A prateleira brasileira
A 11 de dezembro de 2024, o Pachuca bateu o Botafogo por 3-0 no dérbi das Américas, o nome pomposo que a FIFA atribui à meia-final da nova (ou velha) Taça Intercontinental. Sim, aquele mesmo Pachuca que no Mundial de Clubes que decorre por estes dias, seis meses depois, somou zero pontos. E aquele mesmo Botafogo que, sob as ordens de Renato Paiva, bateu o Paris Saint-Germain e se apurou para os oitavos de final.
Nas edições do Mundial de Clubes de 2016 a 2023, o representante europeu levantou consecutivamente o troféu. Nas finais, bateu, em metade delas, o clube sul-americano, nomeadamente Grêmio, Flamengo, Palmeiras e Fluminense. E, na outra metade, os campeões asiáticos, Kashima Antlers, Al Hilal e Al Ain, e o Tigres, campeão da Concacaf.
No total, desde que em 2000 o modelo com campeões de todos os continentes foi iniciado, a América do Sul ganhou quatro vezes — a última das quais o Corinthians sobre o Chelsea, num distante 2012 — e a Europa 16. Já o vice saiu em 11 ocasiões da Conmebol, três da UEFA e seis de outras confederações, quatro delas, como foi dito acima, nas últimas oito edições.
É justo então concluir que a América do Sul, além de perder de vez a luta com a UEFA pelo domínio mundial, depois de na antiga Intercontinental ter ganho mais troféus (22) do que os europeus (21), estava também a perder a posição de segunda força — tanto que asiáticos, africanos, e centro e norte-americanos começaram a reclamar por serem obrigados a jogar mais uma eliminatória do que os sul-americanos.
Este Mundial de Clubes deve, agora que os jogos aquecem não apenas no termómetro, manter distâncias entre a Europa e o resto do mundo. Mas servirá também para que a América do Sul, ou pelo menos o Brasil, uma vez que a dupla argentina Boca Juniors-River Plate desiludiu no campo (nas bancadas, pelo contrário, nunca desilude), se destaque outra vez dos demais continentes.
Num formato de grupos — e não apenas em mata-mata — e a meio da época — e não no fim dela, quando os clubes locais já levam às vezes 70 ou mais jogos nas pernas — o Brasil, com quatro apurados em quatro participantes, vem provando que está noutra prateleira.
Não é a prateleira dourada de PSG, Manchester City, Bayern, Inter ou Real Madrid, mas é a outra logo a seguir, onde estão os grandes portugueses e os não tão grandes das ligas top-5. E, em condições normais, uma ou duas prateleiras acima de centro e norte-americanos (dois apurados em cinco) asiáticos (um apurado em quatro) ou africanos (nenhum em quatro).
Que venham os oitavos para mais definições.