«Não tenho palavras para descrever o que senti após ter batido o recorde», diz Agnes Jebet
Agnes Jebet, de verde, a treinar-se na pista de Eldoret (DR)

«Não tenho palavras para descrever o que senti após ter batido o recorde», diz Agnes Jebet

ATLETISMO13.02.202417:22

A queniana bateu o recorde do mundo dos 10 km em estrada (corridas mistas) e ainda não acredita no tempo que fez; «Agora quero trazer o primeiro ouro para o Quénia», diz

Agnes Jebet, 23 anos, sorri, quase envergonhada, quando lhe pedimos para desvendar o que sentiu quando, a 14 de janeiro deste ano, em Valência, bateu o recorde do mundo dos 10 km em estrada, prova mista. O cronómetro parou aos 28.46. «Honestamente, continuo a não ter palavras para descrever o que senti após ter batido esse recorde. Senti uma felicidade tremenda, mas não esperava aquela marca, foi uma autêntica surpresa para mim», diz, em conversa com A BOLA.

A seguir, ainda envergonhada, mas sempre sorridente, avança com aquilo de que estava à espera. «A minha ideia era aproximar-me do recorde do mundo, sim, mas nunca me passou pela cabeça fazer 28.46. Este tempo estava acima de qualquer expectativa, disse Agnes. «Quando vi o tempo de passagem aos 5 km [14.13], não me assustei, apenas fiquei um pouco mais motivada para continuar a forçar até ao final», esclarece.

Agnes tornou-se na primeira mulher a baixar dos 29 minutos na distância, melhorando em 28 segundos o anterior recorde mundial de corrida mista, estabelecido pela etíope Yalemzerf Yehualaw em 2022. «Andava a lutar por algo assim há já algum tempo. Bati o recorde em Brasov, mas chegaram à conclusão de que a distância estava mal medida [menos 25 metros]. Não foi o fim da minha vida, mas deixou-me um pouco frustrada». Agora, a queniana vai concentrar-se no Campeonato Mundial de corta-mato, que se disputa em Belgrado, a 24 de março. «Quero melhorar a medalha de bronze que alcancei no ano passado», esclarece em conversa com A BOLA.

A atleta queniana revela as dificuldades que sentiu, inicialmente, para poder dedicar-se ao atletismo. «Comecei a correr por volta dos 14 anos, no local onde nasci, mas não era ainda nada sério. Corria apenas para me divertir e fugir um pouco das dificuldades da minha infância. Quem sempre me puxou muito para correr foi a minha mãe», revela no Kechei Center onde está instalada.

Agnes no Kechei Center, em Iten (DR)

«Venho de uma família muito pequena, era apenas eu e a minha mãe, porque o meu pai morreu muito cedo. Foi um período muito complicado para mim e para a minha mãe, pois tínhamos de fazer tudo sozinhas. Houve muitas dias em que não fui à escola porque era preciso encontrar qualquer coisa para podermos comer. Fosse o que fosse», admite, sem ponta de amargura.

Dois anos depois conhece Julien Di Maria, treinador francês e dono do Kechei Center de Iten, e a sua carreira muda radicalmente. Julien, em conversa com A BOLA, revelara que, quando viu Agnes correr, notou «algo de muito especial». Perguntámos a recordista do Mundo se nos poderia desvendar o que ele vira nela. Agnes sorri e diz: «Julgo que ele, quando me conheceu e me viu correr, reparou que eu tinha talento para as corridas. Corria forte e sempre de pés descalços. Ele deve ter concluído que, se eu corria assim tão forte de pés descalços, poderia ir longe, caso treinasse ainda mais forte e com outras condições.»

Dentro de menos de seis meses, a 9 de agosto, em Paris, disputa-se a final dos 10 000 metros. Agnes Jebet é uma das candidatas a ganhar uma medalha na pista do Stade de France. E está confiante. «Tudo é possível, se me mantiver focada e sem lesões. A principal competição de 2024 será, para mim, os 10 000 metros de Paris. Farei tudo para trazer a primeira medalha de ouro na distância para o meu país. Vai ser duro, eu sei, mas quero lutar pelo ouro ou, no mínimo, por uma medalha», confessa a A BOLA.