Invenção (ou não)
INSTANTES após o Krasnodar ter afundado o Dragão em escândalo, Alcino Pedrosa (amigo meu que sabe da história do futebol o que poucos sabem) lembrou-me Brian Clough (esse Mourinho antes de Mourinho que rasgou a eternidade por Inglaterra) a revelá-lo:
- Existem treinadores que levam a invenção tão longe que até se iludem pelos seus atos, não conseguindo ver o que realmente fazem…
Também o lembrou o Alcino: Clough não deixava de pôr Pedroto no contraponto desses «treinadores inventores» - e à BBC (algures por 1998) reafirmara-o:
- Mr. Pedroto, capaz de fazer e refazer equipas, era brilhante criador, o criador que construía sistemas de jogo e estruturas impressionantes, fazendo crescer jogadores para além deles…
Pode parecer estranho, mas perante o Clough ali, não foi no Sérgio Conceição que pensei num ápice, foi no Bruno Lage. E, vendo-lhe esse traço de Pedroto, logo me apareceu no Lage o Del Bosque também. Sim, ao despedi-lo de treinador do Real, Florentino Pérez admitiu-o:
- Del Bosque tem uma cartilha tradicional e os jogadores querem treinador mais moderno, com uma cartilha mais tática e mais estratégica…
Del Bosque continuou a lidar com os seus pupilos com o seu grande coração e a ganhar ainda mais - através dessa sua capacidade para controlar sentimentos próprios e alheios, da habilidade para pôr nos pés dos seus jogadores as almas que os atiraram ao paraíso. (É, é o que Bruno Lage vai fazendo, cada vez melhor...)
E então sim: voltei a pensar no Sérgio Conceição. Não para pensar que o seu destino pudesse ser súbita desgraça (ou por o julgar inventor a destrambelhar-se...) - mas por achar que refinando (em si) o melhor desse espírito de Del Bosque com o melhor desse espírito de Pedroto (que o Clough adorava) - o Sérgio regressaria, num fogacho, ao que já foi: o treinador capaz de criar sonhos em vez de fantasias (e soluções em vez de problemas), o treinador capaz de fazer ouro dum carvão ou espada duma pedra.