Benfica: bola de domingo à tarde
'Visão de golo' é o espaço de opinião semanal de Rui Águas, treinador e antigo avançado internacional português
Foi uma tarde de sol, futebol e golos, com um ambiente magnífico, fazendo lembrar outros tempos gloriosos. Honra aos jogadores e a quem encheu o estádio de alegria clubística. Houve espaço até para o regresso da famosa hola mexicana, em grande estilo, celebrando uma vitória concludente e confirmando uma equipa pronta para os exigentes exames finais que se seguem. O Benfica entraria avisado pelo deslize ante o Arouca e a única dúvida relativamente ao vencedor deste jogo na Luz não durou mais que um minuto, num lance inicial em que Trubin e António Silva se anularam entre si, quase permitindo que o Aves SAD abrisse o marcador. Mais uma prova de que qualquer distração pode sempre baralhar as contas...
Subir uma linha defensiva inclui riscos e, neste caso, destapa e amplia as fragilidades que fazem do Aves SAD a equipa mais batida do campeonato. Se a esta opção, algo ingénua, juntarmos a inspiração do trio benfiquista da frente, está quase explicada parte da importante goleada. Pavlidis e Amdouni formaram uma dupla de grande entendimento e dinâmica, que deu espetáculo e desmantelou o centro esquerda da defesa avense. Como terceiro atacante, o Benfica teve a ação fundamental e frenética de Akturkoglu, menos requintado tecnicamente que os parceiros da frente, mas ainda mais agressivo e direto nas suas desmarcações e iniciativas que desgastam quem defende.
O Benfica chegaria à vantagem pouco depois do referido susto inicial, na execução de cantos curtos que surpreenderam a defesa à zona avense, demasiado estática e pouco preparada. Resolvido o jogo ainda na primeira parte, o ritmo caiu, só voltando a espevitar quando Lage mexeu na equipa. De assinalar o regresso ao sistema tático alternativo que vem sendo utilizado com sucesso, em que a plasticidade de Carreras sobressai. A eficácia atacante voltou a revelar-se neste jogo, um ótimo prenúncio para as decisões que se aproximam.
Nota final para os golos de Belotti e Otamendi, dois consagrados internacionais, cuja atitude competitiva explica, a par e passo, o porquê das suas brilhantes carreiras.
SONHOS PARECIDOS
Muito curiosa a conversa que julgo ter percebido da bancada, entre Tiago Gouveia e Tomás Tavares, agora jogador do Aves SAD, durante a subida habitual ao relvado, ritual que os jogadores cumprem em qualquer jogo na Luz. Se bem entendi pelos gestos, Gouveia procurava exemplificar um comportamento defensivo ao colega mais rodado na posição, talvez para esclarecer alguma dúvida posicional. A necessária adaptação a uma nova função obriga a novos hábitos e querer aprender é sempre positivo...Tomás Araújo viria a passar pelos dois amigos, mas sem parar, como que fugindo à realidade atual que o tem obrigado a derivar do meio para a ala.
Sim, porque isto de ser lateral-direito para o Araújo imagino que seja só porque tem de ser... Três casos diferentes mas próximos: Tavares, Tiago e Tomás. Letras iniciais que coincidem e uma mesma posição que agora ocupam em histórias bem diferentes. Tavares, o único lateral de origem, mais experiente mas ainda jovem, é já dono de um trajeto variado, tendo evoluído em quatro (!) países. Já Araújo vem sendo um bombeiro adaptado de extrema utilidade que disfarça o fogo, e bem, mesmo fisicamente limitado. Quanto a Gouveia, é um recente mas promissor candidato à nova posição, onde me parece provável poder triunfar, em função das caraterísticas técnicas e físicas de que dispõe. Veremos se é assim.
GOLOS CONTADOS
Infeliz a decisão arbitral de encurtar os descontos, como por vezes se faz em função da clareza do resultado, mas esquecendo a importância que os golos podem ter numa previsível chegada ao sprint. Sei bem o desgaste a que os árbitros também estão sujeitos durante um jogo, quer física quer mentalmente. Porém, quatro árbitros que comunicam entre si não será o bastante para uma conclusão coerente? Acabou por ser um remate infeliz de uma arbitragem insegura e pouco criteriosa, num jogo que nada teve de complicado. Sabe-se que a decisão final sobre o tempo de compensação é do árbitro principal, mas com o apoio dos restantes elementos da equipa de arbitragem, incluindo o VAR. Será que entre este grupo de árbitros ninguém se lembrou da realidade que vivemos na luta pelo título?