Viktor, Conrad, Francisco e Ángel
Ele andava por ali, escondidinho, despercebido no retângulo enorme, espécie de mancha amarela no contrastante verde, quando, de repente, a bola, beijada pelo pé esquerdo do homem do bigode, lhe surgiu à frente, ligeiramente sobre a direita, limitando-se ele a dar o primeiro sinal de vida quando estivera escondidinho bem mais de hora e meia, fugindo primeiro por entre as pernas da longilínea águia com o número 4 nas costas e, depois, entrando na área vermelha e sofrendo falta de um dos craques de 2016, na altura em que o cronómetro do senhor de preto, equipado no Jamor de azul bebé, já caminhava para os 90+10, limitando-se depois, no remate dos 11 metros, a colocar tudo como estava antes do primeiro apito que ecoara no esplendoroso Estádio Nacional, dando assim esperança a que os leões voltassem a fazer o 2x1, ou dobradinha como lhe chamam, 23 anos depois da igualmente histórica época em que os homens das camisolas listradas eram treinados por um romeno de óculos, cuja equipa tinha, lá na frente, um brasileiro de Fortaleza que era igual, na desigualdade, ao sueco de Estocolmo.
Se há coisa que o louro e largo nórdico, nascido em Holte há pouco mais de 20 anos, não sabe fazer é passar despercebido, pelo que, quando saltou do banco bem para lá da hora de jogo, fase em que a equipa dos bicampeões se mantinha em desvantagem, fruto de um golo do turco com tremas no nome, a ideia óbvia, sugerida pelo homem de Mirandela, era que o camisa 19 dos leões, talvez 9 em 2025/2026, tivesse a missão ingrata de transformar a desvantagem em vantagem, algo que foi o seu gémeo, sete anos mais velho, a conseguir quando o tal cronómetro do senhor de azul bebé caminhava para os 90+10, o que não invalidou que tivesse sido ele, o menino de Holte, a receber passe do senhor de bigode e subindo bem alto, como só um gigante consegue, colocasse, por fim, aos 99' (número de ponta-lança), o leão na frente da águia.
Há, porém, louros e louros e acima de todos, pelo menos nos 120’ do Jamor, há o bronzeadíssimo vianense do bigode robusto, lançando primeiro o sueco de Estocolmo para a fuga pela direita; depois colocando a bola na cabeça do dinamarquês de Holte e, por fim, como se fosse justiça dos deuses, recebendo a bola, trocada pelos dois nórdicos, a fez passar por entre as pernas do longilíneo 4 das águias e disparando, sem hipótese, para o pássaro negro vestido de amarelo que defendia a baliza vermelha, tornando-se ele, o homem do bigode, no homem do jogo.
Por fim, por entre dois louros e um moreno, surgem as lágrimas do menino triste de Rosário, aparentemente desconsolado por ter estado 103 minutos sentado no banco e pouco mais de 17 minutos no, repete-se, esplendoroso relvado do Jamor, tentando, com a tristeza a corroer-lhe cérebro, pulmões e pernas, recolocar a águia em vantagem, algo possível para aquele que foi um dos melhores futebolistas do Mundo de todos os tempos, mas que, naquele latifúndio de Oeiras, apenas se foi arrastando, ninguém sabe muito bem porquê. A não ser, claro, quem ou o quê lhe causou tamanha tristeza.
PS: João Pereira é campeão nacional e vencedor da Taça de Portugal.