Os opostos atraíram-se, mas Maranhão tratou de os afastar (crónica)
De mais para menos e de menos para mais. É assim que se pode descrever a prestação de Moreirense e Alverca, respetivamente, neste início de campeonato. Duas equipas que pareciam a antítese uma da outra. Uma mais jovem, outra mais experiente. Uma com meio-campo mais reforçado, outra com um miolo a dois. Uma a focar pelo centro e a distribuir para as alas, outra a querer progredir mais pelas linhas para depois ir por dentro. Uma a ser mais perigosa na primeira parte, outra com mais ocasiões na segunda. Tudo isto, leia-se, até ao último quarto de hora de jogo, porque, no final, um novo crescimento dos da casa acabou por transformar em mágoa o regresso dos ribatejanos à primeira divisão.
A equipa do Alverca mostrou energia logo nos primeiros minutos mas rapidamente se percebeu de quem era o jogo, com fatores variados a mostrarem isso mesmo. E o primeiro é, inequivocamente, a questão da idade. Porque esta equipa, que conta com 27 reforços para a nova temporada, entrou com um onze inicial cuja média de idades era inferior a 21 anos. Sete jogadores ainda não haviam nascido quando o Alverca jogou, pela última vez, no campeonato nacional.
É óbvio, porém, que a idade não é um fator, só por si, decisivo. Também 21 anos tem Stjepanovic, o médio sérvio que reforçou os de Moreira de Cónegos vindo do Partizan e que, no primeiro jogo de verde e branco, deu sinais de ser uma clara mais-valia para os comandados de Vasco Botelho da Costa. A presença do médio-defensivo permitiu que Ofori se soltasse para ser um motor no meio-campo e que Allanzinho andasse livre para distribuir para as alas. Não significa isso que tudo fosse perfeito na equipa de Moreira de Cónegos, que, no primeiro tempo, pouco ou nada conseguiu fazer com o domínio que os três do meio-campo davam face aos dois dos ribatejanos, com Naves a mostrar-se soberano perante os cruzamentos adversários.
Ainda assim, e se a justiça contasse para alguma coisa, o Moreirense merecia estar na frente. A sensação que ficou ao minuto 27 é que André Gomes sabia disso mesmo: com os defesas abertos, o guarda-redes do Alverca tentou distribuir pelo meio, onde estava... Ofori. O médio soltou para Schettine que, ainda solto de marcação perante a surpresa dos defesas adversários, inaugurou o marcador. Não parou logo o aperto anfitrião, com o guardião emprestado pelo Benfica a redimir-se minutos depois, ao defender mais um remate de Schettine, mas, e contra a corrente do primeiro tempo — e a permitir lançar o segundo —, Chiquinho mostrou porque é que é a principal figura desta equipa do Alverca.
Mesmo numa primeira parte apagada, o criativo ex-Wolverhampton, formado no Sporting e com passagens por Estoril e Famalicão, foi o mais inconformado. A equipa do Alverca só chegou ao intervalo em vantagem porque Chiquinho, num grande momento aos 42', combinou com Marezi, entrou na área e não deu alternativa a Dinis Pinto senão fazer falta. Foi mesmo Marezi que assumiu a cobrança e, apesar de Caio Secco ter acertado o lado, não conseguiu alcançar o esférico. Na segunda, com a equipa com maior pendor ofensivo, também pela maior capacidade de jogar pelas alas, onde Gonçalo Esteves apareceu, foi o responsável pelos lances mais perigosos dos ribatejanos, como quando, perto da hora de jogo, lançou, com um passe a rasgar Isaac James para um grande cruzamento que acabou por ser intercetado por Marcelo.
O jogo decorreu mais dividido, com o Moreirense mais nervoso e o Alverca mais atrevido, sobretudo depois do lance de grande polémica: aos 52', Marezi ganhou a dividida a Marcelo, arrancou a partir da direita e fez o golo da reviravolta. Só que, nessa altura, já o jogo havia sido interrompido. Num lance que deixou muitas dúvidas, o assistente de Hélder Malheiro assinalou um agarrão do avançado dos ribatejanos que levou ao golo anulado. Foi o momento em que o Alverca mais perto esteve da vantagem, sendo que o de maior perigo do Moreirense chegou aos 80', com Marcelo a cabecear ao poste. Tudo parecia indicar que era um ponto para cada lado, mesmo que, já a terminar, a equipa da casa voltasse a ter novo ascendente. Que acabou por dar frutos.
O jogo do Moreirense passou sobretudo pelo meio numa primeira fase, antes de a bola chegar à linha para cruzar. Foram vários os cruzamentos da equipa de Vasco Botelho da Costa, que, uma e outra vez, tardaram em dar resultado. Mas, aos 90'+5, a insistência quebrou o muro da defesa adversária, com Maranhão a desviar a bola centrada por Dinis Pinto para fazer explodir de alegria as bancadas. Três pontos merecidos para o Moreirense, ainda que, depois da primeira parte, a réplica dada pelo Alverca também fosse digna de alguns espólios.
As notas dos jogadores do Moreirense: Caio Seco (5); Dinis Pinto (5), Maracás (5), Marcelo (6), Francisco Domingues (6); Stjepanovic (6), Ofori (6); Kiko Bondoso (5), Alanzinho (6), Teguia (5); Schettine (7); Álvaro (5), Benny (5), Rodrigo Alonso (5), Maranhão (6)
As notas dos jogadores do Alverca: André Gomes (4); Naves (6), Baseya (5), Meupiyou (4); Gonçalo Esteves (6,) Tomás Mendes (5), Alex Amorim (5), Isaac James (4); Nuozzi (5), Marezi (6), Chiquinho (7); Sandro Lima (5), Diarra (5), Abdulai (-), Touaizi (-), Tiago Leite (-)
A reação de Vasco Botelho da Costa, treinador do Moreirense:
Sabe sempre bem ganhar, porque dá muito trabalho e é muito difícil. Agradeço aos nossos adeptos, é para eles que jogamos. Foi um jogo muito repartido, típico de primeira jornada. Não era a minha expectativa conseguir fazer um jogo consistente durante 90 minutos, porque a equipa ainda não está nesse nível. E não há mal nenhum nisso. A equipa do Alverca também se apresentou muito solta, nada nervosa. Isso trouxe aquela irreverência que nos deixou sempre em sentido. Mesmo sem grandes oportunidades do Alverca, sentimos sempre que tínhamos de ter cuidado com o que queríamos do jogo, porque principalmente o Marezi e o Chiquinho, nas costas, criaram-nos algum desconforto. Tivemos momentos interessantes, de chegada ao último terço. Alguns momentos em que não imprimimos a velocidade e consistência que queríamos no nosso jogo. Mas temos de olhar para isto com naturalidade e perceber que estamos no nosso processo natural de crescimento.
A reação de Custódio Castro, treinador do Alverca:
Custa perder até por aquilo que foi o jogo. Tivemos bons apontamentos. Temos muitos jogadores novos, muitos deles a jogarem pela primeira vez na Liga Portugal, mas tirámos bons apontamentos. Não podemos esquecer o que estamos a reconstruir no clube. Agora, claramente que um golo nos últimos segundos de jogo, custa sempre. Foi um jogo com grande cariz tático. Tentámos ganhar o espaço interior para depois irmos fora, acabámos por ter uma boa abordagem em termos ofensivos. Podíamos ter tirado mais do jogo ofensivamente. Houve melhorias da segunda parte para a primeira. Agradeço aos nossos adeptos, que foram brilhantes. É por eles que jogamos. Que os jogadores continuem a juntar-se, a unir-se.