Mundial de andebol: Nielsen, cheio de pinta e de bem com a vida

Jura que é distraído, reconhece que está longe de ser uma estampa atlética mas é o melhor guarda-redes do Mundo e mostrou que não só do genial Mathias Gidsel se fez a Dinamarca campeã. Emil Nielsen, claro, o guardião do ouro a quem o pai morreu em plenos Jogos Olímpicos e que esteve 28 minutos sem sofrer qualquer golo!

Emil Nielsen despediu-se do Campeonato do Mundo com o troféu de campeão debaixo do braço, o título de melhor guarda-redes e uma eficácia de 42,5 por cento! O dinamarquês fez 125 defesas em 249 remates e melhor, até hoje, só o cubano Vladimir Rivero ( 129, Mundial 1995) e o sul-coreano Lee Suik-houng (126 saves, Mundial de 1995).

O guarda-redes do Barcelona - dizem que o Veszprém vai conseguir contratá-lo para o ano - igualou o compatriota Kasper Hvidt, (125, Mundial de 2007), mas tem apenas 27 anos e um caminho tem ainda muitos quilómetros pela frente.

Mas nem sempre foi assim. Emil Nielsen teve de trabalhar muito para provar que o seu aspeto físico não é defeito, mas sim feitio, feitio de um lutador. O atual selecionador da Dinamarca, Jakobsen, foi dos primeiros a excluí-lo da Seleção, há seis anos, dizendo que tinha de trabalhar mais e ser mais sério. «Sou provavelmente a pessoa mais distraída da Dinamarca«, disse ao site da Federação Europeia o atleta.

Não desistiu com as criticas, ignorou o facto de ter 120 quilos e mostrou que pode fazer o mesmo, ou melhor na maioria dos casos, do que os atletas desenhados a régua e esquadra. Quando representava o Nantes esteve 28 minutos (!) sem sofrer qualquer golo, frente aos jogadores do Dunkerque.

Sobreviveu a uma meningite quando tinha 17 anos que o atirou para uma cama de hospital e que lhe atrasou a carreira em praticamente um ano. «Fiquei mais forte e mais maduro e, por mais clichê que pareça, gosto muito mais de treinar. Vejo as coisas de uma perspectiva diferente e descobri o quão privilegiado realmente sou», contou numa entrevista.

Há seis meses, o guarda-redes dos catalães chorou em silêncio e sozinho a morte do pai durante os Jogos Olímpicos de Paris2024 e só rebentou depois de conquistar a medalha de ouro. «Foi um enorme fardo mental«, confidenciou mais tarde.

Emil vive com Sara, a namorada, em Barcelona e parece inabalável no seu futuro como um dos melhores atletas do Mundo. Sem problemas com o aspeto anafado - «É o meu metabolismo, sou assim desde os 12 anos» - e tudo o que dizem a seu respeito. Emil Nielsen não é apenas o muro da Dinamarca, construiu o seu próprio muro e vive feliz.