Imagem de um aperto de mão entre um ser humano e um robot
Criar 'fair play' com inteligência artificial é algo arrojado - Foto: IMAGO

IA: desafios e oportunidades

Tribuna Livre é um espaço de opinião de a A BOLA, este da responsabilidade de Sérgio Loureiro Nuno, fisioterapeuta olímpico dedicado a performance e recuperação de lesões desportivas; professor universitário; doutorado em Ciências da Saúde e Motricidade Humana

Conseguem criar fair-play com inteligência artificial (IA)? Talvez seja das poucas coisas que falta. Mas podemos melhorar a sua utilização, nomeadamente em desportos coletivos como o futebol.

A inteligência artificial foi implementada numa ampla gama de contextos desportivos. Essas vertentes incluem, arbitragem (fair-play não está integrado ainda), predição de lesões, identificação de talentos ou planos de treino. A ascensão da inteligência artificial tem implicações importantes para o futuro do desporto e pode ser um recurso promissor e poderoso para mudar alguns paradigmas atuais.

O termo não é novo, já que foi usado pela primeira vez numa Conferência de Ciência da Computação em 1956. No final do século passado, começou a pensar-se com maior regularidade se seria o futuro ou uma falsa esperança de evolução. Hoje sabe-se que é o presente. Goste-se ou não. Tecnologias como o VAR (Video Assistant Referee), no futebol, ou o sistema Hawk-Eye, no ténis, tiveram um claro impacto na gestão de decisões desportivas e vieram para ficar. Podemos melhorar esta experiência no futebol? Claro. Para ontem (com proposta no jornal de hoje).

Embora não haja uma definição consensual sobre inteligência artificial, visto a sua dinâmica atualização, esta pode ser entendida como uma tecnologia com a capacidade de responder a informações ambientais (ou novos dados) e, em seguida, maximizar o desempenho, imitando as capacidades de resolução de problemas e tomada de decisão da mente humana.

Explicar os fenómenos da prática desportiva é desafiador, devido à sua natureza complexa (às vezes também complicada), em geral. Uma abordagem para atingir tal objetivo seria simplificar ou reduzir os níveis de complexidade para gerar regras simples e específicas que pudessem assemelhar-se ao fenómeno real sob investigação quando combinadas. Embora considerada uma abordagem reducionista, poderia contribuir em grande medida para a construção do conhecimento, quando não há conhecimento prévio substancial sobre o fenómeno real que está a ser investigado.

Atualmente, quase todos sabem que ninguém transforma o futebol apenas com tecnologia. Pode quanto muito, estragá-lo. E se, aqui, os atletas forem o centro das atenções? Pelas boas razões, claro.

O lema tem sido proposto e chama-se: deixem os atletas ajudar. Composto por 5 passos, que envolve (1) o atleta enquanto clínico em todas as etapas do desenvolvimento da inteligência artificial, desde a concepção até à avaliação. Todos os dados devem ser partilhados abertamente com os usuários finais; (2) personaliza e protege sistemas de inteligência artificial que criam modelos personalizados para atletas individuais; (3) desenvolve sistemas adaptativos que possam evoluir e ajustar-se com base nas mudanças e necessidades dos atletas ao longo do tempo; (4) propõe equidade com vista a garantir sistemas acessíveis e benéficos para todos os atletas, independentemente do género, cultura, habilidade ou recursos, bem como (5) ecossistemas de inovação, onde se promove parceiras entre pesquisadores, start-ups e instituições estabelecidas para impulsionar o avanço contínuo.

Voltando a falar de tecnologias usadas durante o jogo, a análise e a regulamentação do Hawk Eye, o famoso olho de falcão, demorou vários anos a ser estabelecido, tal e qual o conhecemos hoje. Os jogadores podem solicitar um Challenge — revisão tecnológica à decisão do árbitro. Se a análise confirmar que a decisão foi incorreta, o jogador que solicitou a revisão ganha o ponto. Uma dinâmica que também pode ser estratégica a nível de jogo, visto que os jogadores escolhem sabiamente quando utilizar este Challenge, com base no que veem, sentem e observam da reação do público.

Caso estejam corretos, esta solicitação de revisão continua válida. Por outro lado, se errarem, invalida novo pedido. E porque não fazer isto no futebol? Um pedido por cada parte. A única coisa que mudava era ser através do VAR e não pelo olho de falcão. A pedido de um jogador ou treinador, tendo como porta-voz o capitão de cada equipa para validar a decisão. Beneficiava o jogo e quem está em casa ou no estádio a ver. A dinâmica e o tempo perdido seriam bem diferentes. Um bom exercício para ver se funciona: equacionem meia-dúzia de jogos polémicos e hipoteticamente vejam como esta pequena alteração pode influenciar a experiência e resultado do jogo.