Contas ou vitórias?
André Villas-Boas (ASF)

Contas ou vitórias?

OPINIÃO01.12.202310:11

Com base na assembleia geral (AG) das contas 2022-23 e se fossem a votos hoje, parece que o homem que refundou o clube em 1982 e dele fez um sistema totalitário, ganharia com mais de metade dos votos a Villas-Boas. A figura e crédito do ex-treinador ainda não causou impacto suficiente conforme tenta atestar tanta comunicação a seu favor. 

Villas-Boas (ainda) não percebeu (mas vai a tempo) como funciona a mente dos seus consócios. O seu discurso está parcialmente correto pois releva a duplicação do passivo, poder ter que hipotecar direitos comerciais a terceiros futuramente e a ausência de modelo de negócio economicamente viável que assegure sustentabilidade financeira. 

Duvido, porém, que a maioria dos seus consócios (que não seja acionista da SAD) só queiram ouvir desgraças sobre contas a negativo e passivo. Más notícias que só adiarão vitórias. 

A outra metade do discurso em falta ao ex-treinador incide sobre ter que assegurar, num tom carismático (que ainda não se lhe reconheceu enquanto potencial candidato), que as conquistas não poderão consistir numa luz ao fundo do túnel após ter que percorrer o caminho tortuoso cuja existência já deu a entender. 

O sócio não se foca nisso, nem se lhe exige tempo para arrumar a casa para depois ganhar. A fórmula de sucesso no futebol é ganhar ao mesmo tempo que se prova estar a sanear problemas extra causados por figuras do passado. Adicione transparência (inexistente em Portugal) e o resultado é bombástico. 

Resultados financeiros positivos, captação de sponsors, parcerias frutuosas, enfim, o dinheiro (receita) dever-se-á ao sucesso desportivo. É mais rápido trabalhar sobre o passivo enquanto se ganha. Junte-se uma liderança profissional mas servidora dos sócios e não haverá rival que consiga acompanhar. Aos sócios (clube) promete-se vitórias e prova-se com capacidade de trabalho. 

Aos acionistas, parceiros e sponsors promete-se o mesmo mas com lucro financeiro final. Foi isto que o atual presidente em funções ensinou ao seu futuro oponente com o seu discurso na última AG. Palavras como «temos de estar à volta do clube, à volta do sucesso (...), juntos à nossa equipa de futebol «marcam a diferença tal como vamos vencer»...