Avião que transportava a comitiva da Chapecoense despenhou-se em Medellín, Colômbia, na madrugada de 29 de novembro de 2016
Avião que transportava a comitiva da Chapecoense despenhou-se em Medellín, Colômbia, na madrugada de 29 de novembro de 2016 - Foto: IMAGO

Sobrevivente da Chapecoense lembra tragédia: «Ninguém gritou, não houve pânico»

Alan Ruschel foi um dos seis passageiros, dos 77, que saíram com vida do acidente de aviação na Colômbia há nove anos

Passaram nove anos desde o trágico acidente de viação que vitimou a comitiva da Chapecoense, mas algumas memórias continuam vivas entre os que sobreviveram ao desastre, incluindo o jogador Alan Rushel, uma das seis pessoas que escaparam com vida, depois de o avião se ter despenhado na Colômbia, na madrugada de 29 de novembro de 2016.

«Lembro-me de tudo até ao momento do impacto. O piloto avisou que íamos aterrar, demos uma volta, outra volta e nada... não aterrávamos. De repente, numa dessas voltas, apagaram-se todas as luzes do avião, ficou tudo em silêncio. Ninguém gritou, não houve pânico, apenas aquela sensação de 'o que está a acontecer?' Depois veio uma turbulência muito forte, o alarme dentro do avião tocou... e aí já não me lembro de mais nada. Suponho que tenha sido o momento do impacto», contou em entrevista à Marca.

«Sabia que seria uma viagem longa e queria viajar sozinho, deitar-me numa fila de assentos atrás. Entrámos todos e quando chegou um dos últimos, um jornalista, sentou-se ao meu lado. Então pensei 'não vou conseguir deitar-me'. Nesse momento, Follmann olhou para mim e chamou-me para me sentar com ele. O avião não tinha nenhum problema», recordou.

Alan Ruschel foi um dos seis sobreviventes da queda do avião onde seguia a comitiva da Chapecoense na Colômbia, em 2016
Alan Ruschel foi um dos seis sobreviventes da queda do avião onde seguia a comitiva da Chapecoense na Colômbia, em 2016

«As pessoas que me resgataram disseram-me que eu estava em estado de choque, que pedi para ligarem ao meu pai, que entreguei os meus documentos, a minha aliança... mas não me lembro de nada disso. Contaram-me que estava sempre a dizer que estava com frio, que me doíam as costas e o braço. Tinha um pedaço de madeira cravado no braço, por isso tenho uma cicatriz enorme ali e doíam-me muito as costas. Tive de ser operado porque tinha várias vértebras fraturadas», lembrou.

E prosseguiu a história: «Quando o médico da Chapecoense viu as imagens, pensou que eu tinha perdido a mobilidade para sempre, que não voltaria a andar. Disse que a lesão na coluna era tão grave que provavelmente tinha afetado a medula. Quando cheguei ao hospital, fez-me um teste: pegou numa agulha e começou a picar-me o pé para ver se eu sentia alguma coisa. Senti. E então disse-me: 'Ok, então há uma grande possibilidade de voltar a andar'.»

«No final, foi incrível, porque uma lesão destas normalmente exige 50 ou 60 dias antes de começar a andar novamente. Numa semana, dez dias, eu já estava de pé. Eu não fazia ideia do que tinha acontecido. Quando acordei, perguntei pelas pessoas, pelos meus colegas, e ninguém me dizia nada. Os médicos tinham essa indicação, de não me contarem, até o psicólogo chegar. Quando finalmente me contaram o que tinha acontecido, fiquei bloqueado, sem reagir. Foi um choque muito grande», sublinhou.

O avião que transportava a comitiva da Chapecoense despenhou-se em Medellín, Colômbia, na madrugada de 29 de novembro de 2016. Setenta e pessoas seguiam a bordo, entre jogadores, equipa técnica, staff, jornalistas e tripulantes, tendo apenas sobrevivido seis.