A época de Léo Gamalho e de Éder Citadin dava um filme
De película. Histórias para um bom argumento cinematográfico ou mesmo para uma série. Léo Gamalho e Éder Citadin são os protagonistas. Têm ambos 37 anos e são avançados. Com muitos golos. São os melhores marcadores das respetivas equipas e festejaram, em jornadas consecutivas, subidas de divisão.
Primeiro, Léo Gamalho, ponta de lança do Vitória, já campeão da Série B. Um título inédito no rico historial do clube de Salvador que, volvidos cinco anos, garantiu o regresso à elite.
São 12 golos e duas assistências de Léo Gamalho em 35 jogos oficiais. O último naquele que assegurou, matematicamente, a promoção, em Novo Horizonte (município de São Paulo), frente ao Novorizontino.
Nada que surpreenda, já que o jogador natural de Porto Alegre sempre foi goleador por onde passou, até mesmo numa breve experiência no futebol português, entre o verão de 2007 e o início de 2009, com 31 golos em 53 jogos com as cores do Atlético de Valdevez (2.ª Divisão), clube entretanto extinto mas que na altura era dinamizado pelo saudoso empresário Manuel Barbosa.
Antes, Léo Gamalho já tinha jogado na Argentina e na Colômbia, depois de Portugal também experimentou China, Uruguai, Coreia do Sul e Catar. Sempre como artilheiro.
Há poucos dias, foi a vez de o Criciúma assegurar também o regresso à elite, onde não figura desde 2014. Com um jogador da formação a apontar o primeiro golo na vitória por 3-0 sobre o Botafogo, de Ribeirão Preto. Éder Citadin, italo-brasileiro natural de Lauro Muller, em Santa Catarina, foi júnior do clube, viveu por baixo das bancadas do Estádio Heriberto Hülse, recorda o seu lugar na arquibancada em criança e é adepto assumido do emblema catarinense, onde voltou depois de 18 anos longe de casa, cumprindo o seu papel no futebol e fazendo história na Europa (defendeu as cores de Itália, por exemplo, no Euro-2016) e na China (foi campeão ao serviço do Jiangsu Suning).
Lesões, cirurgia e cancro de pele
Mas vamos por partes. Ídolo por onde passou, Léo Gamalho regressou a Salvador no início do ano para defender, pela primeira vez, o Vitória, depois de em 2015 ter representado o rival Bahia. Trazia um recente lastro de sucesso da passagem pelo Coritiba (foram 40 golos e quatro assistências em 92 jogos oficiais) mas os primeiros tempos no Barradão não foram fáceis.
Novo clube, lesões musculares, afastamento prematuro das decisões no estadual, Copa do Brasil e Copa do Nordeste, cirurgia ao braço, depois de um choque numa barreira metálica no decorrer de um treino e, a meio do ano, a confirmação de cancro de pele, que obrigou o avançado, de novo, a passar pela sala de operações.
Léo Gamalho viveu tudo isto em 2023 ao serviço do Vitória. Como o próprio jogador classificou, ainda no relvado do Barradão, na festa de consagração do título – triunfo frente ao Sport, por 1-0, com o ponta de lança a ser poupado por conta de uma lesão no joelho –, a temporada teve «roteiro de filme» e terminou com um final feliz.
«Uma coisa, para mim, que eu achei que era o fim. Foi o começo de uma história linda de superação», reconheceu Léo Gamalho, na festa do título do Vitória, citado pelo Globo Esporte. «Foi uma caminhada fantástica e histórica. É um roteiro de filme. Começar daquela maneira, com um dos maiores fiascos da história, e terminar com uma das maiores glórias da história do Vitória», destacou ainda, antecipando a notícia por que todos os adeptos ansiavam: «Tenho contrato renovado e prometo fazer o melhor que puder no clube. Espero corresponder e dar alegrias ao torcedor.»
Emoção de criança no regresso a casa
A história de Éder Citadin é também sedutora para um bom argumentista. O goleador cresceu no Criciúma, viveu por baixo das bancadas do estádio, antes de partir para Itália em 2006 (Empoli, Frosinone, Brescia, Cesena, Sampdoria e Inter de Milão).
Na Europa, Éder Citadin jogou na Liga dos Campeões, naturalizou-se italiano, representou a squadra azzurra no Euro-2016 (26 jogos e seis golos por Itália). E ainda foi campeão na China, onde jogou três anos no Jiangsu Suning (entretanto extinto no pós-pandemia de Covid-19). E só depois voltou ao Brasil para representar o São Paulo (duas épocas) e conquistar o Paulistão de 2021 pelo clube do Morumbi.
Éder Citadin pensava no final de carreira quando foi desafiado, em janeiro, a voltar a casa. Para um final épico, com a subida de divisão do Criciúma. Mais uma vez, como pura magia do acaso, o futebol proporciona-nos um roteiro digno de filme.
«Há quanto tempo eu esperava por este dia? Quantas voltas dei ao mundo antes de voltar para casa e retribuir só um pouquinho do que o meu clube do coração me deu. Hoje, aos 37 anos, sinto a emoção de um menino começando no futebol e isso devo-o ao Criciúma», escreveu Éder Citadin nas redes sociais. Emoção que pode levar o avançado a adiar, por um ano, a decisão de pendurar as chuteiras, regressando em 2024 com o Criciúma à elite do futebol brasileiro.