‘Off-season’ no futebol português: praia ou continuar a treinar?
O período de férias no futebol leva necessariamente a mudanças no estado físico. É frequentemente caracterizado por uma diminuição na carga de treino ou até mesmo por uma interrupção completa do treino. Há quem opte por colocar em prática a música «pé na areia, a caipirinha, água de côco, a cervejinha».
Embora o período de off-season varie de país para país, este geralmente dura de quatro a seis semanas, enquanto uma pausa durante a temporada pode durar cerca de duas semanas, como o período das festividades natalícias e de final do ano. Estes períodos de interrupção do treino ou volume reduzido podem ser categorizados como de longo prazo (superior a quatro semanas) ou curto prazo (inferior a quatro semanas).
E o que pensar sobre o que acontece no futebol português? Pois bem, totalmente desajustado. Se temos os crónicos candidatos ao título com um período de férias muito curto — entre decisões, jogadores na Liga das Nações e Mundial de Clubes —, alguns jogadores se tiverem 15 dias de descanso já não é mau.
Por outro lado, o campeonato para 48 equipas do Campeonato de Portugal, num total de 56, terminou ainda em abril. Como é que é possível ser denominado de Campeonato das Oportunidades, se os jovens passam metade do ano sem jogar? Neste caso em específico e estando em período de off-season de cerca de quatro meses, o erro aqui passa pelo descanso em demasia. Há com certeza alguns excessos com tanto dia livre. A necessidade de procurar trabalhar e treinar de forma sustentada e projetada com qualidade é essencial, pensando também na minimização do risco de lesão na época seguinte.
A utilização de um programa de off-season tem como objetivo minimizar perdas no desempenho atlético e controlar mudanças negativas na composição corporal. Portanto, este período deve ser refletido como um período de transição. Assim, parte do período deve ser aproveitado para reiniciar o processo de treino e, por sua vez, ajustar progressivamente o nível de preparação física do jogador ao que é necessário para enfrentar e lidar com a carga imposta durante a pré-temporada.
O desempenho no futebol é multidimensional, sendo a aptidão física o ponto-chave que apoia as habilidades técnicas, táticas e de tomada de decisão durante treinos e jogos. Os jogadores de futebol percorrem distâncias até 14 quilómetros em 90 minutos, enquanto realizam ações máximas de curta duração, como por exemplo, saltar, acelerar, correr ou mudar de direção. Há necessidade de níveis de condição física adequada, incluindo capacidade aeróbica e anaeróbica, bem como força e potência.
Todos os anos assistimos a jogadores que se apresentam ao clube com excesso de peso, o que gera naturalmente críticas e preocupações. Este período de transição deve ser sempre acompanhado para tal não acontecer. Pode ser dedicado à recuperação do stress fisiológico e psicológico da temporada competitiva. Portanto, os programas fora de temporada devem ser caracterizados por objetivos de treino com baixa frequência e ferramentas de treino simples para aumentar a adesão.
O praticante deve adotar uma visão holística (por exemplo, fatores sociais, obrigações familiares, necessidade de regeneração mental) ao definir as variáveis individuais de treino (por exemplo, frequência, volume, intensidade) e modalidades da intervenção do exercício. O histórico de treino do jogador, treino acumulado e exposição ao jogo, histórico de lesões, personalidade e preferências do jogador e duração fora da temporada, são fatores que devem ser cuidadosamente considerados. A melhor intervenção de exercício é aquela que se adapta às necessidades específicas de um jogador. Pode ser entendido como uma janela de oportunidade para os jogadores se recuperarem e se autoavaliarem para o início da temporada seguinte. Isso não implica necessariamente uma cessação completa do treino. Pelo contrário, a interrupção do treino pode afetar negativamente o desempenho e aumentar a suscetibilidade a lesões ao reiniciar o treino estruturado e exigente.