«Eh pá! Nunca mais é sábado?»
Na semana que antecedeu a última jornada da competição, na qual o Sporting pode conquistar, finalmente, o bicampeonato nacional, a ansiedade dos sportinguistas atingiu os limites. Será um desafio difícil e emotivo, com o Vitória de Guimarães, no Estádio José Alvalade. No último domingo, o Sporting resistiu (1-1) ao inferno da Luz e mantém a liderança, embora em igualdade de pontos com o rival Benfica (que vai jogar em Braga à espera de um deslize do adversário).
Portanto, só a vitória garante aos leões a conquista do 25. º título. O sofrimento (e o nervosismo) dos adeptos vai continuar até à hora do jogo, na perspetiva de mais um êxito que possa proporcionar a explosão de alegria e felicidade, para festejar a verde e branco em todo o país, especialmente na tão desejada festa do Marquês. Por isso, é caso para dizer: «Eh pá! Nunca mais é sábado?»
Roubar o tri ao FC Porto
Esta situação de ansiedade não é única, nem é de agora. Conheço bem esse sentimento, já o observei muitas vezes ao longo da vida. E com o Sporting a garantir o título de campeão na última jornada. Como aconteceu, por exemplo, no dia 1 de junho de 1980, quando a equipa, treinada por Fernando Mendes, derrotou o União de Leiria (3-0) e festejou o título em Alvalade. Tal como agora, com igualdade pontual, Sporting tinha vantagem sobre o FC Porto (vitória em Alvalade 1-0 e empate nas Antas 1-1). Na verdade, o FC Porto, treinado pelo mítico José Maria Pedroto, preparava-se para conquistar o tricampeonato. Dizia-se que já haviam encomendado as faixas do tri. E que teriam até oferecido chorudo prémio aos vimaranenses para vencerem os leões na ronda anterior. Só que o Sporting venceu em Guimarães (1-0), com autogolo de Manaca. E, tal como agora, ficou a depender de uma vitória em casa para festejar em Alvalade.
Vencer o bicampeão da Europa
Das melhores memórias da minha juventude foi a conquista do título nacional para o Sporting, após uma retumbante vitória sobre o Benfica (3-1), em jogo realizado no Estádio José Alvalade. Foi no dia 27 de maio de 1962. FC Porto e Sporting empatados na classificação (41 pontos) mas, tal como agora, a vantagem era do leão (2-0, nas Antas; 0-1, em Alvalade). Os portistas tinham fé que o poderoso Benfica não ia perder com o rival. Porque o Benfica, de Béla Guttmann, com Eusébio, Simões, Coluna, Águas, José Augusto, Germano… acabara de conquistar o título de bicampeão da Europa, ao vencer o campeoníssimo Real Madrid (5-3), em Amesterdão. Por isso, os sportinguistas andavam ansiosos e apreensivos. Mas confiantes… Bancadas a abarrotar de gente, num ambiente fantástico de apoio e entusiasmo. Ainda não havia claques nem fumaradas. O Sporting entrou com garra e determinação e em meia hora chegou ao 2-0 para animar as hostes. Eusébio ainda reduziu mas, na segunda parte, veio o 3-1 para tranquilizar o pessoal. E no final houve invasão pacífica do campo, uma festa tremenda de euforia. Eu tinha 17 anos, também andei por lá, livremente, no relvado. Os jogadores foram levados em ombros, despojados das suas roupas e botas, ficando em cuecas até desaparecerem no túnel para o balneário. Dos onze que jogaram ainda cá estão os meus amigos Mário Lino, Hilário, Perides e Figueiredo. Naquele tempo não havia substituições. Os onze que entravam jogavam até ao fim. Curiosamente, foi uma festa sem incidentes. Com respeito e fair play. Aliás, há fotos de alguns jogadores do Benfica, no final do jogo, no balneário do Sporting, a felicitar os campeões. A grande rivalidade sempre existiu mas foi bonito ver nos festejos adeptos benfiquistas com uma tarja dizendo: «Os bicampeões da Europa saúdam os campeões nacionais.» Muito bem! Olha se fosse agora?
Recordo-me de ver o senhor Juca muito emocionado a receber felicitações de toda a gente. Ele que era treinador dos juniores, campeão na época anterior (1960/61), ser agora o mais jovem treinador de sempre (33 anos) campeão nacional pelo seu Sporting… Juca assumiu a equipa na 2.ª jornada após a demissão do consagrado Otto Glória… e logo na estreia venceu o FC Porto (2-0) no Estádio das Antas.
Festa na Póvoa e no Barreiro
Curiosamente, depois do seu tetra (1951 a 1954), o Sporting passou a ganhar o campeonato de quatro em quatro anos (exceto em 1978, substituído pelo de 1980): 1958, 1962, 1966, 1970, 1974, 1980 e 1982, evitando, assim, que o dominador Benfica chegasse também ao tetra.
Na última jornada, a 23 de março de 1958, para ser campeão, o Sporting venceu o Caldas (3-0), em Alvalade. Porque tinha os mesmos pontos do FC Porto, mas em vantagem (3-0, em Alvalade; 1-2, nas Antas). Este foi o último título para Travassos e Vasques (8 em 12 épocas), João Martins (7 em 11), Juca (5 em 9) e Caldeira e Carlos Gomes (5 em 8).
Na última jornada, no dia 2 de maio de 1966, o Sporting, de Otto Glória e Juca, foi à Póvoa de Varzim vencer (2-1), sagrando-se campeão, com mais um ponto que o Benfica, que também venceu o Belenenses (3-1) no Restelo.
A época 1969/70 foi a conquista mais folgada do Sporting. A qual, infelizmente, acompanhei à distância, através do jornal A BOLA, quando estive na guerra colonial, lá longe, em Furancungo (Moçambique). Com o mestre/treinador Fernando Vaz, o Sporting perdeu apenas com a Académica, em Coimbra, fazendo depois um percurso de 29 jogos sem derrotas, ainda hoje um recorde no clube. Também em 1982, com Malcolm Allison a liderar, o Sporting conquistou a dobradinha e a festa fez-se a duas jornadas do fim.
Na última jornada, a 19 de maio de 1974, para ser campeão, o Sporting tinha de vencer o Barreirense, na deslocação ao Barreiro. Porque o Benfica tinha vantagem (venceu os dois jogos: 2-0, na Luz, e 5-3, em Alvalade). Que grande enchente. Havia gente até às linhas laterais. E que grande euforia. O resultado foi 3-0 e em cada golo havia festa, com a malta a entrar no campo para abraçar os jogadores. Estávamos em tempo de revolução, foi a loucura no Estádio D. Manuel de Melo. Nesta época (1973/74), com o técnico Mário Lino, o Sporting conquistou a dobradinha. Foi o primeiro campeão da liberdade. Tinha uma equipa fantástica, com o Damas na baliza e o argentino Yazalde a marcar golos (Bota de Ouro, com 46).
Em 2000, a primeira vez no… Marquês
E na última jornada, a 14 de maio de 2000, quando o Sporting, de Augusto Inácio, depois de perder em Alvalade, com o Benfica (0-1, golo de Sabry), foi ao Porto vencer o Salgueiros (4-0), em Vidal Pinheiro, ocasionando a conquista de um título que lhe fugia há 18 anos, e motivando uma festa memorável por todo o país. E eu a fazer a reportagem, em Paranhos, no final do jogo; depois em Coimbra, onde o presidente José Roquette tinha prometido ir ao Café Brasil, beber um cafezinho; e por fim, sempre a acelerar, alta noite, no Estádio José Alvalade.
Ah! E pela primeira vez houve festa noturna na Praça do Marquês de Pombal, com o capitão Ivailo Iordanov, já madrugada, a subir na grua dos bombeiros para colocar o cachecol do Sporting na estátua do leão. Parece que foi ontem…
Afinal, que me lembre, foi com o Caldas (1958), com o Benfica (1962), com o Varzim (1966), com o Barreirense (1974), com o União de Leiria (1980), com o Salgueiros (2000). Como se vê, o Sporting já está habituado a vencer campeonatos na última jornada. Será hoje com o Vitória de Guimarães? Vamos conquistar o 25!