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A morte de Diogo e André e um medo insuportável
Nunca falei com Diogo Jota ou o irmão, André Silva, talvez tenha estado em alguma conferência de imprensa ou zona mista do primeiro, antes ou depois de jogos da Seleção Nacional ou dos clubes que representou, não me lembro.
Sem qualquer relação pessoal com o internacional português, encarei a morte dele como se o conhecesse há muito, uma proximidade distante — a psicologia explicará — por mais paradoxal que possa parecer.
Soube da tragédia na manhã de quinta-feira, num canal televisivo que passava a informação em rodapé, sem destaque de última hora, naquele instante pensei até tratar-se de alguém com o mesmo nome e profissão que falecera. Rapidamente constatei, porém, que era Diogo Jota quem partira, acompanhado pelo mano, uma das palavras de que mais gosto, sobretudo dita pela boca dos meus três filhos.
Duas vidas interrompidas, famílias destroçadas, (mais que)um país em choque. A morte, sempre que chega cedo, torna-se ainda mais cruel. Não porque seja menos natural — infelizmente, é a única certeza que temos — mas porque a associamos ao que não foi vivido e poderia ter sido.
Diogo e André eram futebolistas. Que se lixe o futebol!
Quando morre alguém assim sentimo-nos traídos. E juntamente com a tristeza emerge um terror (quase) egoísta — podia ter sido connosco, com a nossa cara metade, com os nossos irmãos, com os nossos filhos, com os nossos pais, com os nossos amigos. A dor da perda alheia torna-se espelho dos nossos próprios medos insuportáveis.
«Este é um momento em que sofro. Deve haver um propósito maior, mas eu não consigo vê-lo», escreveu Jurgen Klopp nas redes sociais, mensagem carregada de emoção do treinador alemão que trouxe Diogo Jota do Wolverhampton para a eternidade no Liverpool, um dos clubes mais especiais do mundo.
Eu também não consigo ver esse propósito maior, mas quero acreditar que haja um nem que seja para encontrar um sentido para algo que não faz sentido. You'll Never Walk Alone, cantamos todos nós, de lágrimas nos olhos, nó na garganta e coração apertado, na vã esperança de tentarmos contribuir para atenuar o sofrimento de quem ficou a carregar uma cruz pesada. Aquelas famílias em suplício nunca caminharão sozinhas, nunca, mas não terão ao lado quem mais gostariam.