Benfica: o vazio que gera mais vazio
O Benfica que esteve no Jamor foi uma mera equipa – que um treinador estabilizou, reforçou à sua imagem e aguentou mais ou menos coesa mesmo quando deu tiros nos próprios pés – e não um projeto. É certo que o mesmo se poderia dizer do Sporting, que este já não é o de Amorim, embora, até pelos recuos de Rui Borges, ajustando as ideias aos pedidos dos jogadores, ainda haja lá coisas do ex-treinador. Ganhou o menos mau a Liga e ainda que os encarnados extraiam um carregado sabor a injustiça da Taça, quem se permite não reagir àquela transição rápida, sobretudo pelos pés que a levava, revela infantilidade indigna de vencedor. Volto ao início, havia um pouco mais de projeto, de continuidade e alinhamento do lado verde e branco e não estranha que, no final, no último fôlego, tudo se voltasse a inclinar a seu favor.
O presidente das águias tornou-se refém das suas palavras antes da final. Tal como renovou com Schmidt fora de tempo, o maior culpado – liderança frágil, resultados no futebol e modalidades, finanças, perdas no scouting, erraticidade no mercado, incapacidade de reter talento – afirmou que Lage é, por sua vez, o menor e vai continuar. Já o treinador, que não pode ser dissociado do duplo fracasso, por ter falhado na afirmação decisiva em vários momentos perante o rival, deixou escapar um «vou falar com o presidente», percebendo que pode exigir mesmo perdendo, porque mais uma vez não há rumo além do dia a dia.
Já o escrevi aqui. Bruno Lage proporciona-me sensações divergentes. Tem grande parte do que valorizo num treinador: a capacidade de antecipar, moldar-se perante os adversários e de resolver problemas com apostas estratégicas de curto ou médio prazo. Basta ver como enquadrou Di María com Aursnes ou viu valências em Carreras que este ainda não mostrara. Só que depois não nos devem passar ao lado as fragilidades. A incapacidade de mover montanhas com o discurso antes de jogos decisivos – e teve três embates com o Sporting para poder fazê-lo – e a gestão dos jogadores – má a de Schjelderup, entre aposta e suplente esquecido, inexplicável a de um Bruma titular na Taça, inenarrável a de Rollheiser e criminosa a de Prestianni. E o que dizer de Renato? Ficam muitas dúvidas de que seja o treinador indicado.