Andrea Orlandi (Instagram/andrea_orlandi_s)

Ex-Barça revela: «Estive morto durante 16 minutos, estou aqui por milagre»

Em entrevista ao 'Sport', Andrea Orlandi revelou que sofreu uma paragem cardíaca que quase lhe tirou a vida e recordou a altura em que representou o Barcelona e recusou uma reunião com... Pep Guardiola

Depois de uma carreira de cerca de 15 anos na qual representou clubes como o Barcelona, o Alavés, o Swansea ou o Brighton, Andrea Orlandi retirou-se em 2018/19, ao serviço dos italianos do Virtus Entella, devido a um problema cardíaco.

Continuou a fazer desporto socialmente, como padel ou ténis, até que apanhou um susto que quase lhe tirou a vida: sofreu uma paragem cardíaca.

Em entrevista ao jornal Sport, o agora agente de jogadores recordou a situação, «um milagre».

«Sim, a verdade é que pode dizer-se que estou aqui por milagre. No relatório médico que recebi à saída do hospital, lê-se 'paciente ressuscitado'... Estou a falar a sério. Até achei piada... Pensei: 'Jesus Cristo e mais dois, não é?'. Foi a primeira coisa que me veio à cabeça. Mas sim, pode-se dizer perfeitamente que ando por aqui por milagre. Contudo, acredito que esta experiência mudou a minha vida para melhor», começou por dizer, antes de explicar o que aconteceu.

«Tinha deixado o futebol profissional em 2019 devido a um problema cardíaco. Pensava que tinha a situação bastante controlada, sem necessidade de medicação. Reduzi o ritmo, jogava um pouco de padel, ténis e pouco mais. Numa manhã, inscrevi-me num torneio social de ténis no Laietà, mesmo ao lado do Camp Nou. Não me lembro de mais nada. Só sei que acordei depois de quatro dias em coma. Não me apercebi de nada. Mais tarde, contaram-me que tinha desmaiado devido a uma paragem cardíaca. A pessoa contra quem eu estava a jogar e outros quatro rapazes que disputavam um jogo de pares no campo ao lado salvaram-me a vida. Fizeram-me uma massagem cardíaca», revelou.

«Um dos tenistas pegou no meu telemóvel e ligou para o meu contacto de emergência, que é a minha cunhada, porque a minha mulher nunca atende o telefone. A minha cunhada atendeu, foi buscar a minha mulher e, bem, estive muito perto de não sobreviver. Demoraram 16 minutos a estabilizar-me, o que significa que estive mais de um quarto de hora em paragem, sem oxigénio. Praticamente morto. Levaram-me para o Hospital Clínic em estado crítico, mas estável dentro da gravidade», continuou.

Apesar de tudo, o antigo médio, agora com 41 anos, agradece por não ter ficado com sequelas do incidente: «O medo era esse: sobreviver com sequelas. Basicamente, é uma morte celular progressiva. Cada minuto e cada segundo que passa é fatal. Mas, graças à assistência e à reanimação tão rápida daqueles rapazes, consegui que algum oxigénio chegasse ao cérebro e evitei sequelas. Talvez sinta um pouco mais de cansaço, mas a nível cerebral, no dia a dia, sinto-me bem. Não notei diferença.»

«Vivo bem. Tenho um desfibrilhador subcutâneo e preciso de tomar medicação para o resto da vida. Acaba por se tornar a nossa normalidade. Todas as quintas-feiras tenho de carregar num botão para enviar toda a informação sobre o meu estado para o hospital. Sou monitorizado 24 horas por dia. Se houver algum problema, ligam-me. (...) E já me ligaram. Estava a fazer pilates e entusiasmei-me com um exercício contraindicado. Avisaram-me que não devia fazê-lo. Se nos excedermos, o desfibrilhador dispara e não é conveniente. Só faço pilates e um pouco de ginásio, a um ritmo baixo. E se vou para a passadeira, ando. Não posso correr. Não posso fazer mais nada», afirmou.

«Passei de poder jogar às ordens de Guardiola a ser dispensado no Alavés»

O primeiro aviso, no entanto, já havia surgido há seis anos, em 2019: «Foi em Itália. Estava prestes a assinar, quase de certeza, o meu último contrato, com o Virtus Entella. Já tinham afastado dois jogadores por problemas cardíacos. Nos exames médicos, viram algo estranho. Num segundo teste, detetaram uma cicatriz. Em 15 anos de carreira, nunca tinha sentido nada e estava convencido de que não tinha problema algum. Esperei por um terceiro parecer, de um médico da Federação Italiana que já tinha estudado os casos de Morosini e de Astori, o capitão da Fiorentina, ambos falecidos. Em Roma, disseram-me que os meus exames eram piores que os deles. O médico agarrou-me e disse: "Tens duas filhas, não tens? Então, acabou". Nunca fui de me emocionar muito, mas nesse dia pensei nas minhas filhas e passei meia hora a chorar. Rescindi o contrato, peguei no carro e voltei para Barcelona.»

Orlandi esteve no Barcelona dois anos, nos quais fez apenas um jogo pela equipa principal, no final da temporada de 2005/06. A maioria do tempo foi passado na formação B dos culés, de onde saiu quando chegou ao comando técnico um tal de... Pep Guardiola.

«Tínhamos acabado de descer com a equipa B para a terceira divisão e o Pep chega à equipa B. Eu continuava emprestado pelo Alavés, que estava na segunda divisão. Tinha 22 anos e não queria jogar na terceira. O Guardiola queria falar com vários jogadores e marcou uma reunião comigo. Pois, não fui. Pensei que ia para Vitória de qualquer maneira e que não havia hipótese de o Pep me convencer. Cometi um erro gravíssimo. Era óbvio que ele não só me teria convencido, como me teria apaixonado por ele e eu teria querido ficar, de certeza. Passei de poder jogar às ordens de Guardiola a ser dispensado no Alavés», lamentou.