Pedro Proença, sucessor de Fernando Gomes na presidência da Federação Portuguesa de Futebol, acena aos jornalistas
Pedro Proença é o presidente da Federação Portuguesa de Futebol (Foto: LUSA)

Ciclos

Sentido de Pertença é o espaço quinzenal de opinião de André Coelho Lima, associado do Vitória SC, jurista e empresário

1 — Toca-me escrever após a tomada de posse de Pedro Proença como Presidente da Federação Portuguesa de Futebol que é, também, o final do período de liderança de Fernando Gomes como Presidente da FPF. A maioria dos discursos circunstanciais são voltados para o futuro, eu queria voltar estas linhas para o passado. É justo e devido reconhecer a Fernando Gomes o legado magnífico à frente da Federação.

 Lembro-me de todos os presidentes desde Silva Resende e de facto, é absolutamente inequívoco que Fernando Gomes mudou em absoluto a face e a imagem do futebol português e a própria imagem da Federação. A Federação Portuguesa de Futebol está ao nível das melhores do Mundo, como assinalou Roberto Martínez, e isso deve-se sobretudo ao trabalho tão discreto quão eficiente que Fernando Gomes soube desenvolver. 

Desde os conseguimentos patrimoniais como a edificação da Cidade do Futebol e a criação do Canal 11 até às conquistas desportivas onde pontifica a conquista do Campeonato Europeu de Futebol em 2016, do Campeonato do Mundo de Futebol de Praia em 2015 e o Campeonato Europeu de Futsal em 2018.

Portugal atingiu desportivamente o patamar que sempre soubemos ser o nosso, mas que por um misto de incapacidade organizativa e instabilidade diretiva, raramente atingia. Conseguimos durante estes quase 14 anos a estabilidade e a estratégia que permitiu que Portugal acompanhasse, na dimensão estrutural e organizativa, o brilhantismo inato dos nossos atletas. Acompanhado quase até final pelo profissionalismo eficientíssimo do ainda mais discreto Tiago Craveiro, Fernando Gomes deixa a Federação com um legado de inolvidável sucesso: financeiro, desportivo, infraestrutural e sobretudo organizacional. E é no momento em que abandona esta posição e todos os encómios se dirigem aos vindouros, que creio ser mais devida estas homenagem; sobretudo, por ser justa.

2 — É naturalmente devida uma palavra de felicitações e expectativa face ao novo Presidente, Pedro Proença. De cuja intervenção destaco dois desafios, que considero absolutamente nevrálgicos para o desenvolvimento próximo do futebol português: 

Centralização dos direitos televisivos: sendo embora esta uma matéria da Liga de Clubes (de que Pedro Proença acaba de sair) este será porventura o tópico de maior relevância para o futuro da competitividade do futebol português. Se soubermos negociar os direitos televisivos como um todo e deixarmos a pequenez de cada um o fazer por si; se soubermos escolher um broadcaster que queira apostar e potenciar o espetáculo e não apenas distribuir dinheiro; se soubermos o valor qualitativo imanente que tem o futebol português e não negligenciarmos a dimensão estética do espetáculo que passa na televisão; atingiremos uma proposta vantajosa para todos e capaz de potenciar um crescimento económico do futebol português para poder ter melhores condições de competitividade com os principais campeonatos. 

«PRR para infraestruturas desportivas»: assim o designou Pedro Proença e que eu considero da maior relevância se aliado ao ponto anterior. Sou de opinião que deve ser preocupação da FPF, em conjunto com a Liga, pugnar pela criação e disponibilização de uma espécie de modelo pré-aprovado de estádio de futebol para as divisões inferiores, voltado para a vertente espetáculo, fortemente financiado em colaboração com as autarquias, com lotação-limite que nunca ultrapasse os 3.000 espetadores, num modelo uniformizado que possa ser espalhado pelo país. Descaracteriza mas valoriza. 

Faltou referir o tópico mais relevante de todos: o desporto escolar. Deixo para futuras intervenções do novo Presidente da FPF e eu próprio abordarei em momento ulterior.

3 — De caminho, o V.Guimarães empatou no Estádio do Dragão, num jogo repartido, com maior domínio territorial do FC Porto e com a principais jogadas de perigo a pertencerem ao Vitória. Apesar disso o resultado acaba por ser lisonjeiro para o FC Porto. Há um golo anulado por uma fora de jogo absolutamente forçado e um outro golo praticamente feito que Otávio (com uma excelente exibição) salva mesmo em cima da linha. 

Deste jogo, além da exibição magistral de Filipe Relvas, a demonstrar o acerto de mais esta contratação de inverno, retiro essencialmente que o Vitória construiu equipa. O empate em casa contra o SC Braga revelou um Vitória que, apesar de ter dominado o jogo todo, não quis correr o risco de perder. No Dragão já vimos um Vitória mais solto, mais confiante, mais entrosado. 

É absolutamente natural que o mercado de janeiro tivesse feito mossa na equipa, sobretudo com a perda do treinador. Tal como na Federação, também no Vitória entrámos num novo ciclo, Luís Freire está a revelar ter sido a opção correta e a equipa parece finalmente… equipa. 

Já enturmaram os novos jogadores, já foram criadas dinâmicas, já se sente a equipa mais solta e a jogar o futebol que sabemos ser capaz de jogar. Faltam vitórias! Temos muito caminho para percorrer, temos um percurso dificílimo pela frente, mas o jogo de ontem demonstrou um Vitória à altura do que já vimos esta época e preparado para o tanto que ainda nos falta disputar. Força Vitória!