Diogo Jota: luz que não se apaga
Os jornais desportivos relatam os grandes feitos, os grandes momentos da História dos atletas, das equipas, do que nos move por paixão pura por um jogo, por competir. Somos, nesse aspeto, veículo para que a glória que alcançam se torne eterna. Se não houvesse quem relatasse, quem mostrasse, não haveria prova de grandeza, do insucesso e do êxito…e da tragédia.
O que sucedeu com Diogo Jota e o seu irmão mais novo, André Silva, vai para além do compreensível. «Deve haver um propósito maior, mas eu não consigo vê-lo», disse Jurgen Klopp. As palavras do treinador alemão que levou Diogo Jota para o Liverpool serão o sentimento de todos aqueles afetados por esta inconcebível tragédia. E ela afetou o país, o mundo na verdade.
Diogo Jota era um nome reconhecido em todo o planeta, porque essa é a dimensão do clube que representava e da Seleção Nacional. Mas a sua história era muito maior do que o seu presente. Pelo simples facto de Diogo Jota ser alguém que cresceu futebolisticamente longe dos três grandes portugueses. As suas hipóteses tornaram-se mais reduzidas que as dos jogadores da formação de Benfica, FC Porto, Sporting e até de SC Braga e Vitória de Guimarães.
O rapaz de Gondomar desafiou essas probabilidades. Passou do clube da terra para viver num lar do Paços de Ferreira, clube que o trouxe até à Liga. Daí, uma compra do Atlético de Madrid e finalmente algum reconhecimento em Portugal quando jogou emprestado pelo FC Porto. Wolverhampton serviu de ponte para Anfield, onde ganhou estatuto, mesmo que no clube tivesse de concorrer com Salah, Mané e Firmino.
Estabeleceu-se na Seleção Nacional e vivia, pelo que se via, uma felicidade plena: campeão pelo Liverpool, vencedor da Liga das Nações, celebrou o casamento com a companheira de sempre, ao lado dos três filhos.
A vida acabou numa autoestrada de Espanha, ao lado de André, também ele futebolista no Penafiel. Imaginar a dor de perder dois filhos é um pensamento que se desvia, imediatamente, para a irracionalidade, pois ninguém o consegue percecionar. Mas ele deve estar presente. Porque os jornais relatam os factos, mas são feitos para pessoas. Os pais não escolhem a importância de um filho, não diferenciam aquele que é uma figura mundial do que joga no escalão secundário. É isso que A BOLA quer respeitar com a sua primeira página, adicionando o icónico cântico dos adeptos do Liverpool, que remete para a solidariedade, em tempos adversos.
Os jornais, hoje, também mostram, mas A BOLA também optou por não incluir em nenhuma das suas plataformas imagens do carro que vitimou Diogo e André. Achamos que é isso que as pessoas para quem fazemos A BOLA esperam. A decência deve sobrepor-se à mera curiosidade e ao sensacionalismo.
A trágica morte de Diogo Jota afetou todo o Desporto e é por isso que a edição de papel de A BOLA sai, nesta sexta-feira, toda ela a preto e branco. Com uma exceção. A figura de Diogo Jota entre os seus companheiros de seleção. Para que nos recordemos todos que a sua luz não se apaga e porque era ele diferente dos outros.