A centralização dos direitos televisivos é uma das temáticas principais no futebol português

Rui Lança: «Centralizar direitos? É preciso gerir bem o dinheiro...»

Análise do ex-diretor das modalidades do Benfica à questão da centralização dos direitos televisivos

Rui Lança, antigo diretor das modalidades do Benfica que exerce funções similares no Al Ittihad, comentou um possível impacto da centralização dos direitos televisivos no futebol português.

— A centralização dos direitos televisivos é a forma de conseguir equilibrar o poder de todos dos clubes?

— Mesmo que seja, não é o início da resolução dos problemas, porque creio que se houver mais dinheiro, se houver uma melhor distribuição, mas ele depois for mal aplicado, vai-se dar ao mesmo. Ou seja, entre o gastar muito mal e o gastar pouco mal, no final do dia estamos a gastar mal. Creio que terá de haver logo um mindset diferente daquele que é o gestor dos clubes. Se for a solução, será só em 2028, por isso ainda há aqui um hiato de uma ou duas épocas desportivas em que cada clube, de alguma forma, vai ter de perceber como pode sobreviver a isso.

Em Portugal, ao contrário de outros países, como a Bélgica ou os Países Baixos, temos três clubes que agrupam uma grande percentagem — para não dizer quase a totalidade — dos adeptos. Isso, efetivamente, traz desvantagens para os outros clubes todos, na questão da negociação, na questão da comparação, de arranjar patrocínios para as camisolas, etc. Por outro lado, há clubes que se calhar queixam-se pouco e tentam rentabilizar quando recebem esses clubes porque é um momento da época onde podem, efetivamente, faturar, gerar mais receita. Nós não vamos conseguir mudar isto, pelo menos de forma tão rápida. O SC Braga, na minha opinião, tem feito um projeto muito interessante, quer no futebol, quer no futebol feminino, quer nas modalidades, e se calhar tem de se olhar um pouco para isto. Eu sei que é algo que não se consegue mudar, não é positivo para alguns dos clubes chamados ‘não grandes’ ou mais pequenos, mas, efetivamente, há uns que choram menos e outros que se calhar olham muito mais para a solução, para encontrar pontos de equilíbrio.

No dia em que o dinheiro passar a ser bem distribuído, isso não quer dizer que todas as pessoas que passem a ganhar um pouco mais vão conseguir agir corretamente. Se não tiverem formação, se o mindset não for correto, vão fazer exatamente o mesmo que fariam que é gastar mal e, por isso, também vai ser interessante perceber o pensamento de ‘ok, agora temos mais dinheiro, o que é que vamos fazer com isto?’ Porque não é só um problema de mindset, é de cultura, de vida social, de hábitos diários.