Regresso dos jogadores das seleções aos clubes requer diferentes estratégias consoante tenham ou não tido sucesso. Foto: Miguel Nunes

Competições internas 'versus' jogos de seleções nacionais

'Tribuna livre' é um espaço de opinião em A BOLA aberto ao exterior, este da responsabilidade de José Neto, Metodólogo de Treino Desportivo; Mestre em Psicologia Desportiva; Doutorado em Ciências do Desporto; Formador de Treinadores FPF e UEFA; Docente Universitário – Universidade da Maia; Embaixador Nacional para a Ética e Fair Play no Desporto

Volto a um tema que me parece de extrema importância na planificação e periodização das cargas de treino e suas adaptações para atletas que por motivos das suas convocatórias em jogos das seleções de seus países, intervalaram o processo normal das competições e daí um assunto de reflexão na planificação ou estruturação do modelo de treino desportivo a adotar.

Verificamos nas convocatórias tidas em causa, e no que diz respeito aos cognominados clubes a lutar de forma efetiva para a conquista do título nacional, que o Benfica foi o clube com mais jogadores convocados, no total 15 (11 seleção A e 4 nos sub 21); o Sporting no total com 13 (9 na seleção A e 4 nos sub 21) e FC Porto com 12 (10 na seleção A e 2 nos sub 21).

Tendo em conta que, no processo de inserção nas respetivas seleções, os jogadores estiveram sujeitos a uma média de 8 a 10 dias de interrupção de rotinas presenciais de treino no seu clube de origem e pelo facto de passarem a ser enquadrados noutros perfis de exigência técnica, tática, competitiva e emocional, com distintas equipas técnicas e por vezes com diferentes objetivos de conquista, podem ver comprometidas algumas respostas comportamentais, nomeadamente ao nível do espírito de coesão de grupo, que nalguns casos o vapor do êxito propaga e acalenta e noutros casos a marca do insucesso dissimula e constrange.

Depois, temos os jogos das respetivas seleções realizados (quando, para tal, os jogadores foram ou não chamados a intervir), a definição do resultado conseguido (positivo ou negativo) e a consequente resposta referente ao rendimento obtido, sabendo-se que, em todas as situações, as consequências de um rendimento superior conduzem a futuros e melhores desempenhos, podendo vir a ser mais desafiadores e perdurando com mais eficácia a qualidade do futuro que o suporta.

É claro que tudo isto pode ser um elemento de estudo e reflexão para o regresso de funções ao clube de origem, não falando tão pouco de uma ou outra lesão ou algo que possa ocorrer como possível indisponibilidade a curto prazo, pois, como temos vindo a referir, em termos de planeamento gerir comportamentos após os êxitos conseguidos é completamente distinto de gerir frustrações após os insucessos apresentados.

A anotar ainda a atenção para os locais dos jogos realizados, as viagens de longas durações por parte de alguns jogadores selecionados, as alterações climáticas detetadas e os consequentes fusos horários a ultrapassar pelo jet lags existentes, que globalmente conduzem a situações de dessincronização dos ritmos biológicos, gerando manifestações de fadiga, perturbações do sono, maior dificuldade de concentração, maior irritabilidade ao desgaste, maior perceção à ameaça, diminuição do estado de alerta, alteração do ritmo cardíaco, etc…

Felizmente que, quer ao nível das seleções, quer ao nível dos clubes, verificamos a existência de equipas pluridisciplinares de suporte, potencialmente autenticadas de rigor e competência técnica e científica, transformando-se em autênticos baluartes na readaptação dos jogadores, para a retoma das suas valências anteriormente justificadas.

Mas, por demais metodologias físicas, atléticas, táticas, fisiológicas, funcionais e comportamentais que se dispõem atualmente na recuperação desses atletas, creio bem que o estado de autoconfiança, o desejo e motivação para a partilha e consolidação dos caminhos do sucesso, o estado de alma, o espírito de equipa e o eco de presença daqueles que lhe estão próximos, ainda é capaz de provocar uma força suplementar aglutinadora para a consecução dos êxitos anteriormente obtidos.

Estejamos, contudo, atentos, quer ao rendimento dos jogadores nas respetivas seleções, quer à retoma competitiva nos clubes de origem, pois nem sempre qualquer processo, por mais científico que se possa apresentar, será suficiente para esclarecer muitas dúvidas e algumas incertezas, cujas respostas se encontram em céu aberto.

Refirmo, contudo, o que tenho vindo a justificar ao longo do tempo: qualquer que seja a equipa que esteja movida por princípios de lealdade, identificada por sentimentos de orgulho cooperante e participativo, comprometida por um elevado sentimento profissional e reconhecida por uma identidade coletiva demolidora, esta sim, creio mesmo que se obrigará a responder de forma mais abrangente nesta tríade que suporta o êxito: mais oxigénio nos pulmões, mais sangue nas veias e mais crença nos sentimentos.