Roberto Martinez durante o Alemanha-Portugal das meias-finais da Liga das Nações
Roberto Martinez durante o Alemanha-Portugal das meias-finais da Liga das Nações - Foto: IMAGO

Basta de invenções: adiós, Martínez; bem-vindo, José Mourinho!

Não tenho nada contra Roberto Martínez. Mas ele não é o meu selecionador. Ontem não era. Hoje também não é. E mesmo que venha a vencer a Liga das Nações, continuará a não ser. Porque o problema não está no discurso - está no conteúdo. E, neste caso, o conteúdo é pobre. Demasiado pobre, se o compararmos com o talento que tem Portugal.

Martínez apanhou a melhor Bélgica de sempre… e fez pouco com muito. Agora, com Portugal, tem um plantel ainda mais rico, mais profundo, mais versátil - e continua a fazer pouco. Não me venham com os resultados. Ganhar à Bósnia, ao Luxemburgo ou ao Liechtenstein é o mínimo exigível com esta geração. E quanto ao Europeu, já muito se disse. E quase tudo foi justo.

Há treinadores que, com pouco, fazem muito. E há outros, como Martínez, que, com muito, fazem pouco. A diferença está na ambição, na exigência, na coragem, na liderança ou ausência dela, na decisão e, se necessário, romper com o que for preciso para fazer a equipa crescer.

O que mais me incomoda nem são as invenções de Martínez - e são muitas. O que verdadeiramente me incomoda é a completa falta de necessidade delas. Porque quando uma Seleção conta com Diogo Costa, Rúben Dias, Nuno Mendes, Dalot, Vitinha, João Neves, Bernardo Silva, Bruno Fernandes, Rafael Leão, Diogo Jota, Cristiano Ronaldo, João Félix - e a lista podia continuar por mais três linhas - o trabalho do selecionador devia ser simples: organizar, motivar e não atrapalhar.

Mas Martínez insiste em complicar. Insiste em inventar onde não é preciso. Desloca jogadores das suas posições naturais, força esquemas, experimenta à procura de uma identidade que, com este grupo, já devia existir. Esta geração não é um laboratório de testes. É uma orquestra de elite. E precisa de ser afinada com liderança, coerência e coragem. Não com hesitações, discursos vazios ou concessões políticas.

Portugal não precisa de um visionário. Precisa de um treinador que confie no talento que tem - e é muito. Um treinador que defina um plano claro, que imponha exigência, que inspire ambição. Que saiba gerir egos, unir estrelas e extrair o melhor de cada jogador. E é aí que entra José Mourinho.

Sim, Mourinho. O homem que já foi amado e odiado, criticado e idolatrado - mas que nunca foi irrelevante. Mourinho não é apenas um treinador com títulos. É um treinador de convicções. De liderança. De compromisso com a vitória. É alguém que entra num balneário e obriga os jogadores a olharem para o espelho - e a quererem ser melhores. Com ele, não há zonas cinzentas: ou se está dentro do compromisso… ou está-se fora.

Mourinho sabe o que é liderar um grupo de estrelas - fê-lo, por exemplo, no Real Madrid. Sabe o que é ultrapassar adversidades - fê-lo no FC Porto, Inter de Milão, Chelsea, Manchester United, Roma etc. Sabe o que é transformar talento em títulos. E, sobretudo, sabe colocar cada jogador no seu lugar - em campo e na hierarquia competitiva. Porque, para vencer, é fundamental que todos saibam onde estão e o que se espera deles.

Ao contrário de Martínez, Mourinho não tenta agradar a todos. Tenta ganhar. E é por isso que seria o homem certo neste momento. Porque esta geração - talvez a melhor da história de Portugal - merece mais. Merece estar nas mãos de alguém que a potencie, não de alguém que, mesmo com dois anos de trabalho, ainda parece à deriva, à procura de um modelo.

Não há tempo a perder. Bernardo Silva, Bruno Fernandes, Rúben Dias, Rafael Leão, João Neves, Vitinha, Diogo Costa, Nuno Mendes... todos estão no auge. Todos estão prontos para conquistar o mundo. Mas precisam de um líder. De alguém com estatuto, experiência e um plano. Alguém que não hesite. Que não invente.

Com Mourinho, saberíamos sempre ao que vamos. Seríamos uma equipa difícil de bater. Teríamos identidade, organização e mentalidade vencedora. E mesmo que não ganhássemos - porque no futebol ninguém pode garantir títulos -, saberíamos que demos tudo. Que não ficámos à espera da sorte, de uma bola parada ou de um rasgo individual de qualquer um dos nossos jogadores. Saberíamos que tínhamos um líder que não abdica de ganhar. E que faz tudo para ganhar.

Mourinho tem os seus defeitos - todos temos. Mas, no fim do dia, o futebol continua a ser sobre vitórias. E Mourinho continua a ser dos poucos que sabe como alcançá-las: com regularidade e personalidade.

Portugal tem talento para ganhar qualquer competição. Mas precisa de um treinador à altura dessa ambição. Alguém que olhe nos olhos dos jogadores e diga: Não basta estar aqui. É preciso merecer. É preciso vencer. É este o plano.

Se há alguém com esse perfil, esse alguém chama-se José Mourinho.

Por tudo isto, digo sem hesitação: Gracias por tu trabajo, Martínez. Pero… Adiós. Bem-vindo, Mourinho.

E que Portugal, amanhã, conquiste a sua segunda Liga das Nações. Até porque, no meu entender, essa vitória pode abrir caminho para Vitinha ganhar vantagem clara sobre Dembélé e Lamine Yamal na corrida à Bola de Ouro.

«Liderar no Jogo» é a coluna de opinião em abola.pt de Tiago Guadalupe, autor dos livros «Liderator - a Excelência no Desporto», «Maniche 18», «SER Treinador, a conceção de Joel Rocha no futsal», «To be a Coach» e «Organizar para Ganhar» e ainda speaker.