Raízes, hobbies, sacrifícios: o trajeto das Navegadoras que vão ao Euro
PATRÍCIA MORAIS
Data de nascimento: 17 junho 1992
Clube: SC Braga
Posição: Guarda-redes
Cresceu sem contacto com o pai, o que contribuiu para que se tornasse uma jovem revoltada, que vestia uma capa de proteção, como já confessou. Competitiva, enfrenta as adversárias com um ar intimidante, e até as colegas dizem que é «chata». É sinal da intensidade com que tem encarado toda a carreira, que vai incluir uma terceira participação no Campeonato da Europa (para além do Mundial 2023). Sonhou ser modelo ou cantora, mas encontrou a felicidade com as luvas calçadas, com cerca de uma centena de jogos pela seleção portuguesa.
INÊS PEREIRA
Data de nascimento: 26 maio 1999
Clube: Deportivo (Espanha)
Posição: Guarda-redes
Tem sido um ano especial para Inês, que logo nos primeiros dias de 2025 pediu a namorada, Rita, em casamento. Contratada pelo Everton, mas inelegível para jogar na Liga inglesa, acabou cedida ao Deportivo e mostrou qualidade na Liga espanhola. Na seleção continua a discutir a titularidade com Patrícia Morais, mas assume que é «egoísta» no sentido de querer sempre jogar. «Eu e a Patrícia Morais temos uma relação um bocado peculiar, mas somos rivais. Queremos as duas jogar e damos sempre o nosso máximo para jogar», disse em entrevista ao jornal A BOLA.
SIERRA COTA-YARDE
Data de nascimento: 4 julho 2003
Clube: AFC Toronto (Canadá)
Posição: Guarda-redes
Nascida e criada em Toronto (Canadá), mas filha de mãe portuguesa, Cidália Cota, natural da ilha Terceira, nos Açores. «Si», como também é conhecida, passou alguns anos nos Estados Unidos, no futebol universitário, mas este ano voltou à terra natal para disputar a Northern Super League, a nova Liga do Canadá, ao serviço do AFC Toronto. Fez a estreia pela seleção portuguesa no ano passado, frente à Coreia do Sul. Com apenas 21 anos, destaca-se pela presença física e pela habilidade para jogar com os pés.
ANA BORGES
Data de nascimento: 15 junho 1990
Clube: Sporting
Posição: Defesa central/Lateral/Ala
«Não penso no final, mas sei que está próximo», diz a recordista de internacionalizações de Portugal, que vai para o terceiro Europeu, mas com ambição acrescida para passar a fase de grupos. «Nós próprias também metemos essa questão. No primeiro ano em que fomos (2017) éramos a equipa com menos experiência. Já temos três presenças, temos essa ambição e somos capazes disso mesmo», diz Ana, que apareceu de calças de ganga e ténis na primeira vez que foi treinar a um clube (Fundação Laura Santos). Ao fim de nove anos está de saída do Sporting.
CAROLE COSTA
Data de Nascimento: 3 maio 1990
Clube: Benfica
Posição: Defesa Central
É a DJ de serviço na equipa. Esqueceu-se do passaporte na primeira vez em que foi chamada à seleção, mas hoje em dia só Ana Borges tem mais jogos por Portugal, e Carole acredita que pode chegar às 200 internacionalizações: «Vou de andarilho, mas é possível», diz a defesa, que marcou, de penálti, ao minuto 90+4 do play-off com Camarões, o golo que garantiu a primeira participação portuguesa no Mundial. Festejou seis dos últimos sete campeonatos em Portugal: um pelo Sporting e os últimos cinco, consecutivos, pelo Benfica.
DIANA GOMES
Data de nascimento: 26 julho 1998
Clube: Sevilha (Espanha)
Posição: Defesa Central
«Já dava muitos pontapés dentro da barriga». O futebol fez sempre parte da vida de Diana, que em criança dava cabo da cabeça da mãe quando se atirava para o chão a simular faltas. Cresceu a jogar à bola com os irmãos, na varanda de casa, até que um vizinhou desafiou-a para ir treinar ao Citânia de Sanfins. Joga sempre com duas tranças no cabelo, que se tornaram uma imagem de marca desta jogadora, que em 2022 trocou o SC Braga pelo Sevilha.
ANA SEIÇA
Data de nascimento: 25 março 2001
Clube: Tigres (México)
Posição: Defesa Central
Perdeu cedo a mãe, mas não largou os sonhos. Cresceu sportinguista, mas foi com a camisola do Benfica que conquistou 12 títulos em cinco anos. «Conquistou o meu coração», disse em 2024, quando se despediu em final de contrato com o objetivo de sair da zona de conforto. Assinou pelo Tigres, do México.
CAROLINA CORREIA
Data de nascimento: 3 abril 2002
Clube: Torreense
Posição: Defesa Central
Formada no Benfica, ergueu a Taça de Portugal para o Torreense, no passado mês de maio, frente à antiga equipa. Cometeu um erro na fase inicial do encontro, mas depois ergueu-se com a serenidade de quem é capitã de equipa aos 23 anos de idade, e assinou uma exibição notável a partir daí. Poucos dias depois foi chamada pela primeira vez à seleção portuguesa. «Foi numa altura muito boa. Foi acabar o campeonato em grande, com uma Taça de Portugal, e com uma chamada à seleção», disse ao canal 11.
CATARINA AMADO
Data de nascimento: 21 julho 1999
Clube: Benfica
Posição: Lateral
Natural da Lousã, chorava para que o pai a levasse aos treinos do irmão, mais velho. Fez a formação a jogar nos flancos do ataque, mas com o passar do tempo fixou-se como lateral, embora sem perder a vocação ofensiva. Marcou o golo que deu a primeira vitória de sempre do Benfica na Liga dos Campeões, em 2021.
JOANA MARCHÃO
Data de nascimento: 24 outubro 1996
Clube: Servette (Suíça)
Posição: Lateral esquerda
Se Diana Silva fez os dois golos que apuraram Portugal para o Europeu, Joana Marchão fez as duas assistências. O pé esquerdo começou cedo a dar nas vistas, e com apenas 12 anos foi protagonista de uma reportagem da RTP. O pai, bibliotecário, passou-lhe o gosto pelos livros, e Marchão costuma ler até no balneário, por vezes enquanto ouve Mozzart. Tem uma tatuagem de Freddie Mercury no braço e ideais bem definidos: em fevereiro reagiu com evidente desagrado a um post do Chega de Abrantes que utilizava a sua imagem. «Fascismo nunca mais», escreveu.
LÚCIA ALVES
Data de nascimento: 22 outubro 1997
Clube: Benfica
Posição: Lateral
Perdeu grande parte da temporada devido a problemas físicos, e quando o Benfica garantiu o pentacampeonato, em abril, Lúcia festejou sentada em cima de uma geleira e transportada pelas colegas. «Depois digam-me quanto devo pagar pela viagem», comentou, nas redes sociais. Operada a três meses do Europeu, encarou a recuperação com a mesma garra com que entra sempre em campo. «Foi sem dúvida a época mais difícil da minha curta carreira mas com as pessoas certas do meu lado nunca caí, não virei a cara a luta e segui com os objetivos bem traçados do que quero para mim enquanto pessoa e jogadora», escreveu nas redes sociais.
FÁTIMA PINTO
Data de Nascimento: 16 janeiro 1996
Clube: Sporting
Posição: Defesa Central/Média
No topo da conta de Instagram fixou uma fotografia tirada em Bali. «Na próxima vida quero ser surfista e viver aqui», escreveu. Talvez a Indonésia fique para uma reencarnação, mas Fátima já confessou o desejo de voltar à Madeira quando pendurar as chuteiras e trabalhar como guia, já que tirou o curso de Turismo. Com 11/12 anos também praticava triatlo, e tinha provas no mesmo dia dos jogos de futebol, mas um dia sentiu-se a desmaiar dentro da água e percebeu que tinha de escolher. Já visitou cerca de 40 países, mas só jogou em Espanha e Portugal, com quase 200 jogos ao serviço do Sporting.
ANDREIA FARIA
Data de nascimento: 19 abril 2000
Clube: Benfica
Posição: Média
Quando assinou pelo Benfica, aos 18 anos, traçou dois objetivos: conquistar títulos pelo clube do coração e concluir os estudos. Sete anos depois pode dizer, com orgulho, que tem um mestrado em Finanças e que soma 16 títulos de águia ao peito. Já representou a Seleção no Euro2022, e agora quer mais. Para ela e para a equipa. «Portugal quer manter-se no patamar mais elevado. É sempre um motivo de orgulho representar a Seleção Nacional», diz a jogadora de 25 anos.
ANDREIA JACINTO
Data de nascimento: 8 junho 2002
Clube: Real Sociedad (Espanha)
Posição: Média
«Chega um momento em que não podemos simplesmente marcar presença, temos de fazer com que aconteçam coisas. Para mim e para todas nós, é um objetivo que Portugal passe esta fase de grupos», diz Andreia, que falhou o Europeu de 2022 por lesão, e conta com o apoio da comunidade portuguesa na Suíça. Deixou o Sporting em 2022, mas pensa voltar e cumprir o sonho de ser capitã das leoas, embora se tenha adaptado muito bem à Real Sociedad: «Digo sempre que quero que a minha vida de reformada seja em San Sebastian porque lá a vida é muito boa. A comida é boa, a cidade é linda, ao pé da praia, e a abertura que as pessoas têm é bastante diferente. A cidade em si é muito gira, mas as pessoas tornam-na ainda mais bonita. Para mim, é muito especial estar lá.»
DOLORES SILVA
Data de nascimento: 7 agosto 1991
Clube: SC Braga
Posição: Média
O gosto pelo futebol foi incentivado pelo pai, mas este teve de ir trabalhar para o estrangeiro quando Dolores chegou à primeira divisão de Portugal, com apenas 15 anos. A (então jovem) jogadora agarrou-se ao apoio de uma tia, que lhe deu também um crucifixo que pertencia à avó de Dolores, e que passou então a proteger a média. Capitã da seleção, tem o mesmo estatuto no SC Braga, clube ao serviço do qual soma sete temporadas. No início do ano, quando os arsenalistas inauguraram o estádio dedicado à equipa feminina - batizado com o nome da carismática adepta Amélia Morais (já falecida) - Dolores não evitou as lágrimas, sintomáticas do orgulho no clube e na evolução do futebol feminino português. «Vejo condições que, há uns anos, eram impensáveis, e sou uma privilegiada por viver estes momentos», disse então.
TATIANA PINTO
Data de nascimento: 28 março 1994
Clube: Atlético Madrid (Espanha)
Posição: Média
A alcunha pode enganar, mas ‘Tati’ assume que é «super agressiva» em campo. Nos jogos e nos treinos, embora diga que as colegas já estão habituadas. Não tem propriamente uma preferência relativamente ao número da camisola, mas pares nem pensar. Começou a jogar futebol incentivada pelo pai, mas foi à mãe que prometeu que ia ser profissional e chegar à seleção. Helena morreu quando Tatiana tinha apenas 16 anos, mas a promessa foi plenamente cumprida: mais de 100 jogos por Portugal e uma carreira com passagens por Alemanha, Espanha e Inglaterra (para além do país natal, claro).
BEATRIZ FONSECA
Data de nascimento: 15 setembro 1998
Clube: Sporting
Posição: Média/Extrema
Agora coloca nas costas da camisola o nome formal, Beatriz Fonseca (ou Beatriz F.), mas nas redes sociais mantém a alcunha Bia Meio-Metro, que em tempos também adotou no futebol. A baixa estatura não foi entrave para chegar a um lugar de destaque no futebol português: há um ano trocou o SC Braga pelo Sporting CP, já depois de ter feito a estreia pela seleção. «Foi incrível! Quando o professor me chamou, pensei: 'Vai ser agora?'. E assim que ouvi o meu nome nos altifalantes do estádio percebi: ‘Ok, estou mesmo aqui e vou desfrutar ao máximo'», afirmou então.
ANDREIA NORTON
Data de nascimento: 15 agosto 1996
Clube: Benfica
Posição: Média
Logo no primeiro jogo pela Seleção marcou o golo que garantiu presença inédita num Campeonato da Europa, o de 2017. Filha de Pingo, jogador brasileiro que passou por Portugal na década de 90, Andreia já jogava no principal escalão aos 13 anos. Saiu cedo para o Barcelona, mas lesionou-se nos dois joelhos, e mais tarde também não foi feliz no Inter. Desde 2022 que joga no Benfica, onde conheceu o namorado, Pedro Buaró, atleta de salto com vara. No último Dia dos Namorados o clube decidiu testar o casal, e ficou evidente que a distribuição de tarefas domésticas é um assunto sensível, já que Andreia respondeu que a maior fobia do namorado é... lavar a loiça.
KIKA NAZARETH
Data de nascimento: 17 novembro 2002
Clube: FC Barcelona (Espanha)
Posição: Avançada
É o nome que representa uma nova era no futebol feminino em Portugal. Cresceu com condições de trabalho que as colegas mais velhas da seleção não tiveram, e cedo revelou talento para ser a referência de um futuro mais ambicioso para a seleção. A prova disso é que A BOLA até já descobriu uma menina a quem foi dado o nome Kika Nazareth, em homenagem à antiga jogadora do Benfica. «Eu nem sei se é um agradecimento, mas só vos quero dizer que é mesmo bom, é um orgulho terem-lhe dado o meu nome», disse Kika aos pais da criança, em encontro promovido pelo nosso jornal. Transferida para o Barcelona há um ano, por 500 mil euros, a venda mais cara da história do futebol feminino português, conquistou rapidamente os adeptos culés: foi campeã espanhola mas viu o Barcelona deixar fugir novamente a Liga dos Campeões. Na véspera do jogo não evitou as lágrimas, por falhar a final com o Arsenal, disputada precisamente em Lisboa.
JÉSSICA SILVA
Data de nascimento: 11 dezembro 1994
Clube: NY Gotham FC (EUA)
Posição: Avançada
Acredita que o amor ao futebol nasceu consigo, por influência do pai, que foi jogador, mas Jéssica alimentou essa paixão de forma pouco ortodoxa: «Lembro-me claramente de arrancar as cabeças dos Nenucos da minha irmã ou as laranjas do jardim da minha avó. Tudo servia para jogar», disse a A BOLA. A menos de quatro meses do Campeonato da Europa anunciou, através das redes sociais, que tinha de suspender a carreira por tempo indeterminado. Uma «senhora bolada» no treino fez com que perdesse a visão no olho direito, mas voltou a jogar pelo Gotham FC um mês depois. «Há certezas que não se desfocam e a minha é a paixão que tenho por isto. O chão foi-me tirado e tive de o voltar a construir», escreveu então, nas redes sociais, uma das estrelas de Portugal. Já tinha vencido a Liga dos Campeões Feminina da UEFA pelo Lyon, em 2020, e este ano ergueu a edição da CONCACAF.
DIANA SILVA
Data de nascimento: 4 junho 1995
Clube: Sporting
Posição: Avançada
Teve nota 18 na tese do mestrado em Ciências Farmacêuticas. Embora não seja propriamente uma jogadora de área, muitas vezes tem sido o melhor remédio para a frente de ataque de Portugal, de tal forma que marcou os dois golos da vitória (na Chéquia) que deu o apuramento para este Campeonato da Europa. Assume, contudo, que não tem muito jeito para festejar golos. «Para as pessoas perceberem que estou feliz, tenho de fazer qualquer coisa», chegou a dizer, na Rádio Comercial. A pontualidade também não é o seu forte. Vai protagonizar a grande mudança do verão, na Liga portuguesa, ao trocar o Sporting pelo rival Benfica.
ANA CAPETA
Data de nascimento: 22 dezembro 1997
Clube: Sporting
Posição: Avançada
Começou como guarda-redes, mas chorava a pedir para jogar no ataque, e ao intervalo o treinador fazia-lhe a vontade. Tem feito carreira a marcar golos, mas jamais esquecerá o remate ao poste ao minuto 90+1 da terceira jornada do Mundial 2023, que podia ter desfeito o nulo no marcador, apurando Portugal para a fase seguinte e deixando a poderosa seleção dos Estados Unidos pelo caminho. «Sinceramente nem vi o meu remate, pois caí no chão e só vi a bola ressaltar no poste. Confesso que sonhei naqueles milésimos de segundo em que fui ao chão. Estragar a série da Netflix [que está a ser rodada em pleno Mundial junto da seleção dos Estados Unidos] ia ser qualquer coisa, mas pronto. Podíamos ter invertido esses papéis», disse então.
TELMA ENCARNAÇÃO
Data de nascimento: 11 outubro 2001
Clube: Sporting
Posição: Avançada
Nasceu na Madeira, tal como Cristiano Ronaldo, e também tem lugar na história do futebol português, como autora do primeiro golo de Portugal em fases finais de campeonatos do mundo, a abrir caminho à vitória sobre o Vietname, em 2023. Nesse caso não foi preciso muita força para finalizar, mas uma das imagens de marca de Telma é o remate potente, aprimorado enquanto crescia a jogar com uma bola de basquetebol, em casa. «O Cristiano é o meu ídolo, desde que comecei a ver futebol, sempre foi. Até cheguei a lesionar-se na escola a tentar imitá-lo. Fiz a bicicleta. Tal como ele, quero ajudar a minha família», disse Telma à FIFA, no Mundial.
Este texto foi escrito no âmbito da Guardian Experts' Network, a rede de troca de conteúdos para a edição 2025 do Campeonato da Europa de Futebol Feminino, liderada pelo jornal inglês The Guardian e que tem A BOLA como representante português.