Clubismo doentio atrofia sucesso
Pedro Proença é o presidente da Associação Europeia de Ligas (European Leagues)

Clubismo doentio atrofia sucesso

OPINIÃO07.12.202309:07

O que tem de exigir-se é competência, rigor, sensatez e nunca inclinar para o lado mais forte

Ao analisar as competições de outras Ligas europeias, deparamos com avanço de umas e retrocesso de outras. A Liga Portugal, tem procurado estruturar ao longo dos tempos, mantendo observação e análise atentas, para permanecer no pelotão da frente. Contudo, as competições profissionais do nosso futebol, enfermam de vícios que devem ser superados rapidamente, para conseguirmos atingir o topo. Tudo acontece repentinamente e, por isso, é indispensável uma constante evolução.

Num campeonato com 18 clubes, são notórios os patamares diferenciadores: 3 a 4 lutam pelo título e pela Champions, 2 ou 3 tentam entrar nas outras competições europeias (Liga Europa e na Conference League), do oitavo ao décimo terceiro (5) têm como grande objetivo manter-se na Liga e os outros 5 tentam fugir o mais cedo possível à despromoção. Com planteis nem sempre definidos de início, com mudanças periódicas de jogadores, a incerteza cria ansiedade. Além disso, com esse universo, as competições nacionais acusam quebras e menor rendimento em relação ao esperado. A estabilidade das equipas acaba sempre em flutuações que influenciam a classificação. Prever com tranquilidade, é muito útil. Para isso, cada clube deve manter um arquivo atualizado, para ir observando atletas que possam integrar, quer pela qualidade, utilidade, investimento ou poupança e facilidade de integração. Claro que trabalhando bem, com equipas técnicas qualificadas e dirigentes que sabem envolver um grupo coeso, reduzem ao máximo a possibilidade de sofrer uma época desastrosa. Contudo, no topo da classificação, os clubes com maiores investimentos, precisam urgentemente de negócios avultados para a entrada de verbas na tesouraria, mantendo uma informação cuidada para reforçar o plantel. Com conhecimento e acompanhamento, é possível contratar jogadores de muita qualidade, nem sempre muito conhecidos pela maioria, o que é uma tarefa que revela a qualidade do scouting. Ora, os candidatos ao título, ocupam o topo classificativo e lutam «com todas as armas legais» que permitam enfrentar mais obstáculos, que possam ter influência nos títulos, contando com o apoio dos adeptos.

A oposição a alguns clubes de topo, é visível nos jogos que vão ter de jogar fora e nos quais, mesmo não sendo adeptos, descarregam ódios para tentar provocar ambientes pesados para pressionar as decisões de arbitragem, criando dificuldades acrescidas. Acresce ainda, os diversos programas televisivos sobre futebol (um excesso que revela fragilidade, e alimenta guerrinhas que ultrapassam as leis e carecem de rigor) que se dedicam a contestar lances, já ocorridos e sem solução, para um público numeroso, mais por oposição viral aos adversários, do que contribuir para a melhoria do nosso futebol.

O que ainda acrescenta uma ponta de tristeza, é observar que quem alimenta esses debates com ódios de estimação fica incólume, mesmo que possam ser a origem de conflitos sucessivos e raramente em defesa da imparcialidade. E nesse universo, temos políticos, antigos atletas e treinadores, analistas de jogo (novo grupo em crescendo), jornalistas, músicos e outros. Por aí não vem mal ao mundo, desde que o clubismo não ultrapasse os limites legais e racionais, sem transformar o estádio, numa arena de passado longínquo. O clubismo tem condições para crescer de forma violenta, basta ver as agressões a árbitros, mesmo em jogos de camadas jovens. Por isso, alguns participantes nesses programas, onde não é possível o direito de resposta, alimentam um ambiente de polémicas, por erro de visão ou inclinação, havendo necessidade de identificar autores de falhas graves, para penalizar quem exagerou e qual a razão.

O clubismo doentio atrofia sucesso e as consequências são muitas e sistemáticas. Mais importante do que limitarmo-nos a apontar os defeitos e as falhas, seria melhor analisar os contextos com o VAR e tentar conseguir uma decisão rigorosa e unânime. E tudo isto se mantém, quando treinadores das equipas de top do nosso país, criticam o uso da tecnologia, num regresso ao passado, como se fosse melhor! Agora o que tem de exigir-se é competência, rigor, sensatez e nunca inclinar para o lado mais forte. Claro que os erros de arbitragem, alguns decisivos e mal interpretados, acabam por criar polémicas que podem fomentar sementes de violência. Em vez de melhorar o VAR, há alguns que desejam um regresso, «aonde tudo era mais fácil». E com tanto talento nos relvados (e até nos pelados) temos todas as condições para derrotarmos os clubes estrangeiros, com equipas de muitos milhões, desde que em Portugal o fanatismo não impeça a razão.

Prestígio para Portugal

Pedro Proença, líder da Liga Portugal, aceitou a presidência da European Leagues porque tem a possibilidade de conciliar a presidência da Liga portuguesa com a presidência da Associação das ligas Profissionais, que engloba mais de mil clubes em 34 países europeus: prestígio para Portugal. O futebol português sai reconhecido pela competência.

Liga Portugal

O Famalicão recebeu os azuis e brancos que tiveram pouco tempo de recuperação perante o jogo intenso de Barcelona. Mas o FC Porto conseguiu enfrentar um Famalicão intenso, seguro e determinado e manter os dragões unidos, com Varela a distribuir o jogo e garantindo solidez no corredor central, numa dinâmica de acabar um jogo e iniciar com celeridade o próximo. Três golos sem resposta podem dar a ideia de facilidade, contudo o jogo foi muito intenso e equilibrado (Evanilson, Taremi e Francisco Conceição foram os autores dos golos). O Chaves entrou muito competitivo, à imagem do seu treinador, vencendo o Vizela, por 2-1. O Benfica foi a Moreira de Cónegos e o empate foi sem golos; lamentável a ausência do treinador encarnado na conferência após o jogo. O treinador do Benfica continua a teimar num esquema sem fixar presença na área, revelando que após tanto tempo ainda anda perdido, ao sabor do vento e do apito. O Farense perdeu, no Algarve, com o Guimarães por 1-2. O Rio Ave marcou primeiro e o Estrela da Amadora empatou a um golo. O Casa Pia venceu por 1-0 o Portimonense. O Sporting recebeu o Gil Vicente e a equipa de Barcelos foi a primeira a marcar, contudo após um autogolo, o Gil quebrou e o Sporting conseguiu mais dois golos: 3-1. O SC Braga venceu o Estoril Praia, por 3-1. O Boavista jogou com o Arouca e aconteceu a surpresa da jornada: a dimensão da vitória do Arouca por 4-0.

Demanda eleitoral

A concorrência eleitoral que se avizinha nos azuis e brancos deve unir para combater adversários e a questão económica, com reflexão, diálogo e pacificação, para procurar soluções imprescindíveis. É urgente manter a competitividade do clube e as constantes e prestigiantes vitórias nacionais e internacionais, em tempos mais exigentes e a precisar de competência, rigor, gestão e criatividade, para um futuro sustentável. Os títulos carecem de unidade e reflexão profunda. A procura das soluções financeiras, têm de ser encaradas como um adversário urgente a vencer, para o clube se manter no topo. A união entre os adeptos azuis e brancos, após o debate de estratégias, tem de alcançar novas conquistas e «nunca para golos na própria baliza».