Gidsel, o mágico que soube pedir ajuda quando bateu no fundo
O andebol mundial perdeu em Paris as duas maiores referências da modalidade dos últimos anos: o francês Nikola Karabatic, 40 anos, e o dinamarquês Mikkel Hansen, 37. Ambos MVP por três vezes, ambos decidiram colocar um ponto final nas suas carreiras nos Jogos Olímpicos. Mas, desengane-se quem pensa que a modalidade não ficará orfã de referências, pois Gidsel, MVP na capital francesa, é um dos novos heróis mundiais. No final de 2024, a Federação Internacional mostrou, em vídeo, as espetaculares jogadas do dinamarquês, de 25 anos.
Mathias Gidsel er på jagt med Füchse Berlin.
— Mediano Håndbold (@Medianohandball) October 23, 2023
Vi mødte ham dagen efter topkampen mod Melsungen. Til en samtale om livet i den tyske hovedstad og om at være en "city upon a hill" for sit hold.
Men også om mental sundhed og træning som vejen til succes. pic.twitter.com/KRJLYQRLKd
Mas nem tudo foi fácil na carreira do lateral do Fuchse Berlin, adversário do Sporting na Champions. Estreou-se pela seleção dinamarquesa oito meses antes dos Jogos Olímpicos de Tóquio, de onde regressou como MVP, segundo melhor marcador (atrás de Hansen) e com a medalha de prata no bolso. Mas mentalmente desfeito.
Here's the man: Mathias Gidsel 🚀🇩🇰#ehfeuro2026 #puregreatness @DanskHaandbold pic.twitter.com/wg8DPGF3vS
— EHF EURO (@EHFEURO) November 6, 2024
«Cheguei a um ponto em que não conseguia continuar mais. Ninguém deve sentir pena de mim porque eu tive o melhor mês da minha vida e isso abriu um mundo totalmente novo de possibilidades. Só quero dar dizer que nunca devem ter medo de procurar ajuda», explicou o atleta que começou jogar no Skjern Handbold, antes do GOG ir buscá-lo com 15 anos e passar a viver longe da família, jogando e estudando num centro de treinos.
Just a kid on his way to the top of the world 🚀🇩🇰
— International Handball Federation (@ihfhandball) December 27, 2024
Mathias Gidsel 🔙 2017 Youth World Championship pic.twitter.com/EPkgbiUuZn
Sempre a brilhar nas camadas jovens, nas primeiras chamadas à seleção A olhava para os ídolos Hansen e Landin, mas a sua principal tarefa era aquecer os guarda-redes. Até ao dia 7 de novembro de 2020 contra a Finlândia quando se estreou depois de muito trabalho dentro e fora de campo já que teve de ganhar quase quarenta quilos em cinco anos para aguentar o embate internacional. Agarrou a oportunidade e no Mundial do Egito, estreou-se com 10 golos contra o Bahrein. Somaria 39, numa eficácia de 80 %(!) e acabou no All Star, tal como Hansen.
Mathias Gidsel is from a 𝗱𝗶𝗳𝗳𝗲𝗿𝗲𝗻𝘁 𝗴𝗮𝗹𝗮𝘅𝘆! 🛸#ehfeuro2024 #heretoplay pic.twitter.com/wl7dy163RJ
— EHF EURO (@EHFEURO) January 19, 2024
Dois milhões de pessoas passaram a saber quem era a nova estrela dinamarquesa. A imprensa, o stress, as expectativas, dezenas de milhares de novos seguidores nas redes sociais, o novo nível de escrutínio sobre absolutamente tudo o que ele fazia fizeram-no tremer. O que antes era natural, passou a não sair em campo. As palavras: 'Mete no Gidsel que ele resolve' desapareceram e deram lugar ao silêncio desconfiado. Procurou ajuda, empurrado por Hansen e só se arrepende de uma coisa: «Estou muito desiludido por ter demorado dois meses para admitir que tinha um problema. Talvez fosse muito egoísta, talvez porque sentisse que era uma derrota procurar ajuda», revelou. «Só posso recomendar a todos os outros jovens atletas de elite que conversem com profissionais sobre os seus problemas. Isso desenvolveu-me muito num tempo muito curto».
👽🛸 Alien mode for Mathias Gidsel 📳#SuperGlobe @FuechseBerlin pic.twitter.com/4NWrMXx5xr
— International Handball Federation (@ihfhandball) November 9, 2023
Quando chegou à final dos Jogos em Tóquio, falhou o golo que podia ter dado o ouro aos dinamarqueses, frente à França. Quando lhe perguntaram se sentia responsável respondeu: «Sinto-me orgulhoso por ter assumido a responsabilidade. Era muito mais fácil ter passado ao Hansen». Em Paris 2024, manteve a mentalidade e conquistou o ouro frente à Alemanha na maior goleada de sempre de uma final (???), foi o melhor marcador (62) - recorde - e líder em assistências (39). Na final, marcou 11 golos e fez sete assistências (85% de eficiência). Naturalmente, recebeu o prémio de MVP de Paris 2024.