo, onde dificilmente identificamos, a uma distância razoável, o presidente ou o diretor geral de um clube de topo. Outras sensibilidades, outras personalidades…
Retornemos ao Benfica. Tempo de eleições é tempo de balanços. E, neste particular (também por força da lucidez e saúde democrática do emblema em causa), sempre surgem interessados na cadeira do poder. Que, como sublinhei atrás, no caso vertente, é mesmo um assento poderoso. Alguns nomes recorrentes, como Noronha Lopes, alguns jovens credenciados mas a quem, talvez, falte alguma maturidade no dirigismo para assumir a posição, e outros dois nomes que, por razões distintas, não surpreendem: o próprio Rui Costa e Luís Filipe Vieira, outrora aliados do mesmo lado da barricada, agora queridos inimigos pretendentes ao mesmo lugar.
Escrevi-o há semanas: creio que Rui Costa deveria afastar-se. A recente investida contra tudo e contra todos, após a final da Taça de Portugal, visando arbitragens, dirigentes, decisores e regulamentos, e a ainda mais recente posição de força em relação à muito necessária (imprescindível, mesmo) centralização dos direitos televisivos revelam um dirigente demasiado acossado no espaço e no tempo, sabendo que este escasseia até ao ato eleitoral de outubro e apostado num populismo que, definitivamente, não me parece a solução para um Benfica que se pretende, na geografia do futebol português, parceiro e não opositor, a procurar soluções e a não ser parte de problemas.
Mesmo assim, Costa continua com base de apoio entre os associados, e será sempre candidato a levar em consideração, quanto mais não seja pelo inegável esforço dos últimos anos.
Já quanto a Luís Filipe Vieira, parece-me difícil, por agora, encontrar palavras certas para definir a indomável vontade de poder, de voltar a dirigir, sobretudo depois do modo como saiu do clube.
A ele e às eleições na Luz voltarei após a silly season, tendo embora a certeza de que ela produzirá, como sempre, algumas gargalhadas e muitas surpresas…