Jogo particular pré-época Sporting-Celtic no Algarve (foto Carlos Vidigal Jr. / Kapta+)

Primeiro de muitos degraus que o ‘novo’ leão deve subir (crónica)

Rui Borges quer um futebol diferente do de Amorim e está a criar condições para consegui-lo. Mas vai precisar de tempo para que os jogadores interiorizem as suas ideias, especialmente no processo defensivo...

Os resultados, nos jogos de pré-época, valem o que valem, e valem sempre menos do que os progressos que as equipas apresentam. Naturalmente, os vencedores saem mais satisfeitos e os vencidos podem ser assaltados por algumas dúvidas, sendo esse o maior perigo, apenas combatido por convicções fortes, que ultrapassem as derrotas e apontem ao objetivo delineado. 

Na época passada, Rui Borges, logo que recebeu a equipa de João Pereira, tentou desfazer a defesa a três de Ruben Amorim e as dinâmicas que lhe estavam associadas, substituindo-as por um modelo diferente. Teve, porém, a inteligência e a humildade de reconhecer que era difícil mudar de via com o comboio em movimento, regressou à primeira forma e acabou a celebrar a dobradinha.

Mas a forma como vê o futebol não se alterou, e nesta temporada está a construir um Sporting diferente do que vimos nos últimos anos. Basicamente, o 3x4x3 passa a 4x2x3x1, e há jogadores que vão ser chamados a novas funções na equipa.  

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‘POTE’ e HJULMAND 

Do que foi possível ver na partida com o Celtic, o primeiro jogo formal dos leões em 2025/26, há pelo menos dois jogadores que vão ter de adaptar-se às novas ideias: Morten Hjulmand, que tem de defender uma zona mais alargada na proteção à baliza de Rui Silva; e Pedro ‘Pote’ Gonçalves, que passa a ser o ‘joker’ da equipa, tanto podendo situar-se nas costas ou ao lado do ponta-de-lança, como atuar onde perceba que pode criar superioridade numérica.

Com este novo desenho apaga-se mais Trincão, ao mesmo tempo que os laterais perdem protagonismo. Porém, se a equipa vier a ser capaz de fazer bem o que contra o Celtic fez mal – sendo mais pressionante e menos vulnerável às transições ofensivas do adversário, e circulando a bola com maior velocidade – tem jogadores capazes de interpretar bem o que o treinador quer.

Pré-época Sporting-Celtic no Algarve (Foto Carlos Vidigal Jr./Kapta+)

Mas, então, o que falhou contra os pentacampeões da Escócia, que jogam com a filosofia de uma equipa sul-americana, com a bola a passar de pé para pé, sempre à procura de passes verticais que rompam linhas? Essencialmente, o Sporting não teve capacidade física para não deixar o adversário jogar, foi demasiado permeável a meio-campo, e limitou-se a algumas boas iniciativas, pontuais, perante um Celtic que, apesar de ter o primeiro jogo oficial cinco dias depois dos leões, está claramente mais adiantado na preparação.

Nesta fase da época, uma semana que seja a mais no processo de treino faz grande diferença, e é por aí que deve ser explicado o cinzentismo do Sporting, que nos confrontos que se seguem irá revelar uma capacidade diferente, para melhor. 

Com o Celtic a adotar uma tática muito semelhante à do Sporting, mas com uma dinâmica uns furos acima, a primeira parte decorreu com predomínio escocês, contraditado em várias ocasiões pelo bicampeão nacional, e a maior surpresa foi que a partida fosse para o descanso empatada a zero, quando o Celtic dispôs de quatro oportunidade de golo e o Sporting de duas. Aliás, Kasper Schmeichel brilhou com intensidade ao minuto 31, a evitar o golo num remate cruzado de Catamo, e Rui Silva opôs-se com enorme qualidade a uma bomba de Maede, que se isolou pela meia-esquerda. 

CELTIC CONSISTENTE 

No segundo tempo, apesar de ter 19 jogadores no banco (Rui Borges tinha nove) Brendon Rodgers fez o mesmo número de trocas que os leões, curiosamente simétricas: ambos os técnicos mudaram de guarda-redes e de ponta-de-lança. Mas seriam os escoceses a terem um reinício mais feliz, quando St. Juste foi imprudente e fez penálti sobre o recém entrado Kenny, que o japonês Hatate não desperdiçou (que perto esteve Israel de defender...). 

Aos 58 minutos, quando o Sporting vivia em manifesto défice físico, procurando em Harder a solução que antes lhe era dada por Gyokeres (teve um remate fulminante ao poste das redes de Sinisalo), Rui Borges lançou o georgiano ex-Levante, Kochoreshvili, que sem ter deslumbrado deixou boa sensações, uma das quais a possibilidade de vir a ser usado em simultâneo com o capitão leonino.

Mas o Celtic refrescou a equipa (nove substituições aos 68 minutos), limitando muito a capacidade de construção dos leões. Como, aos 71 minutos, uma belíssima jogada de McGowen acabou no 0-2, poucas dúvidas passaram a subsistir quando ao vencedor da partida: ia ganhar a equipa mais adiantada na preparação e que revelava menos dúvidas quanto a um processo de jogo que tem sedimentado há vários anos. 

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