Que Mourinho volte depressa a Portugal
José Mourinho voltou à agenda mediática internacional, mas não pelas melhores razões. Num rescaldo de um dérbi com o Galatasaray, o treinador do Fenerbahçe elogiou o árbitro esloveno nomeado pela federação turca por força de suspeições sobre arbitragens no campeonato. Disse que quem estava no banco adversário saltava como macacos.
Mourinho, sabemos bem, nem sempre foi um bom exemplo junto à linha lateral e pagou por isso. Não o impede, porém, de fazer um comentário. Era o que faltava. As duas coisas podem ser verdade.
As acusações de racismo a Mourinho da trincheira adversária aproximam-se da canalhice. Mesmo considerando que o treinador português escolhe todas as palavras que diz e mede o efeito que podem ter. As acusações do Galatasaray talvez sejam mais uma confissão e denunciem o que pensam de Mourinho. Esperemos que não.
Mourinho, como qualquer treinador, deverá ser julgado pelos resultados. Não precisa de dizer-nos o que ganhou, nem que poucos ganharam tanto como ele. Com o passar dos anos talvez ainda possamos valorizar mais o que fez. Com o passar dos anos mais recentes já podemos olhar de outra forma para o que fez no Manchester United, Tottenham e Roma, sobretudo se considerarmos o que fez quem lhe seguiu as pisadas nesses clubes.
A perceção que temos da realidade, em muitos casos, como no de Mourinho, é influenciada pela forma como a comunicação social trata os assuntos e, sobretudo nos últimos anos, pela força das redes sociais. Para o bem e mal. E, no caso de Mourinho, tem sido mais para o mal. Está a pagar facturas mais caras para os deslizes que possa ter cometido. Ignoram-se circunstâncias para alimentar polémicas, às quais nunca fugirá.
O que está subvalorizado é a realidade de que quem escolhe Mourinho para treinador escolhe um vencedor, como poucos, que sabe mais hoje que quando conquistou a UEFA Champions League pelo FC Porto. Para, em sentido contrário, se valorizar episódios que vivem fugazmente nas redes sociais. Interessa mais um Mourinho em fúria que analisar o trabalho que faz.
Mourinho também merece que se conte dele o que não se vê. E, mesmo não sendo o jornalista notícia, considero justo prestar-lhe reconhecimento. Sempre me tratou com a mais elevada consideração.
Tive a felicidade de acompanhar, algumas vezes em Inglaterra (a primeira a célebre conferência que lhe valeu a alcunha de especial), o terramoto que provocou em Inglaterra. E houve sempre da parte dele abertura e compreensão para me aturar. Recordo, especialmente, um dia em que cheguei atrasado, por atraso do voo, ao centro de estágio do Chelsea, ainda sem o brilho das milionárias obras. Estava a acabar, numa tenda gigante, de falar em conferência de Imprensa, depois para as rádios, depois para os jornais diários e depois para os semanais. Pedi-lhe umas palavrinhas, começámos a falar na tenda, saímos para o edifício do centro de estágio e acabámos com uns minutos de conversa.
Já campeão no Chelsea foi eliminado no jogo seguinte nas meias-finais da Champions pelo Liverpool com um golo fantasma. Depois de falar em conferência de Imprensa teve tempo de falar para os jornalistas portugueses. Haveria mais para contar.
Mourinho, lamento, já só começa a ser notícia, especialmente em Inglaterra, como fait divers. Não precisará de conselhos, mas que volte depressa a Portugal, de preferência a um clube. Com ele virá controvérsia, sim, mas ganhará um vencedor quem o contratar. Isso é o mais importante. E a Liga portuguesa tornar-se-ia pelo menos mais relevante para lá de Badajoz.