Entrevista A BOLA Ricardo Duarte: «Somos sul da Europa, somos paixão, emoção, calor»
Técnico do Lahti, da Finlândia, em conversa com a A BOLA
Ricardo Duarte, treinador do Lahti, da Finlândia, fala sobre o projeto de manutenção que abraçou num clube que precisava de uma mudança. Não perdeu nenhum dos últimos seis jogos e, a A BOLA, fala de como é voltar a trabalhar no país nórdico, onde já tinha estado anteriormente, nas diferenças que encontrou e admite sentir-se «perfeitamente capaz e preparado» para treinar no campeonato português.
Voltou agora para a Finlândia para treinar o Lahti. Como surgiu o convite?
- As pessoas conhecem-me por lá. Fiz bons trabalhos, com clubes modestos, sempre a fazer trabalhos acima daquilo que é a história desses clubes ou desses orçamentos e, portanto, as pessoas conhecem-me bem. É um mercado onde tenho trabalhado e tenho tido algum sucesso, e, naturalmente, as pessoas terem vindo até a mim. O FC Lahti estava no último lugar na tabela, sob a ameaça de descida. Nesse sentido, como eu também já tenho alguma experiência neste tipo de situações normalmente bem-sucedidas, acabaram por me contactar.
Leva 10 jogos no Lahti e, nos últimos seis, não teve qualquer derrota. É uma viragem muito grande.
- Sim, é uma viragem grande, porque a equipa tinha muitos problemas. O clube estava muito em baixo e ainda não conseguimos subir muitas posições, mas já fugimos do último lugar. O penúltimo ainda é um lugar de risco de descida, mas o aumento na tabela foi muito visível. Faltam cinco jogos, vamos ver o que sai.
Como se trabalha com uma equipa desmotivada depois da primeira metade do campeonato?
- Eu costumo dizer que, quando as equipas estão nestas posições, não é por acaso. É o terceiro ano consecutivo em que o Lahti está neste tipo de situação, da ameaça de descida. O meu diagnóstico foi muito claro, o clube precisava de uma renovação na cultura de trabalho. Foi por aí que começámos, com o diagnóstico daquilo que eram os problemas da equipa.
Há satisfação e vontade de continuar com o projeto para o ano?
- Neste momento, apesar da posição da tabela não ser muito estável ainda, as pessoas estão muito satisfeitas no clube e já me começam a falar de renovar. Neste momento, estou muito focado em confirmar a permanência para depois podermos conversar seriamente sobre isso. Da minha parte, não há nada definido, mas do lado do clube, a intenção é clara.
O mercado finlandês é cada vez mais atrativo para os portugueses? Jordão Cardoso, por exemplo, é jogador do Lahti.
- O jogador português está um pouco por todo o mundo, porque há muitos jogadores de qualidade e não há assim tantas ligas profissionais em Portugal. O caso do Jordão é um exemplo de um jogador que tem qualidade para andar acima daquilo que tem andado nos últimos anos, na Liga 3. Há outros jogadores portugueses aqui na liga com mais e menos qualidade, com maior e menor visibilidade. Não deixa de ser uma primeira liga europeia, onde os jogadores podem encontrar uma plataforma para se desenvolver, para se projetar, mas eu acho que é uma característica natural de um jogador português, que acaba por emigrar na procura do seu sonho, da afirmação da sua carreira. No fundo, é o mesmo que os treinadores fazem, não é?
Como se vive o futebol na Finlândia, comparando com Portugal?
- É diferente porque, culturalmente, as pessoas também são diferentes aqui. Nós somos sul da Europa, somos paixão, emoção, calor. Todas essas características caracterizam os portugueses e os povos do sul da Europa. Os nórdicos são mais baseados na lógica, menos das relações interpessoais. São pessoas que expressam menos as suas emoções e as suas paixões. Agora, é claro que as pessoas quando vão ao estádio cantam pela sua equipa, também dizem as suas coisas aos árbitros quando lhes apetece, portanto não deixa de ser um ambiente típico do futebol. As claques também se comportam como claques, portanto é um ambiente muito normal. Acho que, onde há futebol, existe paixão, existe emoção. O Lahti tem a claque organizada mais antiga do país. Ainda agora, neste último jogo fora, a nossa claque tinha mais adeptos do que a da equipa da casa. É sempre bom jogar em casa mesmo estando fora.
Gostaria de voltar ao futebol português?
- Sim, claramente. Já houve alguns contactos, mas nada acabou por se materializar, mas voltar ao futebol português seria sempre uma ideia muito interessante.
Só considera voltar se for para a Primeira Liga?
- Não necessariamente, porque a Primeira Liga é extremamente competitiva. Temos de entender que a Primeira Liga é uma das melhores primeiras ligas da Europa, não é? Não é que eu não me sinta capaz, sinto-me perfeitamente capaz e com experiência e habilidade suficiente para isso, mas vir diretamente do estrangeiro para uma Primeira Liga em Portugal não é muito comum. Um projeto na Segunda Liga seria também muito interessante.