Avançado do Milan tem sido alvo de algumas críticas pela inconstância no rendimento

Não te percas, Leão

Aos 25 anos, extremo do Milan parece menos jogador do que aos 22, quando se sagrou campeão e foi eleito melhor futebolista de Itália. Algo terá de mudar – e não são os outros

Lento a reagir, alheado do jogo e sem um pingo de confiança. Uma sombra do extremo explosivo e com altíssima percentagem de sucesso nos duelos individuais. Mais do que discutir se Rafael Leão deveria ter sido titular por Portugal frente à Dinamarca ou substituído ao intervalo por não conseguir fintar um pino, importa perceber se não estaremos a ver mais um jogador híper talentoso ficar a meio caminho de uma corrida que se antevia radiosa.

Não é exagero. Aos 25 anos, Leão parece menos jogador do que quando tinha 22, ano do scudetto conquistado pelo Milan sob a batuta de Stefano Piolli e considerado futebolista do ano na Serie A. Deveria ser ao contrário. Afinal, o tempo ajuda a apurar aspetos como o timing de decisão, relação com a baliza, com o espaço, com os colegas, integração na estratégia adotada por cada treinador, enfim, componentes do jogo que não parecem ter conhecido qualquer evolução.

Esta temporada tem sido particularmente especial e infeliz quando tudo parecia indicar o contrário. Que me recorde, nenhum jogador português a atuar no estrangeiro teve dois treinadores compatriotas consecutivos (Paulo Fonseca e Sérgio Conceição) e curiosamente enfrentou problemas de afirmação com um e sucedendo o mesmo com o outro.

Mais estranha parece ser a atual ligação com Conceição, que entrou no clube a projetar Rafael Leão como um potencial Bola de Ouro, elogios imediatamente retribuídos na primeira semana sobre a «energia» que o campeão nacional pelo FC Porto trouxe ao clube. Um estado de graça, porém, que durou pouco – tal como Fonseca, Conceição também o pôs no banco.

Das duas uma: ou os treinadores estão errados e não entendem as especificidades de um futebolista requintado ou é mesmo inadaptabilidade de Rafael Leão às ideias de um futebol que requer mais do que a técnica, o drible, a corrida. O perigo de se tornar um ás das transições é grande – as transições eram a grande arma dos rossoneri de Piolli – e por consequência limitador porque esse não é o futebol das grandes equipas. E das grandes seleções.

Pensámos que a convivência com Sérgio Conceição poderia ser uma excelente notícia para Rafael Leão porque o técnico português tem no currículo uma série de obras de autor, mas já se percebeu que Milão não é o Porto (e isto é um elogio aos dragões), onde reina a instabilidade e as ideias vagueiam ao sabor do vento.

Só Rafael Leão saberá qual o melhor rumo a seguir, mas os sinais são por demais evidentes: a sua carreira ameaça cristalizar-se e a solução terá de passar por uma mudança, seja ela qual for – de clube, de campeonato ou simplesmente uma mudança de dentro de para fora. Irá sempre a tempo, porém, basta olhar para Dembelé: jogador de atributos únicos, andou anos perdido, sem explorar tudo o que tem para exibir, mas que aos 27 anos e após muita insistência de Luis Enrique finalmente apresenta uma alta regularidade no PSG, a ponto de se equacionar (só a hipótese é já uma vitória para ele) vê-lo no lote de elegíveis para a Bola de Ouro caso os parisienses vençam a UEFA Champions League.

O futebol não tem segredos: só chegam ao topo aqueles que têm uma atitude de Leão. Rafael tem pelo menos a vantagem de não precisar de pedir nada emprestado. Nem o nome.