O João Reis e eu fomos desafiados para, conjuntamente, partilhar este espaço no jornal A Bola. Adoro futebol, mas não gosto de escrever sobre futebol. O futebol é para mim um reduto de libertação, um refúgio de não racionalidade. Gosto de o manter assim. Preciso que ele se mantenha assim. Mas para dar mais uma vez razão à tão citada frase de Pimenta Machado de que “o que hoje é verdade amanhã pode ser mentira”, frase que na verdade é tão somente uma representação fáctica da natureza sempre potencialmente mutável da realidade, resolvi abrir uma exceção ao princípio que para mim fixei.
Duas razões justificam que o tivesse feito. O meu clube, o Vitória, que nos solicitou que assumíssemos esta incumbência apelando para a importância de que o fizéssemos. Não gosto de falhar ao meu clube. E o jornal A Bola, que ao entender dar espaço a clubes que não os três habituais, dá um exemplo do caminho que deve seguir o futebol nacional, um exemplo em contraciclo com a realidade exclusivamente tríplice do futebol nacional, um exemplo que procura contrariar o centralismo que caracteriza o nosso país e também o nosso futebol sendo, em minha opinião, responsável por que ele não tenha a dimensão que podia ter. Isto exigia da minha parte essa reflexão, e inflexão; até ver. E já agora, o gosto de partilhar este espaço com o ator João Reis, somos amigos, somos vitorianos (foi aliás pelo Vitória que nos conhecemos) e podemos modestamente contribuir para que ao futebol se lhe não associe necessariamente uma imagem de conflitualidade e imoderação.
E estamos cá por… sentido de pertença. Assim intitulamos este espaço por ser a principal característica do nosso clube e da comunidade que ele representa: gente que tem orgulho de ser de onde é, gente que escolhe o clube por ele o representar, faz parte de nós.
Escrevo ainda quando começa uma nova época no Vitória. Uma época, também ela, de esperança, sem nunca prescindir do realismo. A esperança vai no sentido de conseguirmos consolidar a posição de clube europeu que nos está colada à pele. A comemorar o seu Centenário, o Vitória apresenta 20 participações europeias (com início na época 1969/70) tendo marcado presença em todas as competições da UEFA: Taça Cidades com Feira; Taça UEFA, Taça das Taças, Liga dos Campeões Liga Europa e Liga Conferência. No entanto, há que o reconhecer, nem sempre com regularidade. De facto, só temos qualificações europeias em épocas sucessivas nos anos 80 (3) e nos anos 90 (4); o que significa que esta qualificação para a Liga Conferência representou apenas a terceira vez que nos conseguimos qualificar sucessivamente para as competições europeias e a primeira qualificação sucessiva dos últimos 24 anos, desde a época 1998/99. É para aqui que tem de apontar esta época e para que apontam as nossas esperanças: consolidar o Vitória Europeu.